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A classe profissional dos “representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos” obteve o maior aumento salarial médio líquido em 2022 (9,6%) e também no quarto trimestre do ano (6,5%).
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Já o grupo profissional altamente qualificado onde estão médicos, professores, cientistas progrediu apenas 1% no ano passado, revelam dados novos do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados esta quarta-feira.
Tendo em conta a inflação estimada do ano passado, que ficou nos 7,8% (apuramento oficial, do mesmo INE), significa que a classe dirigente (a mais rica em termos salariais, com um rendimento médio líquido mensal de 1759 euros por mês, em 2022) terá sido também a única que conseguiu contornar o embate violento da inflação e ganhar poder de compra no ano passado, apesar da grave crise que se abateu sobre a economia portuguesa e as outras na Europa e fora dela.
Todas as restantes classes profissionais que constam na classificação do INE (grandes grupos profissionais) tiveram subidas no salário médio líquido claramente abaixo da referida inflação oficial apurada pelo instituto, em meados de janeiro.
O grupo que contém alguns dos profissionais mais qualificados do país (especialistas das atividades intelectuais e científicas, onde se enquadram médicos, professores, investigadores, etc.) logrou um avanço salarial de apenas 1% em 2022.
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É cerca de dez vezes menos que o acréscimo obtido pelos altos dirigentes. Aqui a perda de poder de compra foi muito expressiva, como se pode inferir.
O salário médio destes “especialistas” é o segundo mais alto na classificação feita pelo INE e rondou os 1400 euros líquidos no ano passado.
O salário médio líquido é o “rendimento depois da dedução do imposto sobre o rendimento, das contribuições obrigatórias dos empregados para regimes de Segurança Social e das contribuições dos empregadores para a Segurança Social”, de acordo com a nomenclatura oficial.
Os cálculos são do Dinheiro Vivo (DV) com base nos números oficiais do Instituto Nacional de Estatística, ontem divulgados no âmbito do inquérito ao emprego do quarto trimestre e do fecho do ano 2022.
O balanço do INE mostra ainda que, por força do esmagamento salarial na maioria das profissões (menos nos chefes), o rendimento líquido médio avançou 2,7% em 2022 (face a 2021) e apenas 0,8% no quarto trimestre do ano passado.
Este aumento homólogo de 0,8% é o mais fraco desde o primeiro trimestre de 2014, quando Portugal ainda estava sob o programa de ajustamento e austeridade do governo PSD-CDS e da troika.
Nos primeiros três meses de 2014, o rendimento salarial líquido caiu 0,7% em termos homólogos.
Na reta final do ano, o grupo profissional mais penalizado pela perda de poder de compra foi, de forma inequívoca, o dos “agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, pesca e floresta”: perderam, em média, 4,9% no salário líquido mensal. Em cima disto ainda arcaram com uma inflação elevadíssima, de quase 10%.
Crise já pressiona mercado de trabalho
No último trimestre do ano passado, o emprego em Portugal interrompeu a tendência de recuperação que se registava no começo de 2021 e a taxa de desemprego deu o maior salto desde meados de 2020, quando o país estava a entrar nos primeiros desconfinamentos da pandemia, indicou também o INE, esta quarta-feira.
Para já a economia portuguesa evitou uma recessão, mas o abrandamento da atividade é notório e a confiança dos investidores parece estar a marcar passo, contribuindo para o adiamento ou a paragem de vários negócios e investimentos e travando a criação de novos postos de trabalho.
Segundo o novo inquérito trimestral ao emprego do INE, no 4.º trimestre de 2022, a população empregada recuou entre o terceiro e o quarto trimestre, para um total de 4,9 milhões de pessoas.
Interrompeu-se assim a tendência de recuperação do emprego iniciada no arranque de 2021, depois dos vários confinamentos iniciais da pandemia que paralisaram a atividade da maioria das empresas e a mobilidade das pessoas.
Em termos homólogos, o emprego total ainda consegue registar um pequeno acréscimo — cerca de 0,5% (23,9 mil) — face ao último trimestre de 2021.
Desemprego sobe quase 4%
“A população desempregada, estimada em 342,7 mil pessoas, aumentou 12,1% (36,9 mil) em relação ao trimestre anterior e 3,7% (12,1 mil) relativamente ao homólogo”, refere o INE.
E a taxa de desemprego foi estimada em 6,5% da população ativa, “valor superior em 0,7 pontos percentuais (p.p.) ao do 3.º trimestre de 2022 e em 0,2 p.p. ao do 4.º trimestre de 2021.”
Ambos os indicadores (desemprego absoluto e taxa) tiveram a maior subida desde meados de 2020, mostra o instituto.
Desemprego jovem sobe pelo segundo trimestre consecutivo
A taxa de desemprego jovem voltou a subir (já tinha havido agravamento no terceiro trimestre), mas ainda assim está abaixo dos valores de final de 2021.
“A taxa de desemprego de jovens (16 a 24 anos) foi estimada em 19,9% da população [nessa faixa etária], valor superior em 1,1 p.p. ao do trimestre anterior e inferior em 3,5 p.p. ao do trimestre homólogo”, refere o INE.
Seja como for, a taxa de desemprego de jovens portuguesa continua a ser muito mais elevada do que a média europeia.
No terceiro trimestre, período para o qual há valores comparáveis entre Estados-membros, na União Europeia a 27 países, essa taxa de desemprego “foi estimada em 15,3%”, ou seja, menos 3,5 p.p. do que em Portugal, que atingiu 18,8% nesse trimestre, apresentando assim “a 10.ª taxa mais elevada na UE-27”, diz o instituto.
Regressando à análise da situação portuguesa na reta final de 2022 face ao último trimestre de 2021, o INE explica que o desemprego piorou, essencialmente, devido ao aumento do número de mulheres que ficaram sem trabalho e de pessoas com 35 a 44 anos.
93 mil à procura de trabalho há mais de dois anos
O desemprego de muito longa duração está subir, o que mostra que muitos desempregados caíram na armadilha do desemprego e dela dificilmente conseguem sair.
O seu peso aumentou de forma brutal: mais 7,9 p.p. face ao mesmo trimestre de 2021.
Assim, o número de desempregados à procura de trabalho há mais de dois anos piorou de 90,6 mil para 93,5 mil pessoas afetadas, segundo o INE.
Desemprego aperta mais em Lisboa, Norte e Madeira
A taxa de desemprego nacional subiu para 6,5% da população ativa total, mas a situação degradou-se sobretudo na área da Grande Lisboa, na região Norte e na Madeira, mostra o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Os Açores contrariaram a tendência e registaram uma descida assinalável no peso do número de pessoas sem trabalho.
“Na comparação homóloga, destaca-se o acréscimo de 0,9 pontos percentuais (p.p.) na Área Metropolitana de Lisboa, a manutenção observada na taxa do Alentejo e o decréscimo de 2,7 p.p. na Região Autónoma dos Açores”, resume o INE.
Entre o terceiro e o quarto trimestre, “a taxa de desemprego aumentou em cinco regiões”, com destaque para o Algarve (mais 1,9 p.p.), na sequência do fim da época de verão, “manteve-se inalterada na Área Metropolitana de Lisboa e diminuiu na Região Autónoma dos Açores (0,5 p.p.)”.
“No 4.º trimestre de 2022, a taxa de desemprego foi superior à média nacional em três regiões do país. Na Área Metropolitana de Lisboa (taxa de 7,6%), na Região Autónoma da Madeira (6,9%) e no Norte (6,8%)”, diz o novo estudo.
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