O Fundo Monetário Internacional (FMI) aconselha os bancos portugueses a evitar canalizar para dividendos a totalidade dos lucros, que estão a aumentar, pedindo antes reforço das reservas de capital como “almofada” perante eventual aumento do malparado e das falências.
“É necessário que os bancos sejam capitalizados, inclusive os bancos portugueses, e estamos a sugerir que os bancos na fase atual aumentem os seus fundos próprios e as suas reservas de capital e que se abstenham, na medida do possível, de pagar todo o acréscimo dos lucros através de dividendos”, disse Alfred Kammer, no encontro com jornalistas, incluindo a Lusa.
Numa altura em que bancos como o BCP, Novobanco, Santander Totta e BPI apresentam quase o dobro dos lucros nos primeiros nove meses do ano face ao período homólogo de 2022, o responsável regional do FMI avisa que “os tempos vão ficar mais difíceis”, sendo necessários “amortecedores adicionais”.
“Em resultado do ajustamento pós-pandemia, vamos ver um aumento das falências, vamos ver um aumento do crédito malparado em toda a Europa, esta não é uma questão específica de Portugal”, acrescenta em resposta à Lusa, no dia em que o fundo divulga as perspetivas económicas regionais da Europa.
De acordo com Alfred Kammer, esta é uma situação “normal” dada a apertada política monetária com elevadas taxas de juro, entretanto estabilizadas pelo Banco Central Europeu, que coloca mais entraves ao acesso ao financiamento e leva a que as famílias e as empresas paguem mais pelos seus empréstimos, nomeadamente à habitação.
“Estes riscos ascendentes são normais, (…) mas nós também aconselhamos as autoridades de Portugal a aumentar as reservas sistémicas de fundos próprios a fim de preparar um aumento do crédito malparado e das falências”, concretiza.
O responsável avisa que, “quando as condições financeiras se tornam mais restritivas, podem ocorrer tensões financeiras”, pelo que “os países devem acompanhar de perto a qualidade do crédito bancário, os riscos de alavancagem e de liquidez, bem como aumentar as reservas de fundos próprios”.
Nas perspetivas económicas regionais da Europa, agora publicadas, lê-se que, “embora o sistema bancário europeu apresente elevados níveis de solvabilidade e liquidez, os bancos de algumas jurisdições possuem títulos substanciais que podem levar a um esgotamento significativo dos seus fundos próprios”.
Esta situação verifica-se em Portugal por ser dos países europeus com mais crédito à habitação a taxa variável. Ainda assim, Alfred Kammer manifesta-se otimista sobre a economia portuguesa, observando que “Portugal teve um crescimento forte, um reflexo da recuperação do turismo” e também dos “esforços” para combater o desemprego e apostar na educação.
“Penso que também se reflete na nossa previsão positiva para Portugal”, acrescenta, numa alusão ao facto de os valores apresentados para Portugal serem melhores do que na zona euro.
“Portugal tem estado muito determinado nos últimos três anos a criar amortecedores (…) e isso reflete-se certamente na avaliação positiva para Portugal e, então, isso deixa-nos otimistas, em geral, para o crescimento em Portugal a médio prazo, mas claro, a curto prazo, está ao mesmo tempo a sofrer uma desaceleração na Europa (…) e isso está também refletido nos nossos números”, adianta Alfred Kammer.
O FMI prevê um crescimento da economia portuguesa de 2,3% este ano e de 1,5% em 2024 e uma redução da taxa de inflação para 5,3% em 2023 e para 3,4% em 2024.
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