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O cenário já é esperado pelos bancos. Nem todos os clientes com empréstimos abrangidos por moratórias vão conseguir voltar a pagar as suas prestações mensais. Segundo as estimativas da Fitch, entre 5% e 20% dos créditos protegidos por moratória vão mesmo ficar em risco de entrar em incumprimento.
A maioria das moratórias vence no final de setembro deste ano. Segundo o banco de Portugal, o montante de empréstimos abrangidos por moratórias ascendia a 46 mil milhões de euros, no final de fevereiro. Mas em março terminou o prazo da moratória privada da Associação Portuguesa de Bancos (APB), que abrangia um montante de 3,7 mil milhões de euros em empréstimos. Tendo em conta as estimativas da Fitch, significa que deverão ser classificados como créditos em risco de incumprimento entre 2,1 mil milhões de euros e 8,5 mil milhões de euros do total de empréstimos com moratória.
A agência de notação financeira estima que o peso dos empréstimos em risco de incumprimento no total do crédito dos bancos em Portugal atinja um pico de 9% nos próximos 12 a 18 meses. A Fitch destaca, numa análise divulgada na terça-feira, que, em Portugal, as eventuais perdas relacionadas com créditos “permanecem sensíveis ao ritmo de recuperação da economia portuguesa e mais especificamente no setor turístico”.
Portugal regista um dos mais altos níveis de empréstimos abrangidos por moratórias na Europa. A Fitch lembra que, no final de 2020, país liderava nas moratórias às famílias, com 21% dos créditos protegidos pela suspensão do pagamento das prestações. Segundo a agência de ratings, no final de 2020, 25% dos empréstimos com moratória nos bancos portugueses estavam classificados como estando em risco de entrar em incumprimento, o que representa uma deterioração face aos 15% observados no final de junho do ano passado.
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Segundo a Fitch, a grande maioria dos empréstimos com moratórias nos países da União Europeia já expiraram. Os empréstimos sob moratória no final de 2020 representavam apenas 3,5% do total de empréstimos a famílias e empresas do setor não financeiro, quase metade da percentagem registada nos três meses anteriores e bem abaixo do pico de 9%. “Contudo, o recurso a moratórias continua significativamente elevado nos bancos em Itália e Portugal, onde a duração da suspensão dos pagamentos das prestações foi alargada para junho e até setembro de 2021, respetivamente, estando a ser debatidos novos prolongamentos”, indicou a agência de ratings.
Portugal foi um dos países que decidiu prolongar o prazo das moratórias. A medida foi lançada em março de 2020 com o objetivo de ajudar as famílias e as empresas a ter mais flexibilidade financeira para lidar com a crise económica provocada pela pandemia da covid-19.
A partir de janeiro de 2021 passaram a ser autorizadas novas adesões às moratórias, tendo o prazo para esta adesão terminado no final de março passado.
Segundo dados divulgados pelo Banco de Portugal, o valor global de moratórias concedidas em Portugal atingiu o máximo em setembro de 2020, nos 48,1 mil milhões de euros.
No final de fevereiro, existiam 408 mil particulares com, pelo menos, um crédito com moratória, o que corresponde a 8,8% do total.
Do valor global de moratórias concedidas a famílias, 17,1 mil milhões de euros correspondiam a moratórias de créditos à habitação. Cerca de 16% do total de empréstimos concedidos a particulares estavam em moratória no final de janeiro passado.
No caso das empresas, são 54 mil as abrangidas pelas moratórias, o que corresponde a 22,4% dos devedores do setor empresarial. Cerca de um terço dos créditos concedidos a empresas está com o pagamento das prestações suspenso.
A APB está preocupada, sobretudo com as moratórias no crédito às empresas. A preocupação foi revelada por Fernando Faria de Oliveira, na audição de terça-feira na Comissão de Orçamento e Finanças no âmbito do projeto de lei apresentado pelo PCP para prolongar as moratórias. “A questão das empresas tem outra dimensão”, afirmou então o presidente da APB aos deputados. “Desde logo são as empresas que asseguram os empregos e também naturalmente que são quem cria a riqueza”, lembrou.
De acordo com os dados do Banco de Portugal, no final de fevereiro, as empresas de alojamento e restauração eram as que mais se destacavam nas moratórias, com 57% do montante dos seus empréstimos abrangidos por esta medida. Nos setores mais vulneráveis, 8,4 mil milhões de euros estavam em suspensão de pagamento, o que representava 34,4% do total de empréstimos das empresas.
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