O Fórum para a Competitividade estima que a economia portuguesa tenha sofrido uma contração trimestral entre 4% e 6% de janeiro a março, a que corresponderia uma variação homóloga entre -2,5% e -4,5%.
Na sua nota de conjuntura de abril, o Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade destaca, contudo, a “incerteza muito elevada” desta estimativa trimestral, “visível na largura do intervalo apresentado”, e que atribui à “difícil tarefa de estimar” o impacto da pandemia de covid-19 na atividade económica e à “dificuldade de datar o princípio” deste efeito, que “começou a ser sentido no início de março, ainda antes do anúncio oficial do estado de emergência, em 18 de março”.
“Para além disso, pela sua excecionalidade, é incerto que a forma como o INE [Instituto Nacional de Estatística] calcula o PIB seja capaz de refletir em pleno os seus efeitos”, acrescenta.
Segundo refere, registou-se no período “um duplo efeito”, com “uma queda da procura e uma diminuição da oferta”.
“Em relação à procura, o chamado Grande Confinamento, o fecho de lojas e estabelecimentos de serviços (restaurantes em particular) impediu os consumidores de realizar parte das suas compras habituais. Outros consumidores viram-se privados de rendimento, com fortes quedas neste ou incerteza sobre o futuro, que os levaram, por motivo de precaução, a diminuir despesas”, explica.
De acordo com o Fórum, “houve alguma despesa para criar reservas em casa, mas com impacto limitado e apenas temporário”.
Conforme sustenta, “é necessário sublinhar a incerteza dos consumidores, porque afeta uma percentagem muito superior à daqueles que perderam o emprego ou ficaram em ‘lay-off”.
“Se a empresa tem quebras na produção, seja por que razão for, o facto de o trabalhador permanecer com o salário intacto não elimina a incerteza, porque fica sempre a dúvida sobre quanto tempo a situação é sustentável”, destaca.
Relativamente aos pedidos de ‘lay-off’ apresentados, os dados do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social apontam que, em 30 de abril, ascendiam a 1.211,9 milhares, relativos a 99,1 milhares de empresas e a remunerações declaradas de 1.225 milhões de euros.
“No entanto, só 61% dos pedidos terão sido aceites e regista-se um atraso significativo nos pagamentos”, nota o Fórum para a Competitividade, salientando que “este atraso nos pagamentos, para além dos inúmeros problemas sinalizados no apoio a trabalhadores independentes, estarão a agravar a recessão”.
Se em janeiro e fevereiro de 2020 o saldo externo foi negativo em 482 milhões de euros, um valor “quase idêntico” ao défice de 502 milhões verificado no período homólogo, o Fórum antecipa que “a previsível deterioração da balança de turismo com a covid-19, mesmo que os portugueses prefiram fazer férias no país, deverá deteriorar as contas externas, mas ser compensada pela queda no consumo de bens duradouros e sobretudo dos bens de investimento”.
No que se refere aos dados da execução orçamental mensal relativos a março, publicados no passado dia 27, alerta que “devem ser vistos com cautela face à crise da covid-19”, considerando que “ paragem brusca da economia nacional, a quebra do PIB [Produto Interno Bruto] e o impacto económico desta crise não estão ainda espelhados nestes números de março”.
“Estes números são números pré-crise. Não mostram em nada o efeito económico da crise que começou em meados de março. Não mostram efeitos da atividade económica e também não mostram sequer efeitos na liquidez”, sustenta, recordando que “a quarentena se iniciou a meio de março, exatamente na data limite para o pagamento” de obrigações fiscais como o IVA e o IRS.
Para o Fórum para a Competitividade, o que os números da receita fiscal de março revelam é que “a atividade económica em janeiro e fevereiro já estava a abrandar de forma significativa”.
No que se refere às previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia portuguesa, o Fórum diz enquadrarem-se “no que se espera para a zona euro, com uma queda ligeiramente superior em 2020 e uma recuperação um pouco mais forte em 2021”.
“Em relação às contas públicas, o FMI estima um défice de 7,1% em 2020, diminuindo fortemente no ano seguinte e uma dívida de 135% do PIB no ano corrente (um novo máximo histórico), caindo para 128,5% do PIB em 2021”, nota.
A este propósito acrescenta contudo que, “em relação à chamada equação da dinâmica da dívida, abstraindo do saldo orçamental, o que é decisivo para a estabilidade da dívida pública é se o PIB cresce acima da taxa de juro real”, sendo que “tudo indica que esta condição só não se verifique em 2020, vindo a ser retomada no próximo ano, estando a dívida pública de novo em trajetória descendente”.
O Fórum para a Competitividade é uma associação que reúne empresas e sócios individuais e que se apresenta como “uma instituição ativa na promoção do aumento da competitividade de Portugal, através de estímulos ao desenvolvimento da produtividade nas empresas”.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 247 mil mortos e infetou mais de 3,5 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de um milhão de doentes foram considerados curados.
Portugal contabiliza 1.063 mortos associados à covid-19 em 25.524 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.
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