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As exportações nacionais de calçado estão a cair 10,9% em quantidade e 7,4% em valor, mas o setor está convicto de que 2024 será ano de retoma. No entretanto, a indústria vai-se apresentando nos mercados internacionais, com ações promocionais na Europa, mas também nos EUA, dando a conhecer a sua realidade e os 600 milhões de euros de investimentos que tem previstos até 2030. “Este para nós é o melhor sinal de confiança na nossa indústria”, sublinha o diretor de comunicação da APICCAPS, a associação do calçado.
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Os dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que o setor vendeu ao exterior, até outubro, 58 milhões de pares de sapatos no valor de quase 1581 milhões de euros. São menos 10,9% em quantidade e menos 7,4% em valor, mas há que ter em conta que, em 2022, o calçado teve o seu melhor ano de sempre nos mercados internacionais, com vendas recorde de 2009 milhões de euros e crescimento de 20,2%. O ano de 2023 arrancou em alta, com as exportações a crescerem a dois dígitos, mas, a partir de abril, o mercado abrandou e, embora ainda tenha registado um bom mês em junho, permitindo fechar o primeiro semestre em terreno positivo, a partir de julho o setor acumulou quebras sucessivas, com menos 15%, 27,6% e 26,3% em agosto, setembro e outubro.
“Todos percebemos que os negócios estão maus, para nós e para os nossos concorrentes, mas há que dar algum contexto às coisas e mostrar que, independentemente dos ciclos conjunturais, acreditamos muito na nossa indústria; tanto que estamos a investir os 140 milhões de euros conhecidos no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência, mas que sobem para os 600 milhões, até ao final de década, com os projetos previstos no âmbito do Plano Estratégico do setor”, diz Paulo Gonçalves, que ontem esteve em Madrid, num encontro com a imprensa espanhola, iniciativa que se segue a outras ações realizadas no Reino Unido, Hungria, EUA, França e Itália, entre outros.
A associação admite que os primeiros meses de 2024 serão ainda de “alguma complexidade”, mas prevê que, a partir de abril, as economias possam regressar a “alguma normalidade”. “Há bons sinais de alguns dos nossos principais mercados, com a Alemanha à cabeça, e tudo indica que 2024 será consideravelmente melhor do que foi 2023. Temos a expectativa que os negócios voltem à normalidade, agora é tempo de continuar a fazer o trabalho de casa, de bater à porta dos clientes e de continuarmos a apresentar produtos inovadores a preços justos para que, quando o mercado regressar ao crescimento, Portugal esteja na linha da frente”, sublinha Paulo Gonçalves.
Sobre os investimentos em curso, destaque para a área da sustentabilidade e para o “Compromisso Verde”, o pacto assinado em setembro com cerca de 100 empresas, a que se juntaram entretanto mais de 50, e nas quais estão a ser realizadas auditorias para analisar a sua situação em termos de sustentabilidade ambiental, mas também social. Um diagnóstico que deverá estar concluído até ao final do ano, seguindo-se a fase de apresentação dos planos de ação e a sua implementação nos próximos dois anos. “Em termos de eficiência energética, de diminuição dos consumos de água e no ecodesign estamos a dar já passos muito importantes, mas é preciso fazer mais e só com base nestas auditorias é que temos capacidade para intervir”, sustenta, acrescentando: “O trabalho não parou, só a dinâmica comercial é que ainda não regressou aos níveis que gostaríamos. E essa é a nossa maior preocupação”.
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No total, o setor perdeu 126,8 milhões de euros, nos primeiros 10 meses do ano, com quatro países do centro da Europa a contribuírem com quase 73% deste valor.
Sendo certo que a quebra de vendas é transversal aos principais compradores de calçado made in Portugal, a Alemanha, os Países Baixos, a Dinamarca e a Bélgica foram responsáveis, em conjunto, por perdas totais de 92,3 milhões de euros.
A Alemanha, o principal destino das exportações do setor, está a cair 6,4% para 348,5 milhões de euros, menos 23,9 milhões do que em igual período de 2022. Os Países Baixos têm uma quebra de 12,3%, para 228 milhões de euros, menos 32 milhões do que o ano passado e a Dinamarca está a perder 28,9%, correspondentes a menos 25,3 milhões de euros. As exportações para este país ficaram-se pelos 62,1 milhões. A Bélgica comprou quase um terço a menos do que em 2022, o que implicou uma quebra de 11,1 milhões de euros para 23,8 milhões exportados.
Destaque ainda para as perdas em França, o segundo maior comprador de sapatos portugueses, que está a cair 6%, correspondentes a menos dois milhões de euros, para um total de 326,7 milhões. Espanha perde 4,7 milhões de euros, com as exportações a caírem 3,8% para 118,5 milhões.
Nos mercados extracomunitários há também quebras significativas. O Reino Unido comprou calçado nacional no valor de 97,3 milhões de euros, são 5,1 milhões a menos do que há um ano e representam uma quebra de 5%. E o Canadá e os Estados Unidos, que perdem 10,4% e 8,8%, respetivamente, compraram, este ano, menos 10,8 milhões de euros, ficando-se pelos 106,9 milhões.
Boas notícias só da Austrália. Este é um mercado pequeno, mas que tem vindo a ganhar relevância nos últimos anos e, apesar da recessão na Europa e no mercado norte-americano, os consumidores australianos parecem estar de boa saúde financeira. As exportações de calçado para este destino cresceram 1,2% este ano e aproximam-se já dos sete milhões de euros.
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