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O desporto faz bem à saúde é uma premissa bem conhecida. Mas agora sabe-se que também pode fazer bem às contas do sistema de saúde e à economia portuguesa. A falta de exercício tem um impacto negativo de mil milhões de dólares (mais de 980 milhões de euros) nos serviços de saúde. Este é o valor estimado que é gasto todos os anos para tratar e prestar assistência a pessoas com doenças relacionadas com a inatividade física. Os custos do sedentarismo seguem uma linha ascendente com a soma dos efeitos do absentismo e na produtividade dos trabalhadores. Segundo o mais recente estudo da Deloitte sobre a indústria do fitness, as faltas ao emprego por doença e o presenteísmo custam à economia portuguesa 1569 milhões de euros/ano.
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A consultora, que se debruçou sobre o impacto social e económico da atividade física a nível global e, também, em Portugal, concluiu que cada trabalhador português inativo custa 336 euros em cuidados de saúde e 806 euros em potencial perdido no aumento do PIB devido ao absentismo e à perda de produtividade. Tudo somado são 1142 euros de perdas por ano, o que representa 7% do rendimento médio disponível per capita. Nas contas da Deloitte, 218 euros recaem sobre o sistema público de saúde e 180 euros seriam receita potencial do Estado. Como escreve no relatório, “por cada trabalhador inativo que se torne ativo, o governo tem um benefício potencial de 405 dólares [397 euros]”.
A atividade física moderada a intensa (a Organização Mundial de Saúde recomenda 150 minutos por semana) reduz o risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral, hipertensão, diabetes tipo 2 e demência, melhora a qualidade do sono, diminui sintomas depressivos e de ansiedade, e ainda a possibilidade de se contrair vários tipos de cancro. Muitas destas doenças têm caráter crónico, agravando a pressão e os custos nos sistemas de saúde. Ainda assim, 43,3% da população adulta portuguesa está longe de praticar as recomendações da OMS.
São dados que conjugados com a realidade demográfica portuguesa permitem antever o agravamento das dificuldades nos cofres públicos. A população está a envelhecer – em 2020, 22,8% tinha mais de 65 anos e prevê-se que, em 2025, esse valor chegue aos 24,2%. Em paralelo, a obesidade tem registado uma subida preocupante, quer nos adultos quer nos mais jovens, com as consequências conhecidas ao nível da saúde. Olhando para o contexto, o estudo da Deloitte aponta a necessidade de incentivar a prática de exercício no país, sublinhando que um investimento de 980 euros para apoiar uma pessoa sedentária a tornar-se ativa tem um retorno assegurado para a economia e sociedade num período inferior a um ano.
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Retoma lenta
Apesar dos benefícios do desporto, o setor do fitness ainda não dá sinais de recuperação, depois da hecatombe que sofreu no primeiro ano da pandemia. No último exercício, gerou uma faturação de 165,3 milhões de euros, uma quebra de 1% face a 2020, mas de 43% quando comparado com os 289,3 milhões registados em 2019 – o melhor ano de sempre da atividade. O volume de negócios não dá margem para grandes expectativas a curto prazo mas, ainda assim, apresenta uma tendência de estabilização, alavancada no aumento médio de 7% das mensalidades em 2021, para 32,37 euros (longe dos 37,71 pagos em 2019).
Já o mesmo não se pode dizer sobre o número de praticantes. Segundo o Fact Sheet 2021 do Fitness, elaborado pela Universidade Autónoma de Lisboa para a Portugal Activo (associação do setor), contavam-se no ano passado 465 600 pessoas inscritas em ginásios portugueses, menos 25 755 que em 2020 e menos 222 610 que em 2019. Os naturais receios da covid e a situação económica que espoletou afastaram ainda mais os portugueses dos espaços desportivos. O relatório concluiu que se verificou uma quebra de nove pontos percentuais dos praticantes no escalão etário dos 17 aos 30 anos, que acabou por ser minorada com o reforço da posição da faixa entre os 31 e os 64 anos. Mas há um dado que não sofreu variação: as mulheres continuam a ser o género predominante nos clubes, representando 53% dos praticantes.
O número de ginásios manteve-se nestes dois últimos anos na casa dos 800, depois do impacto inicial da pandemia que desencadeou o encerramento de três centenas de espaços no país. Os clubes convencionais ganharam peso no mercado, com o desaparecimento de unidades de crossfit, femininas e butiques. Num virar de página, as empresas esperam este ano aumentar a faturação em pelo menos 7,5% (as cadeias) e 2,5% (os clubes individuais), mas o trabalho de atração está agora mais dificultado com o disparar do custo de vida. A retoma avizinha-se lenta.
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