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A economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) respondeu na tarde desta terça-feira aos comentários da presidente do Banco Central Europeu (BCE), contrariando uma ideia de fundo, vocalizada por Christine Lagarde, de que a subida da inflação é por enquanto um risco menor e que o aumento que agora se vê parece ser “temporário” e localizado em setores específicos.
A chefe do BCE defendeu que não é preciso “sobre reagir” ou exagerar nas decisões de política monetária (que é como quem diz, não é preciso ir a correr subir juros) porque os riscos de descarrilamento nos preços parecem ser baixos.
A conselheira do FMI para os assuntos económicos, Gita Gopinath, fez questão de mostrar que o panorama pode não ser bem assim suave como o desenha Lagarde.
“Existem riscos significativos nas economias avançadas”, atirou a economista e “se considerarmos choques” nos preços nas matérias-primas e em alguns setores (como considerou a presidente do BCE), a inflação tende a ser muito perturbada no tempo, até 2024 pelo menos.
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E mostrou que, se adicionarmos ao modelo a reação dos agentes económicos em relação à perceção da inflação e ao risco de variação dos preços, a inflação poderá mesmo disparar em 2021 e 2022 nas economias ricas, como EUA e algumas da zona euro.
Além disso, defendeu Gopinath, a dispersão na inflação entre setores não parece ser assim tão elevada: essa dispersão até tem vindo a reduzir-se, mostrou. “A dinâmica setorial da inflação está dentro dos intervalos históricos”, defendeu.
Horas antes Lagarde tinha dito que o problema da inflação existia, mas que parecia ser “temporário” porque mais focado em setores específicos, como o transporte de cargas, de matérias-primas e na disponibilidade de componentes tecnológicos, como semicondutores.
Ainda esta semana, Elon Musk, o presidente da Tesla, voltou a queixar-se na internet de que não vai conseguir entregar os carros que desejava por causa da falta de chips e peças eletrónicas.
A narrativa de Lagarde é diferente também porque deu especial relevo ao facto de 2020 ter sido um ano de grave recessão, o que puxou brutalmente para baixo os preços. Agora a inflação sobe porque há um ano estava de rastos. É o efeito de base.
A chefe do BCE disse ainda que os últimos estudos analisados em Frankfurt mostram que as pessoas estão relativamente escaldadas pelas recessões dos últimos anos (pelas outras antes da crise pandémica) e que a poupança que acumularam durante a pandemia não será facilmente transformada em mais consumo. Lagarde pediu às famílias que tenham mais confiança, que gastem essas poupanças, puxando assim pela procura e, ato contínuo, pelos salários, referiu.
Fabio Panetta, membro da comissão executiva do BCE, apoiou a sua chefe Lagarde e defendeu os programas de estímulo à procura e mostrou-se contra o fim rápido dos apoios monetários (dinheiro ultra barato vertido nas economias do euro através dos bancos comerciais).
“Acabar com os estímulos de forma apressada pode conduzir a falências e levar a um ciclo vicioso”, a uma nova crise ou conjuntura negativa, no fundo.
O debate deste primeiro dia de Fórum BCE em modo virtual (desde 2014, este evento acontecia anualmente em Sintra, mas a pandemia deitou essa modalidade por terra em 2020 e este ano), esteve especialmente centrada na questão do sobre-endividamento das empresas e do risco de insolvência que tantas afeta, depois de meses sem faturar ou a vender pouco e mantidas à tona com apoios do Estado.
Panetta defendeu uma ideia antiga, que custa a implementar na Europa. Um mercado de financiamento para as empresas mais assente em ações e menos dependente de bancos.
O Fórum BCE continua na quarta-feira, segundo e uultimo dia de debates sobre politica moentaria para o poos-pandemia.
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