Foi porventura o momento mais marcante deste segundo inquérito parlamentar às operações da CGD. No início de maio, o empresário José Berardo assegurava aos deputados estar “pessoalmente” livre de dívidas e sem bens pessoais executáveis para a recuperação daquelas que foram das maiores perdas da CGD nos créditos concedidos pelo banco até 2015.
Das perto de quatro dezenas de audições aos créditos da Caixa no inquérito iniciado em fevereiro, e que se conclui esta quarta-feira com a aprovação do relatório final, uma boa parte fixou-se nos perto de 400 milhões de euros obtidos pelo empresário via Metalgest e Fundação José Berardo, para financiar o reforço da posição no BCP. Os negócios de Manuel Fino, de Vale do Lobo e o financiamento à La Seda, em Sines, também concentraram a atenção.
A administração da CGD liderada por Carlos Santos Ferreira e a atuação do supervisor merece dos principais reparos no final do inquérito. Segundo este, o Banco de Portugal deu tratamento “diferenciado” a Joe Berardo. Vítor Constâncio, o governador da altura, esteve no parlamento em meados de junho a defender que os serviços do BdP atuaram em acerto com a informação de que dispunham para não obstarem à compra das ações do BCP. Não o fazer, apurada a “licitude dos fundos” e verificada a idoneidade de Berardo, “seria ir contra a lei”, argumentou Constâncio.
Neste mesmo inquérito, Filipe Pinhal, antigo administrador e presidente do BCP, acusou porém Vítor Constâncio de ter estado por trás de uma “teia urdida” para a tomada do BCP em 2007. Afirmou inclusivamente que o então governador teria influenciado a escolha de Carlos Santos Ferreira para a liderança do BCP, depois de este ter liderado a CGD de 2005 a 2008.
Grandes perdas
Santos Ferreira, por seu turno, foi à comissão defender a decisão de financiamento do banco público. Para o banqueiro, a tese de assalto ao BCP era “mito urbano”. A“teoria de haver financiamentos da CGD e depois alguns membros da administração da CGD terem ido para o BCP, a chamada teoria do assalto ao BCP é uma frase fácil que tem como objetivo ocultar o que se passou”, defendeu.
Quanto aos créditos devidos pela Investifino, na segunda maior perda da Caixa, ouviu-se no parlamento José Manuel Fino, filho de Manuel Fino, dizer que o banco não terá como recuperar 260 milhões de euros emprestados para compra de ações do BCP e Cimpor. “Não existe mais património”, afirmou.
O financiamento ao grupo Artland/La Seda para uma fábrica petroquímica em Sines foi outro dos créditos ruinosos. Manuel Matos Gil, antigo administrador, culpou no parlamento a gestão da Caixa pela não recuperação dos valores. O banco terá sofrido perdas superiores a 200 milhões.
Já no financiamento de Vale do Lobo, Armando Vara, ex-administrador da CGD, defendeu que a Caixa conseguiu recuperar o dinheiro emprestado.
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