//Fecho da Saint-Gobain é irreversível. Trabalhadores consideram “insuficientes” propostas da empresa

Fecho da Saint-Gobain é irreversível. Trabalhadores consideram “insuficientes” propostas da empresa

Os trabalhadores
da Saint-Gobain em Santa Iria da Azoia, Loures, decidiram manter as ações de
luta, por recusarem o encerramento da fábrica e considerarem que as propostas
da empresa não são uma alternativa ao despedimento dos 130 funcionários.

Após a realização da quarta reunião para discutir o despedimento
coletivo na Saint-Gobain, que contou com a participação de representantes da
Direção-Geral do Emprego e Relações de Trabalho (DGERT), dos trabalhadores e da
empresa, o pessoal da fábrica reuniu-se em plenário e considerou que não tem
motivos para alterar a sua posição porque a empresa apenas “apresentou
perspetivas e não soluções”.

A Saint-Gobain Portugal emitiu esta sexta-feira uma nota de
imprensa onde dá conta que apresentou propostas de recolocação para cerca de
uma centena de trabalhadores e aumentou o valor das suas indemnizações, mas
reitera a irreversibilidade da decisão de encerramento da atividade produtiva
em Santa Iria.

De acordo com o comunicado, a Saint-Gobain Sekurit Portugal
(SGSP) propôs a recolocação de 36 trabalhadores nas empresas do Grupo
Saint-Gobain em Portugal, 10 em empresas do Grupo Saint-Gobain em Espanha, 51
em empresas independentes da região de Lisboa, num total de 97 postos de
trabalho. Além de “seis trabalhadores que é possível manter no armazém a
instalar em Palmela”.

“Também na reunião de hoje, a SGSP aceitou aumentar o
montante da contrapartida financeira para os trabalhadores para um valor 75%
acima do valor da indemnização legal”, disse a empresa, acrescentando que
esta “proposta foi apresentada por intercessão do representante da
DGERT”.

A SGSP contratou também os serviços de uma consultora
especializada que indicou que “duas das maiores empresas da região de
Lisboa, uma delas em Santa Iria de Azóia, estão a recrutar cerca de centena e
meia de operários e já há contactos com essas empresas para serem considerados
os trabalhadores da SGSP”.

“Ou seja, há muito boas probabilidades de ser recolocada a
maioria dos 130 trabalhadores da SGSP, sendo que a aceitação pelos
trabalhadores destas alternativas é voluntária”, disse a empresa.

Fátima Messias, coordenadora da Federação Portuguesa dos
Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro (FEVICCOM), disse à agência Lusa que
no fundamental a empresa não alterou a sua posição, porque mantém o encerramento
da fábrica, e os trabalhadores também não alteraram a sua posição porque não
aceitam o seu encerramento.

“As propostas de recolocação também não são uma alternativa
ao despedimento, porque não são certas, exceto os seis postos de trabalho que
vão ser mantidos para condutores manobradores de empilhadores em Palmela”,
disse.

Segundo a sindicalistas, os restantes postos de trabalho no
grupo são no norte de Portugal e em Espanha e eventuais contratações por outras
empresas “não são mais que perpetivas”.

No plenário os trabalhadores mostraram-se determinados para
continuar a lutar junto da empresa e do Governo.

“Temos que pressionar o Governo a tomar uma posição, porque
esta decisão desta multinacional é lesiva dos interesses dos trabalhadores e
dos interesses nacionais”, afirmou Fátima Messias.

Os trabalhadores da Saint-Gobain de Santa Iria da Azoia vão
manifestar-se no sábado, com as respetivas famílias, em Lisboa, para pedir ao
primeiro-ministro que trave o despedimento coletivo.

Depois de concentrações junto aos ministérios do Trabalho e da
Economia, estes trabalhadores vão desta vez deslocar-se à capital com a
famílias para desfilar entre a zona de Santos e S. Bento e manifestar-se junto
à residência oficial do primeiro-ministro, António Costa.

“Temos vindo a pedir a intervenção do Governo junto desta
multinacional, para que impeça o encerramento da fábrica e defenda os
interesses do país e o aparelho produtivo nacional, dado que é a única fábrica
do país que produz vidro para automóveis”, disse à Lusa Fátima Messias.

Os trabalhadores têm-se concentrado diariamente junto à fábrica
de Santa Iria, há cerca de um mês, em defesa dos postos de trabalho.

“A empresa diz que a sua decisão é irrevogável, mas isso
não significa que o Governo assista impávido e sereno ao encerramento desta
fábrica e ao despedimento de 130 pessoas. Quando são esperados tantos milhões
da União Europeia para ajudar à recuperação económica, certamente que pode ser
encontrada uma solução para salvar esta empresa, que é importante para a
economia nacional, já que o vidro que ela produz terá de ser importado,
contribuindo para o agravamento do défice”, disse Fátima Messias.

A FEVICCOM tem uma reunião, na segunda-feira, no Ministério do
Trabalho, com os secretários de Estado do Emprego e Adjunto do ministro da
Economia.

Os trabalhadores decidiram também fazer um desfile na avenida de
Roma e concentrar-se junto ao ministério enquanto durar a reunião.

Segundo a empresa, os problemas da Saint-Gobain Sekurit Portugal
têm mais de uma década, mas “a pandemia da covid-19 agravou uma situação
já de si frágil, aumentando substancialmente a retração do mercado automóvel (a
empresa transforma vidro para os automóveis, sendo essa a sua única atividade),
sem possibilidades de recuperação a curto, médio e longo prazo”.

Em Portugal, o Grupo Saint-Gobain emprega cerca de 800
trabalhadores distribuídos por 11 empresas e oito fábricas e totaliza um volume
de faturação correspondente a 180 milhões de euros.

O processo negocial no âmbito do despedimento coletivo na
Saint-Gobain Sekurit Portugal prossegue na terça-feira.

A decisão de encerramento da atividade produtiva da empresa e o
consequente despedimento coletivo dos 130 trabalhadores foi anunciada no dia 24
de agosto.

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