A melhor defesa é o ataque. Foi a estratégia de dois antigos presidentes da Caixa Geral de Depósitos (CGD), nesta semana, na segunda comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco. Tanto Fernando Faria de Oliveira como Carlos Santos Ferreira contestaram as conclusões da auditoria especial da EY, que detetou perdas de 1,2 mil milhões em 25 grandes créditos de risco do banco público.
Faria de Oliveira, que liderou a CGD entre janeiro de 2008 e julho de 2011, disse ontem, perante os deputados, que o relatório da EY aos atos de gestão entre 2000 e 2015 “tem vícios evidentes” e “conclusões erradas” que evidenciam “o quadro mental e a perceção de quem tem de fazer a avaliação”.
O banqueiro, que foi ainda chairman da Caixa entre 2011 e junho de 2013, acusou o trabalho da auditora de ser “enviesado” e “descuidado”. E exemplifica com a não distinção de mandatos e a falta de comparações próprias com os outros bancos do sistema – argumentação que já tinha sido apresentada pelo seu antecessor na liderança da CGD.
Carlos Santos Ferreira, presidente do banco entre agosto de 2005 e janeiro de 2008, defendeu que “o relatório da EY é factual, mas factualmente infeliz”. O banqueiro, que saiu do banco público diretamente para o BCP, foi ouvido pelos deputados na terça-feira. Afirmou que o relatório tem “dados omissos, dados errados, dados contraditórios, indutores de erros e pouco profissional”. Criticou a EY por ter “dado origem a um espetáculo que não dignifica a CGD” e deu alguns argumentos; refutou as conclusões de que a remuneração variável no banco entre 2000 e 2008 não seguia princípios orientadores e que essas decisões foram tomadas de forma avulsa; rejeitou ainda a conclusão da EY de que tenham sido concedidos empréstimos sem o parecer da direção de gestão de risco e sem fundamentação. “Era praticamente impossível que tal acontecesse”, afirmou. E concluiu que “o relatório da EY é factual, mas factualmente infeliz”.
O argumento da crise
A auditoria identificou alguns dos anos da era Santos Ferreira como os que originaram mais créditos problemáticos no banco público, incluindo financiamentos concedidos sem as garantias suficientes para a compra de ações do BCP. Berardo foi um dos beneficiários.
O antigo presidente da CGD e depois do BCP tentou contextualizar essa conclusão: “Seria quase impossível que assim não fosse por causa da crise.” E rejeitou que esses empréstimos tenham sido concedidos para financiar o “assalto ao BCP”, que diz ser uma teoria e uma “frase fácil que tem como objetivo ocultar o que se passou”.
O argumento da crise foi também utilizado por Faria de Oliveira para justificar as perdas sofridas em algumas operações feitas com o aval da sua administração, como a do financiamento à construção da fábrica da La Seda em Sines.
O banco público terá financiado mais de 500 milhões na empresa catalã e na infraestrutura em Sines. No final de 2015, as perdas superavam os 200 milhões de euros. O atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos culpou a crise internacional pelas perdas sofridas com esse projeto.
Apesar dos problemas causados na CGD, o banqueiro considera que a construção da fábrica petroquímica teve racionalidade económica e vai ser importante para a economia portuguesa. Já em relação aos prejuízos com empréstimos para a compra de ações do BCP, Faria de Oliveira disse que vinham já da anterior administração e salientou a queda anormal do valor dos títulos do banco como o motivo para as perdas.
O banqueiro justificou os projetos em que se perdeu dinheiro como “o período mais crítico da maior crise financeira dos últimos cem anos”.
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