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Boas notícias no mundo do calçado. O setor exportou, nos primeiros seis meses do ano, 40,1 milhões de pares de sapatos, no valor de 956,9 milhões de euros, o que representa um crescimento de 21,4% em quantidade e de 27,5% em valor. Os dados são do Instituto Nacional de Estatística e mostram que o preço médio de exportação cresceu 5% para 23,85 euros por par.
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Números que parecem indicar que a indústria está de volta ao trilho do crescimento. Depois de ter registado, em 2017, o seu melhor ano de sempre nos mercados externos, com vendas de 1956 milhões de euros, seguiram-se anos em rota descendente. A pandemia apanhou o setor no que parecia ser a inversão dessa tendência, mas, dois anos passados, tudo indica que os bons resultados estão aí.
A manter-se a dinâmica atual, 2022 promete ser um ano recorde. Só nos primeiros seis meses, foram exportados já mais de 3,5 milhões de euros do que no primeiro semestre de 2017.
“Temos, neste primeiro semestre, indicadores muito positivos e que nos reforça a expectativa de que 2022 será um ano de forte crescimento nos mercados internacionais. A verdade é que começámos a preparar este caminho antecipadamente, com fortes investimentos em matéria de sustentabilidade e na área digital, com o objetivo de estarmos um passo à frente da nossa concorrência”, referiu, em declarações ao Dinheiro Vivo, o diretor de Comunicação da APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos.
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Paulo Gonçalves admite que os resultados “indiciam que o setor está no bom caminho”, até porque está “a crescer em praticamente todos os mercados, e de forma muito expressiva nos mercados extracomunitários”. De facto, dos quase 957 milhões exportados entre janeiro e junho, 777 milhões foram para a União Europeia, um aumento de 26,1%, e 180 milhões foram para países terceiros, o que representa um crescimento de quase 34% em relação ao período homólogo.
Mas se formos comparar os dados com 2017, esta performance é ainda mais significativa. É que as exportações comunitárias estão 5,6% abaixo do primeiro semestre desse ano, o melhor de sempre da indústria, mas as vendas para países de fora da UE estão a crescer quase 39%.
Os Estados Unidos são um bom exemplo: estão a crescer 65,9% face a 2021, para um total de 54,5 milhões de euros. O Canadá sobe 31,6% (12,5 milhões) e o Japão 44,6% (4,8 milhões de euros).
Na Europa, destaque para os 218,3 milhões de exportações para a Alemanha (+17,11%), que ascendeu ao primeiro lugar no top dos destinos do calçado nacional, os 185,5 milhões vendidos para França (+30,7%), os 145,7 milhões para os Países Baixos (+31,2%) e os 73,3 milhões para Espanha (+38,5%).
As exportações para a Rússia caíram quase 32%, para 3,275 milhões, e 53,6% para a Ucrânia, não chegando este ano aos 320 mil euros. No primeiro semestre de 2017, o mercado russo valia quase 14 milhões para o calçado nacional e a Ucrânia 1,4 milhões de euros.
Segundo Paulo Gonçalves, as empresas têm “boas previsões” para o segundo semestre e, tirando “situações marginais”, não há anulações de encomendas a preocupar o setor, ao contrário da indústria têxtil e do vestuário (ITV) que encara o segundo semestre com grande preocupação, havendo já empresas em lay-off. A verdade é que, na indústria do calçado propriamente dita, a questão energética não tem a dimensão que tem na ITV.
Preocupações
Tal não significa que não haja preocupações. “Há um conjunto de imponderáveis que nos preocupam. A pandemia não está ainda ultrapassada, a guerra na Ucrânia continua a ser um foco de instabilidade e, depois, em cima disso tudo, temos a inflação descontrolada. São tudo fatores de incerteza e a incerteza é a pior coisa para os negócios”, frisa o responsável.
O preço do calçado é outra das questões a preocupar a associação, que considera que já deveria ter aumentado “substancialmente mais” do que os 5% efetivamente verificados. “Parece-nos que é escasso, relativamente ao aumento dos custos das matérias-primas. A única boa notícia é que o preço do couro terá estabilizado nos últimos meses”, sublinha Paulo Gonçalves.
Questionado sobre o aumento necessário para cobrir o agravamento dos custos de produção – Luís Onofre, empresário e presidente da APICAPS, chegou, em março, a estimar valores na ordem dos 20 a 30% – o responsável de comunicação do organismo diz apenas que “seria necessário que o aumento do preço médio de exportação tivesse sido, pelo menos, o dobro do que foi”.
“As nossas empresas têm procurado encontrar soluções para irem ao encontro daquilo que são as exigências dos clientes internacionais, mas aquilo que lhes recomendamos é que sejam muito rigorosas na definição dos preços. Esta questão é tão relevante nesta altura que, no regresso agora às feiras internacionais para apresentação das novas coleções, já a partir de final de agosto, vamos ter que voltar a renegociar condições e preços com os nossos clientes. Temos que ser muito rigorosos para que as empresas não percam dinheiro nem ponham em causa a sua rentabilidade”, alerta.
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