//Galamba desafia setor energético a “reciclar” centrais do Pego e Sines

Galamba desafia setor energético a “reciclar” centrais do Pego e Sines

Foi uma das novidades da tomada de posse do Governo. As centrais a carvão do Pego e de Sines vão encerrar mais cedo que o previsto, em 2021 e 2023, respetivamente. O fim da era do carvão pode não ditar, no entanto, o fecho definitivo das centrais. É pelo menos essa a vontade do secretário de Estado da Energia. Na conferência anual da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), que teve lugar esta quinta-feira, João Galamba deixou um desafio aos responsáveis do setor.

“É uma dúvida que tenho: não será também possível reciclar as centrais a carvão? Não sou engenheiro mas sei que, se queimam coisas, podem queimar outras. É um desafio que deixo: olhar para o Pego e para Sines e tentar perceber se, em vez de serem desmanteladas, podem vir a ser total ou parcialmente convertidas e reaproveitadas e, assim, beneficiar da descarbonização do setor do gás. Não tenho certezas sobre isto, mas deixo o desafio”, declarou o governante.

O repto de João Galamba surgiu na sequência das explicações sobre a estratégia do Governo para o setor energético. A palavra de ordem é “descarbonização”. Até ao final de dezembro o Executivo irá fazer chegar a Bruxelas o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) 2030. Entre a versão preliminar do documento, entregue no final do ano passado, e o plano final que está a ser ultimado, há uma diferença de peso: o PNEC dará importância acrescida aos gases renováveis, nomeadamente ao hidrogénio.

“A eletricidade renovável pode dar um extraordinário contributo aos gases renováveis. No caso do hidrogénio, o baixo custo da produção de energia solar significa uma grande oportunidade para a produção de hidrogénio para injeção na rede de gás natural”, destacou João Galamba.

No mesmo sentido, sublinhou, também os gases renováveis “podem dar um excelente contributo ao setor da eletricidade renovável e contribuir para a descarbonização do setor elétrico”. Galamba referiu o projeto que o Governo pretende ver instalado em Sines, um complexo industrial de produção de hidrogénio verde, como o melhor exemplo do “casamento” entre o gás e a eletricidade, e de como ambos “se podem ajudar mutuamente” no caminho da descarbonização.

“O hidrogénio pode reforçar a segurança do abastecimento, introduz capacidade e flexibilidade no sistema e armazenamento. Poucas tecnologias podem competir com o hidrogénio nesse aspeto. Por muito que invistamos em baterias, estas têm uma capacidade de armazenamento menor. O hidrogénio diminui o investimento em redes, logo o custo do setor elétrico, e permite iniciar a descarbonização das centrais a gás. O PNEC pressupõe que o gás natural permaneça no nosso sistema durante muitos anos, e esta é uma boa forma de dizer: ‘já que permanece, descarbonize-se’, ainda que lentamente”.

Além da aposta no hidrogénio, o secretário garantiu que também os leilões de energia solar vão continuar no topo das prioridades. E que a pretexto do encerramento de Sines será antecipada uma linha Alentejo-Tavira do Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede de Transporte de Electricidade (PDIRT).

“Essa linha será inteiramente disponibilizada para o leilão. Vai dar uma nova possibilidade de leiloar na zona com mais potência do país, que estava fortemente limitada por constrangimentos de rede”. Para os leilões está ainda a ser avaliada a possibilidade de incluir uma opção relativa ao armazenamento, além das duas modalidades já incluídas no leilão de julho, uma de tarifa garantida e outra de compensação ao sistema elétrico. Sobre esta matéria “haverá novidades muito rapidamente”.

No encerramento da conferência da APREN Galamba referiu ainda a “grande expetativa” do Governo em relação à hibridização de projetos, tanto dos parques eólicos existentes como de futuros parques solares. Neste âmbito, o Executivo aguarda as alterações no ordenamento das albufeiras, para que as superfícies das barragens possam ser incluídas em futuros leilões.

No plano energético dos próximos anos consta ainda a aposta nas comunidades de energia, sobretudo “nas cidades mais pequenas e do interior”, que serão o foco de um futuro programa nacional que incidirá sobre este projeto. Ficou ainda o recado à DGEG e à ERSE, que têm até 31 de dezembro para apresentar a regulamentação das comunidades de energia.

“Tenho a certeza que cumprirão o prazo que consta na lei e que a 1 de janeiro já teremos operacional o decreto-lei do autoconsumo coletivo das comunidades de energia. O governo quer muito que esses projetos apareçam”.

Ver fonte

TAGS: