Filipe Pinhal considera que foi forçado a sair do BCP por ter recusado um empréstimo a José Berardo. “Recusámos empréstimos a Berardo e Vítor Constâncio correu comigo”, disse o antigo presidente do banco privado esta terça-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos.
O administrador do BCP explicou que o então governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, o pressionou a sair das listas que iriam disputar a liderança da instituição devido ao caso das offshores e de manipulação de mercado que surgiu na sequência de denúncias de Berardo.
Pinhal disse que ele e um outro administrador, Christopher de Beck, recusaram “a operação a Berardo e isso motivou uma reunião enfurecida em que Berardo me acusou de estar a retaliá-lo por ele ter assumido posições contra mim e Jardim Gonçalves”. Esse foi um dos “crimes” que o antigo administrador do BCP diz terem tido como castigo a sua saída do banco.
A 20 de dezembro de 2007, algumas semanas depois de Berardo ter denunciado gestores do BCP ao Banco de Portugal e à PGR dando origem ao caso das offshores, Constâncio indicou de forma indireta a Filipe Pinhal que deixasse de ser candidato à liderança do banco, segundo Filipe Pinhal. O então governador do Banco de Portugal terá alertado Pinhal para as implicações negativas que poderia ter para o BCP se ele avançasse para a liderança do banco e viesse depois a ser inibido de exercer funções na banca.
Filipe Pinhal acusou Vítor Constâncio de ter extravasado “grosseiramente e ilicitamente as funções de supervisão”. E desafiou os deputados a pedirem as atas dessa reunião e do encontro no dia seguinte com alguns acionistas de referência do BCP. Isto se essas atas existirem e não tenham sido destruídas, cenários admitidos por Filipe Pinhal.
Em relação às denúncias feitas por Berardo, Filipe Pinhal indicou que não excluía que os documentos em causa tivessem vindo da Ongoing, que estava no BCP desde 2005 através da Heidrick & Struggles e que poderia ter tido meios para varrer as informações do banco de forma a municiar Berardo.
Filipe Pinhal foi acusado pelos supervisores de utilização irregular de offshores, manipulação de mercado e prestação de informação falsa.
Teia urdida por Sócrates, Teixeira dos Santos e Constâncio, acusa Pinhal
O antigo administrador do BCP, com ligações a Jardim Gonçalves, o fundador do banco, considera que “houve uma teia urdida em vários pontos que teve um diretório claro constituído por José Sócrates, Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio e teve vários operacionais”, como a Ongoing. Filipe Pinhal acredita, apesar de não ter forma de o provar, de que o “assalto ao BCP” se iniciou com um pedido de Paulo Teixeira Pinto a Sócrates para afastar Jardim Gonçalves do banco.
“A partir do momento em que Paulo Teixeira Pinto terá aparecido no gabinete de Sócrates a dizer que precisava de apoio a nível político para afastar equipa que lá está desde 1985, Sócrates terá pensado que existia uma oportunidade de ouro para ter uma equipa de gestão mais favorável aos interesses do primeiro-ministro, pelo menos”, afirmou. Teixeira Pinto liderou o BCP entre 2005 e o verão de 2007.
Filipe Pinhal relembrou que no início de dezembro de 2007 começaram a surgir informações que a lista para os órgãos sociais do BCP apenas teria sucesso se fossem incluídos os nomes de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, que eram na altura presidente e vice-presidente da CGD. Argumenta que “há quem diga, e não excluo, que eles foram lá colocados para reestruturar créditos que não tinham cura. Há quem diga que motivações de Berardo e Fino era colocar pessoas mais dóceis”.
O antigo gestor do BCP recomendou aos deputados para pedirem informação sobre as reestruturações das dívidas de Berardo feitas por Carlos Santos Ferreira e Armando Vara em 2009. “Não tenho cópia, só sei por ouvir dizer. Mas ao que parece é uma reestruturação que permitiu a Berardo respirar alegremente sem amortizar capital e juros até à reestruturação de 2011”, disse. E questionou “como é que Carlos Santos Ferreira e Armando Vara que foram colocados por Berardo iriam reestruturar a dívida da Fundação e da Metalgest?”
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