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Foi um ano de lucro recorde, seguido de um trimestre recorde para o EFG International, banco de investimento suíço que há quatro anos abriu um private banking em Portugal para gerir carteiras de pelo menos 1 milhão de euros. Em entrevista ao DV, o CEO do EFGInternational analisa o cenário macro e antecipa riscos, mas também oportunidades. E garante que Portugal é “uma aposta de longo prazo para o EFG”.
Há um ano, sinalizou a inflação e a expectativa de reação do BCE subindo as taxas de juro como suas principais preocupações para este ano. As suas piores expectativas foram confirmadas?
De certa maneira sim, o ano passado foi um ano difícil. Atingiu-se o nível mais alto de inflação em 40 anos, por várias razões, e os bancos centrais tiveram de reagir para dominar a escalada, subindo taxas de juros nos principais blocos económicos. Foi complicado para os mercados financeiros e também para o setor em geral – até porque já lidávamos com desequilíbrios na procura, problemas nas cadeias de abastecimento ainda da covid, e o impacto da guerra na comida e na energia tornou tudo pior. Mas para nós foi um ano muito bom. Navegámos bem as oportunidades e temos um balanço com muita liquidez. Portanto vamos poder continuar a crescer e a traduzir esse crescimento em lucros. Em 2022, tivemos lucros líquidos de 249 milhões de francos suíços (256 milhões de euros), o que é um aumento de 48% relativamente a 2021 e um recorde para nós. Portanto, a inflação foi dos maiores desafios do mercado e as taxas de juro criaram muita volatilidade, mas nós conseguimos operar bastante bem.
Acredita que os investidores tentaram encontrar alternativas e daí o sucesso do EFG?
Bem, acho que os investidores se adaptaram, mas sobretudo no segundo semestre, mas foi complicado por causa da inflação e do pico nos juros. Os mercados acionistas reagiram mal, mas na segunda metade do ano as coisas estabilizaram e os investidores adaptaram-se, adotaram posturas de mais curto prazo. No ano passado notou-se, por exemplo, muita volatilidade nas moedas, depois de anos de estabilidade no crédito e isso levou muitos investidores a apostar em divisas e com bons resultados. E mais recentemente, houve muito hype na IA e as ações que tinham sofrido com preocupações recessivas voltaram a mexer. Nós tentamos providenciar aconselhamento independente e imparcial aos nossos clientes e acreditamos que eles nos procuram quando os mercados estão a viver momentos complexos: quando tudo sobe, não precisam de aconselhamento, mas quando a volatilidade domina, o nosso conhecimento faz a diferença. E a diversificação é muito importante, a par da flexibilidade no horizonte de investimento, porque a visibilidade dos mercados continua a não ser boa. É preciso conseguir agir rapidamente e é isso que tentamos fazer.
E tendo em conta essa imprevisibilidade que ainda existe e a dificuldade de a inflação reagir à subida das taxas de juro, que áreas serão mais interessantes de olhar neste ano?
É difícil antecipar. Depende do apetite de risco do investidor… Se é mais conservador e os juros estão alto por comparação com os últimos anos, as obrigações poderão ser interessantes. Se é mais orientado para o curto prazo, as divisas podem fazer sentido. Mas isto é mais para clientes profissionais porque de facto há muita volatilidade, mas a economia global, e a europeia também, continua bastante resiliente. Isto é positivo para as ações. Portanto, dependendo do setor, alguns serão atrativos. A tecnologia mantém-se com bons resultados, por exemplo. A transformação digital da sociedade é imparável, é uma tendência que vai continuar e a IA é só o último elemento de que se fala. Mas o que dizemos hoje pode ter de ser revisto em algumas semanas, portanto é importante manter diálogo com os consultores de investimentos para ir ajustando a estratégia de investimento.
É a instabilidade o maior risco que identifica pela frente?
A volatilidade é uma grande preocupação, claro, mas pode também ser uma oportunidade nesta atividade, depende de como a abordamos. Há outros riscos, como o stresse sobre as economias. O problema dos juros não é apenas a subida das taxas depois de mais de uma década de valores negativos ou historicamente baixos, é a velocidade com que as taxas subiram. Foi a escalada mais rápida de sempre, de 0% a 5% nos EUA, de negativa a um nível muito alto na Europa. E vê-se algum efeito – bancos americanos que entraram em default, um grande banco europeu intervencionado… não vemos muitas falências na economia real, mas a questão é se a economias estão mesmo a conseguir aguentar-se com resiliência ou se ainda vão surgir problemas. Essa é um dos riscos-chave que tentamos avaliar. Neste momento, parece que as economias estão resilientes, mas a inflação está a custar a controlar, por isso é uma preocupação, a par dos cenários geopolíticos – EUA-China, guerra na Ucrânia… – e dos mercados da energia.
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E há setores mais vulneráveis?
Nesta fase as economias parecem estar a resistir. A preocupação maior será o nível das dívidas soberanas e do endividamento das empresas. Por isso a análise de risco no crédito é mais importante do que nunca.
Voltando ao EFG, é o ADN distintivo do banco, relativamente à banca tradicional suíça, que lhe tem permitido crescer neste novo contexto?
Sim, nós temos um modelo de negócio muito distinto, somos muito ágeis e tentamos ter processos de decisão muito curtos. Somos uma boutique global, somos suíços, mas temos profissionais locais em todos os mercados em que estamos e tentamos ser bastante flexíveis na forma como nos guiamos. E nos momentos mais complicados, em que outros adotam uma posição mais tímida, nós achamos que é a altura em que devemos estar mais ativos. Em março do ano passado, ninguém sabia o que ia acontecer, mas nós acabávamos por ter mais instrumentos para entender o contexto e os cenários possíveis e aproximamo-nos dos clientes. Não se pode estar sempre certo, mas os clientes reconhecem que nas alturas difíceis estamos lá, estamos perto deles e tentamos ser imparciais e independentes ao dar o melhor aconselhamento. Isso dá-nos competitividade e acho que nos torna atrativos para os clientes.
E como vê o EFG em Portugal, a sucursal portuguesa? Como tem visto a sua evolução desde a abertura, em 2019?
Há muita atividade e iniciativa neste mercado, é um mercado estratégico para nós. A decisão de abrir foi tomada com consciência e o desempenho tem sido muito positivo. Portugal tem-se revelado uma posição realmente interessante. É um país que tem trabalhado muito bem, atraído capital estrangeiro e interesse de fora, da Europa mas também do Brasil. É uma aposta que nos tem deixado muito satisfeitos. Vamos continuar a investir e desejavelmente a crescer aqui.
É então uma aposta de longo prazo para o grupo.
É, absolutamente. Portugal é uma aposta de longo prazo para o EFG.
E como olha as particularidades portuguesas, nomeadamente legislativas e fiscais? O país atrai investimento, mas os impostos penalizam-no, as leis estão constantemente a mudar… Isso não desincentiva os investidores?
Não comentamos as leis dos países, mas é claro que a prudência fiscal é um tema relevante. No geral, olhando o contexto europeu, acho que Portugal tem feito um bom trabalho de atração de capital estrangeiro e tem tido um bom desempenho na gestão da crise. Além da recuperação-relâmpago no pós-covid. Portanto, o histórico tem sido bastante bom. É sempre recomendável encontrar equilíbrios, mas a minha perspetiva é a de que Portugal continua a ser um país bastante atrativo para clientes ricos investirem.
O fim de programas como os vistos gold pode ter um efeito negativo nessa capacidade de atração?
Os vistos gold tiveram uma função – e não apenas em Portugal – de lançar uma onda e depois houve necessidade de corrigir algumas coisas. Como as coisas vão evoluir, é difícil de prever, mas é verdade que já se criou um certo mindset e o país mantém-se bastante competitivo na comparação com outros europeus. O gatilho de competitividade fiscal já funcionou.
Portugal é dos países mais procurados pelos investidores?
Vemos interesse dos clientes em investir em Portugal, sim. Europeus e brasileiros veem-no como um local interessante para fazer negócio.
E dos EUA?
* Sim, há um bom movimento a chegar dos EUA, das duas costas – Califórnia e Miami. Portugal está a tornar-se bastante atrativo para os americanos. Há um tema no regime fiscal americano com que é preciso lidar, uma adaptação a fazer, mas o fluxo é muito interessante.
O EFG quer continuar a expandir-se, tem planos nesse sentido?
Queremos expandir-nos em Portugal e noutros mercados. Neste ano, já contratámos 50 banqueiros – o que antecipa a nossa linha condutora de procurar adicionar até 70 por ano -, portanto estamos bem encaminhados. É esse o caminho que privilegiamos. Claro que podemos sempre olhar para o mercado, ponderar aquisições, mas as coisas têm estado calmas, portanto estamos prontos e a olhar, mas não há nada iminente. Mas crescimento está no topo das prioridades para nós.
E querem crescer mais 48%, é essa a fasquia aonde apontam?
Boa pergunta… Posso dizer o que partilhámos a 21 de abril, quando anunciámos os resultados do primeiro trimestre. Atingimos um recorde trimestral: foram mais de 90 milhões de francos suíços (cerca de 92,5 milhões de euros) de lucros líquidos nos primeiros três meses deste ano. Comparando com o último ano inteiro, é muito positivo. A 26 de julho teremos o primeiro semestre fechado e nessa altura já saberemos melhor para onde apontamos, mas tudo indica que estamos bem encaminhados. O crescimento de ativos sob gestão não foi tão expressivo, mas nos lucros estamos a bater recordes.
*Resposta dada pelo country manager de Portugal, Bernardo Meyrelles, também presente na entrevista.
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