O setor da banca tem sido um dos mais afetados em Bolsa, na sequência da epidemia do coronavírus. Em Lisboa, o único banco cotado – o Millennium bcp – desvalorizou quase 50% desde o início do ano. Um sinal de que os bancos são vistos como os que deverão sofrer maior impacto com uma crise, cujos efeitos são ainda difíceis de calcular em todo a sua extensão. Nesta altura, partes da economia estão já paralisadas. Há empresas fecharam e algumas podem já não voltar a abrir. “Os setores mais expostos à crise são o do turismo, banca e outros, como o da aviação”, disse Pedro Lino, economista e administrador da Optimize Investment Partners. “Há empresas que vão ser nacionalizadas, outras vão falir ou ser alvo de intervenção e venda”, prevê.
No caso da banca, está exposta às famílias e empresas. A perspetiva de uma crise económica, com aumento de desemprego, é um prelúdio para subida do crédito malparado. Também é um travão aos novos créditos, que estavam a trazer receitas ao setor. A somar, as taxas de juro baixas deverão manter-se, possivelmente por mais tempo.
Em Portugal, o Novo Banco é, de longe, o mais vulnerável, segundo analistas. Regista ainda fortes prejuízos e tem beneficiado de injeções de capital por parte do Fundo de Resolução. Relativamente a 2019, o banco pediu mais 1.037 milhões de euros para se capitalizar. Quanto à perspetiva de que o banco pudesse vir a consolidar com o Millennium bcp no futuro, parece um cenário agora menos provável. Mas mesmo para os restantes bancos, que somam lucros, a maré virou. Depois há o caso do EuroBic, cuja venda ao Abanca ainda está em curso mas sem desfecho certo.
A dúvida é se as medidas que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou vão ser suficientes para salvar a banca de uma nova crise como a que se viu nos tempos da ‘troika’, a seguir ao resgate financeiro do país.
“Do ponto de vista de balaço, os bancos estão hoje mais bem posicionados do que no início da crise de 2008, com perfis de capital e liquidez mais robustos”, referiu a DBRS numa análise divulgada esta semana. “No entanto, se os mercados permanecerem desafiantes por um período de tempo alargado, prevemos que alguns bancos vão precisar de aceder a financiamento do BCE para cumprir as necessidades de refinanciamento em 2020”, adiantou.
Medidas chegam?
As medidas anunciadas por governos e bancos centrais para lidar com os impactos da epidemia sucedem-se quase diariamente. O BCE anunciou ontem novas medidas dirigidas ao setor da banca, que vêm reforçar outras que já tinha sido decididas, incluindo a de dar mais flexibilidade ao setor no que toca às suas almofadas de capital, para poderem apoiar a economia. Nesta última decisão, o BCE decidiu dar mais espaço de manobra aos bancos em termos contabilísticos, incentivando os bancos a não constituir grandes provisões para cobrir empréstimos que entrem em incumprimento.
O BCE também anunciou que os supervisores vão olhar com “flexibilidade” para os empréstimos não pagos que sejam cobertos pelas moratórias ou garantias estatais, que foram anunciadas para responder à crise iniciada com a epidemia. Portugal foi um dos países que deverá implementar uma moratória nos empréstimos à habitação. Mais detalhes serão conhecidos em breve. A Caixa Geral de Depósitos já anunciou que vai avaliar permitir que os seus clientes não paguem as prestações dos empréstimos da casa num período até seis meses. Também anunciou diversas medidas de apoio às empresas, incluindo a flexibilização no pagamento de empréstimos. Se todas estas medidas serão suficientes para evitar o pior na economia e, em consequência, nos bancos, ainda é cedo para dizer e está dependente de quanto tempo a epidemia vai continuar a paralisar uma boa parte da atividade económica.
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