Apesar da pandemia e dos tempos de crise para muitos setores, a venda de vinhos na região de Lisboa aumentou devido às exportações.
Segundo o presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, Francisco Toscano Rico, a região atingiu, neste ano 2020, números nunca antes alcançados. “Nos vinhos de Lisboa, vemos claramente um choque assimétrico. Se olharmos ao nível macro, a região como um todo, há aqui um crescimento muito significativo e isso é ótimo por conta muito da exportação, da vocação de internacionalização que a região tem”, conta à Renascença o presidente da CVR Lisboa.
O crescimento situa-se entre os “12% a 13% e sob perspetiva de um final de ano com 60 milhões de garrafas ou mais, estamos a falar do maior recorde de sempre para a história da região de Lisboa, isto ao nível macro, quer no mercado externo quer no mercado nacional”, acrescenta Francisco Toscano Rico.
“Ainda este último mês foram mais de cinco milhões de garrafas colocadas no mercado; é o maior recorde de sempre”, revela.
A pandemia está, no entanto, a refletir-se muito no mercado nacional, no que toca às vendas de vinho como um todo, com quedas na ordem dos 25% em termos de valor e 10% em volume, e Lisboa não foge a essa regra.
“Quem está a ser impactado é, sobretudo, quem depende mais do canal Horeca, ou seja, do canal da restauração”, assinala o presidente da CVR Lisboa, acrescentando que “os produtores mais pequenos ou de média dimensão, mais vocacionados para esse segmento de mercado, estão a ter um impacto monumental com quebras nas vendas superiores a 50%”.
O Natal e Ano Novo são, habitualmente, datas propícias ao consumo de vinho e as vendas tendem sempre a crescer, mas, este ano, as perspetivas não são muito animadoras.
“Há sempre um acréscimo de consumo. É sempre um mês muito forte, o mês de dezembro”, diz Francisco Toscano Rico, alertando, no entanto, para o ano atípico que estamos a viver em todo o mundo.
“Este ano, por conta de todas as restrições ligadas à pandemia, sem os jantares de Natal, sem os encontros de amigos e de familiares e mesmo com o Natal mais comedido em família, embora se perspetive um aumento de consumo, em termos absolutos, face, por exemplo, ao mês de novembro, em termos homólogos, a quebra ainda vai ser maior”, afirma à Renascença o presidente da CVR Lisboa.
Maiores oportunidades estão lá fora
As maiores oportunidades para os vinhos de Lisboa estão “lá fora” e, por isso, neste mês de dezembro, Francisco Toscano Rico acredita que “é sobretudo nos mercados”, onde são mais fortes e estão a crescer, que existe “claramente um potencial de crescimento de consumo, nomeadamente no Brasil, que regista um crescimento acima dos 25%, e na Suíça”.
Mas há outros países, como o Canadá, a Escandinávia, o Reino Unido e os Estados Unidos, onde a venda de vinhos da região está a crescer.
A CVR Lisboa já está a exportar cerca de 85% daquilo que produz, assume uma vocação exportadora fortíssima e este ano ainda saiu “mais reforçada, exatamente até por conta da redução do mercado nacional e do aumento das exportações”, assinala Francisco Toscano Rico.
De acordo com o presidente da CVR, Lisboa já exporta para “mais de 100 destinos diferentes e estamos a falar de quase 50 milhões de garrafas que vão para o mundo inteiro”.
“Já estamos a falar de valores que vão ultrapassar os 80 milhões de euros de exportação e claramente as coisas estão a funcionar, os mercados estão a reconhecer aquilo que é a qualidade da região, em termos dos produtos que oferece, e há uma aceitação generalizada mesmo em países produtores muito fortes no mercado mundial, como a Austrália, para onde, este ano, foram quase meio milhão de garrafas dos vinhos de Lisboa”.
Estamos todos a precisar de celebrar
Para 2021, e com o aliviar das medidas de restrição à mobilidade, a Comissão Vitivinícola da Região da Lisboa antevê que o consumo interno de vinho “retome um bocadinho mais o padrão normal” e que os mercados de exportação mantenham os ritmos de crescimento.
“No mercado nacional, admitimos que possa haver alguma recuperação lenta no primeiro semestre, mas acreditamos que, à medida que haja uma parte significativa dos portugueses já vacinados, que as pessoas vão querer no fundo voltar a viver e voltar a viver é, sobretudo, voltarem a estar todos juntos e celebrar”, observa.
“Independentemente do estado da economia nessa altura, acho que, de um modo geral, todos nós vamos querer comemorar que conseguimos superar isto e sair mais fortes. Acreditamos que no segundo semestre, no mercado nacional, possa ser um bom ano para o setor”, vaticina, acrescentando que o vinho tem essa “característica fantástica que nos aproxima uns dos outros”.
“Estamos todos a precisar disso e com alguma ansiedade, em que esse momento chegue para podermos estar outra vez todos juntos e, por isso, nada melhor do que um copo de vinho, um copo de espumante ou um vinho histórico, um Carcavelos, de uma região das mais pequenas do mundo, que tem um vinho icónico, um vinho licoroso, para celebrarmos esses momentos”, conclui o presidente da CVR Lisboa.
