//Fundo de resgate do euro admite riscos para sustentabilidade da dívida de Portugal

Fundo de resgate do euro admite riscos para sustentabilidade da dívida de Portugal

O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) admitiu esta quinta-feira “riscos significativos” para a sustentabilidade da dívida pública portuguesa, sugerindo a “implementação célere” do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e a aposta na imigração para os conter.

“Dadas as dificuldades do crescimento a longo prazo e das mudanças demográficas, os riscos para a sustentabilidade da dívida pública continuam significativos a médio e longo prazo. A implementação célere dos investimentos e reformas no âmbito do plano de recuperação e resiliência [PRR], aliada à migração líquida positiva, ajudará a conter esses riscos”, indica o MEE.

A posição consta do relatório anual do fundo de resgate da zona euro, aprovado esta quinta-feira pelos ministros das Finanças da moeda única, na qual o MEE alude ao PRR português, com um valor de 22,2 mil milhões de euros (16,3 mil milhões de euros em subvenções e 5,9 mil milhões de euros em empréstimos) que dizem respeito a 376 investimentos e a 87 reformas.

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Atualmente, o país já recebeu 8,49 mil milhões de euros em subvenções e 2,9 mil milhões de euros em empréstimos e a taxa de execução do plano é de 33%.

O MEE refere-se também ao saldo migratório positivo do país, com mais entradas (imigrantes) do que saídas (emigrantes), o que contribui para compensar os efeitos do envelhecimento da população, reforçar o mercado de trabalho e apoiar o crescimento económico em Portugal.

No capítulo sobre o país, o fundo de resgate do euro assinala que “a economia portuguesa voltou a superar a média da área do euro em 2024, apesar de um ligeiro abrandamento do crescimento”.

“O saldo orçamental das administrações públicas manteve-se positivo, sustentado por uma forte arrecadação do imposto sobre as sociedades, enquanto a dívida pública em percentagem do PIB continuou a diminuir, passando de 97,7% em 2023 para 94,9% em 2024”, observa.

Apesar de admitir esta “trajetória claramente descendente” da dívida portuguesa, o MEE recorda que esta continua elevada e, aliada à baixa produtividade e ao envelhecimento da população, fala em “desafios estruturais à sustentabilidade da dívida a médio e longo prazo”.

“É essencial executar atempadamente o PRR e implementar reformas estruturais chave, mantendo políticas orçamentais prudentes”, reforça ainda o MEE.

Portugal precisa da imigração, diz João Duque

A previsão apresentada pelo MEE “é óbvia”, na leitura do economista João Duque. Este habitual comentador da Renascença para assuntos económicos sublinha que Portugal necessita dos migrantes para manter a economia minimamente a crescer. Já o PRR, explica, deve funcionar como um acelerador:

“A dívida pública portuguesa tem feito um trajeto notável nos últimos anos, mas continua a níveis perigosos. Quanto às propostas, a única forma de podermos manter Portugal com alguma trajetória de mínimo crescimento é através da imigração. Temos que ter imigração para manter a economia minimamente a crescer. O fator acelerador é o PRR”, embora recorde que “está muito vocacionado para a administração pública”.

Nestas declarações à Renascença, João Duque assinala, ainda assim, que o ideal seria “mudarmos significativamente a estrutura económica de Portugal para que a produtividade fosse muitíssimo mais acelerada”.

Sediado no Luxemburgo, o MEE é uma organização intergovernamental criada pelos Estados-membros da zona euro para evitar e superar crises financeiras e manter a estabilidade financeira e a prosperidade a longo prazo, concedendo empréstimos e outros tipos de assistência financeira aos países em graves dificuldades financeiras.

O Conselho de Governadores, o órgão de decisão ao mais alto nível do MEE, aprova hoje o seu relatório anual de 2024.

O Conselho de Governadores do MEE é composto por representantes governamentais de cada um dos 19 acionistas do mecanismo, os países do euro, com a pasta das Finanças. Portugal está representado pelo ministro da tutela, Joaquim Miranda Sarmento.

O MEE continua a monitorizar a situação orçamental de Portugal após a assistência ao país durante a crise da dívida soberana da zona euro, em 2011.

[notícia atualizada às 15h53]

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