Vinhos do Douro e Porto. Exportação mitiga perdas a nível nacional
Na região do Douro, 2020 veio interromper o “bom ritmo de crescimento, em vendas, em valor e em quantidade”, no que toca aos vinhos do Douro e Porto, afirma à Renascença o presidente do IVDP.
Gilberto Igrejas explica que “fruto da pandemia, houve alguns constrangimentos” que conduziram à alteração dos planos de produção, àquilo que era a dinamização dos vinhos do Douro e do Porto e, claro que, houve expectativas que foram goradas, desde logo com os constrangimentos do canal Horeca, onde houve uma quebra nas vendas do vinho do Porto, principalmente no mercado nacional, comparando com o período homólogo de 2019 e também dos vinhos do Douro”.
O presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto mantém fortes expectativas de que as coisas vão melhorar e nota que, “segundo os dados mais recentes, as piores expectativas não se confirmaram e, portanto, estamos a ter alguma recuperação”.
“E podemos dizer que, nesta altura, os dados das exportações são dados muito otimistas. O mesmo não podemos dizer do canal Horeca, dos hotéis, dos restaurantes e dos cafés. Mas ao nível das exportações, temos dados bastante otimistas que nos fazem esperar que, logo que o quadro pandémico seja abolido, podemos retomar essa onda de crescimento que temos vindo a acumular desde 2019”, adianta Gilberto Igrejas.
O estado de emergência e as restrições previstas para o período de Natal e ano Novo já estão também a ter consequências em termos de vendas, sendo que o “maior impacto tem a ver com o facto de o turismo ter tido uma quebra bastante elevada” e as “vendas, através do canal Horeca, terem diminuído devido à não realização de festas”.
“O que temos estado a tentar fazer é que, através das exportações, as perdas que vamos tendo ao nível nacional, possam ser mitigadas através dos canais de exportação”, indica Gilberto Igrejas, realçando que “fruto da internacionalização do vinho do Porto”, que “abre fronteiras e novos mercados”, vão conseguindo “diminuir o impacto mais negativo” na distribuição ao nível nacional.
Vinhos Douro e Porto “fazem uma simbiose perfeita”
“É uma dupla”, diz Gilberto Igrejas, explicando que há mercados onde, seguramente, os vinhos do Douro abrem a porta aos vinhos do Porto e há mercados onde os vinhos do Porto abrem as portas aos vinhos do Douro.
“O que é importante é que a qualidade e o valor estejam sempre assegurados, que é o caso concreto”, assinala.
O presidente do IVDP adianta que, atualmente, os vinhos do Douro estão cerca de cinco a seis pontos percentuais acima de 2019, “o que mostra bem a resiliência dos vinhos do Douro”.
No caso dos vinhos do Porto, a quantidade exportada, que “no início do ano chegou a ter uma diminuição quase de 10.5%, em maio, conseguimos, ao longo do ano, ir recuperando, fruto de algum investimento ao nível da promoção e da dinamização, e, em novembro, já estamos com uma quebra bastante menor, cerca de 1,4% nas exportações”, revela.
O quadro pandémico, ao longo do ano, foi diminuindo também o prejuízo que os vinhos estavam a acumular nas exportações.
De acordo com o presidente do IVDP, os vinhos Douro e Porto “fazem uma simbiose perfeita”.
“Por um lado, um vinho reconhecidamente internacional, o caso do vinho do Porto, uma marca genuinamente da região, mas que acaba por internacionalizar a marca Portugal, e os vinhos do Douro, os vinhos mais recentes que acabam, hoje, por consolidar também a região e privilegiar muitos pequenos e médios produtores destes vinhos no norte de Portugal”, explica Gilberto Igrejas.
Em termos de números, e com outubro fechado, o presidente do IVDP revela que, no que toca às exportações, o vinho do Porto assume a liderança, com “256 milhões de euros”, enquanto os vinhos do Douro representam “cerca de 56 milhões”.
Ao nível do mercado nacional, “estaremos a falar, no caso do vinho do Porto, de 33 milhões de euros e no caso dos vinhos do Douro, por volta dos 70 a 75 milhões de euros”, afirma Gilberto Igrejas, acrescentando que estes números vão “crescer, seguramente, em 2021.
Captar consumidores mais jovens e alargar os momentos de consumo
O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) tem atualmente em marcha uma nova campanha nacional de comunicação que visa alargar os momentos de consumo de vinho do Porto, atingindo os consumidores jovens adultos, que frequentam ambientes mais cosmopolitas e descontraídos, assim como aumentar a procura, ao mostrar a extensa variedade de tipos e categorias de vinho do Porto, cortando amarras com a tradição do seu consumo exclusivo em momentos solenes e, assim, conseguir novos hábitos que democratizem o seu consumo.
“E como nós sabemos que os ícones estão sempre presentes e disponíveis e, por vezes, menos valorizados, e como o vinho do Porto é ainda uma pérola por descobrir pelas gerações mais novas, o que fizemos nesta altura foi lançar uma campanha nacional, com o objetivo de convocar, dinamizar os mais jovens para esta nova linguagem do vinho do Porto”, explica o presidente do IVDP.
O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto tem por missão a certificação das denominações de origem Porto e Douro e a indicação geográfica duriense; regulamenta o processo produtivo, exerce a proteção e defesa e promove a imagem de prestígio internacional para as denominações de origem Porto e Douro.
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