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Ainda o ano vai no início e 12 tecnológicas mundiais já anunciaram a eliminação de mais de 74 mil empregos em 2023, sem contar com a redução anunciada pela Meta e Amazon, em novembro, de 21 mil pessoas.
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De acordo com contas feitas pela Lusa, com base na informação divulgada por 12 das principais tecnológicas, a maioria norte-americanas, mais de 74 mil empregos vão ser cortados, onde se inclui a Alphabet, dona da Google, Microsoft, Disney e até o Spotify.
Se somarmos o anúncio de despedimentos da Meta, dona do Facebook, WhatsApp e Instagram, de 11.000 trabalhadores, ou 13% da força laboral, e o da Amazon, de 10.000 na mesma altura, o número sobe para cerca de 95.000.
Na altura, o responsável da Meta disse que o objetivo do corte destes postos de trabalho visavam tornar a empresa mais ágil e eficiente, em resposta às mudanças económicas e empresariais.
Logo no início do ano, em 04 de janeiro, a norte-americana Salesforce anunciou a intenção de despedir 10%, cerca de 8.000 pessoas, e avançou com um plano de reestruturação.
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A fornecedora de ‘software’ admitiu ter contratado demasiadas pessoas quando as receitas aumentaram durante a pandemia de covid-19 e agora “assume a responsabilidade” de não ter calculado bem que esse auge iria terminar antes do esperado.
No dia seguinte foi a vez da ‘gigante’ de comércio eletrónico Amazon, que anunciou o despedimento de 18.000 pessoas, um número recorde a somar aos 10.000 em novembro de 2022, uma decisão que resulta da incerteza económica e do elevado número de contratos feitos nos últimos anos.
Poucas semanas depois foi a vez da Microsoft anunciar o corte de 18.000 empregos, menos de 5% da força laboral, com o presidente executivo (CEO), Satya Nadella, a referir que a empresa atravessa “mudanças significativas”, referindo que quando se reúne com os clientes nota que estes já não “aceleram os seus gastos digitais”, como se assistiu durante a pandemia, mas que antes optam por “otimizar o seu gasto digital para fazer mais com menos”.
Estas foram as declarações de Nadella em 18 janeiro, para logo poucos dias depois (23 de janeiro) a Microsoft anunciar um investimento de “milhares de milhões” de dólares na tecnológica de inteligência artificial OpenAI, criadora do bem sucedido ChatGPT, um fenómeno viral que ‘obrigou’ as concorrentes a desenvolver soluções similares.
Entretanto, ainda em janeiro, a Alphabet, dona do Google, anunciaria o corte de 12.000 postos de trabalho, ou 6,4% do total, depois de anos de crescimento “espetacular” porque que se depara, agora, com uma “realidade económica diferente”.
Depois da pandemia de covid-19, o mundo assiste há quase praticamente um ano a uma guerra na Europa, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a alta das taxas de juro, níveis de inflação há muito não vistos, a que se somam os elevados custos da energia, entre outros desafios macroeconómicos.
O anúncio foi feito pelo CEO da Google e da Alphabet, Sudar Pichai, que também anunciou que a inteligência artificial (IA) é uma grande oportunidade para os produtos da tecnológica.
No final de setembro passado, a Google contava com 186.779 pessoas, mais de 36.000 do que os 150.028 funcionários que tinha em igual período de 2021.
Ainda em janeiro, a plataforma de música Spotify, com sede em Estocolmo, disse que iria cortar 6% do pessoal, cerca de 600, juntando-se à vaga de tecnológicas que estão a reajustar o seu ‘plantel’ de trabalhadores, perante os receios de uma recessão global.
A Spotify conta com cerca de 8.600 empregados em todo o mundo.
Também em solo europeu, a fabricante de ‘software’ alemã SAP vai cortar 3.000 empregos, 2,5% do total, para reduzir custos até 350 milhões de euros anuais a partir de 2024.
Ainda no mês passado, a IBM anunciou o corte de 3.900 empregos e a PayPal a redução de 2.000.
Entretanto, já este mês, a Dell, que se dedica principalmente ao fabrico de computadores e seus acessórios, avisava o mercado que iria despedir 6.500, o equivalente a 5%.
Esta redução acontece no meio de uma queda da venda dos computadores pessoais, de 55% no negócio da empresa, e de condições de mercado que continuam a “deteriorar-se perante um futuro incerto”, de acordo com um comunicado interno do responsável pelas operações, citado pelos media.
Com esta redução, a Dell irá manter uma força laboral de 126.300, a mais baixa dos últimos sete anos.
A plataforma Zoom, que se tornou famosa durante a pandemia de covid por promover o recurso a videoconferências, juntou-se ao movimento e vai despedir 15% do total, ou seja, 1.300 pessoas.
Também a Disney aderiu à vaga de redução da força laboral, desta feita com um corte de 7.000 empregos, cerca de 3% do total, com o objetivo de reduzir custos.
O portal de Internet Yahoo, que foi adquirido em 2021 pelo fundo de investimento Apollo, vai cortar 20% do total de pessoas, cerca de 1.600, de acordo com o que foi divulgado nos media, na sequência de uma reestruturação do seu negócio de publicidade digital.
Estes são apenas exemplos da vaga de despedimentos que assola o universo tecnológico, depois de um período em que foram criados milhares de postos de trabalho. Há quem aponte que se trata de um reajustamento do mercado.
De acordo com dados da Efe, em 2022, as grandes tecnológicas foram responsáveis pelo despedimento de 150.000 pessoas em todo o mundo, Twitter e Meta incluídos.
Reajustamento ao mercado e condições económicas na base dos despedimentos
“Diria que há um ajustamento”, afirma José Ferreira, quando questionado pela Lusa sobre o tema.
“Em geral, nas ‘big tech’, onde se incluem a Google, a Amazon, a SAP, entre outras”, assiste-se a uma desaceleração “no crescimento e, por via disso, pressões do mercado”, mas “ainda assim, as empresas estão a fazer pequenos ajustes àquilo que foi” o aumento do número de pessoas nos últimos tempos, refere.
Por exemplo, aponta, a Amazon vai cortar 18.000 pessoas “essencialmente nos recursos humanos e operações de loja”.
Além disso, a Amazon “passou de 800.000 no último trimestre de 2019 para 1,6 milhões no último trimestre de 2021”, ou seja, “cresceu 800.000 pessoas e está a reduzir 18.000”, indica José Ferreira, salientando que é preciso “também ver a escala global das coisas”.
Acima de tudo, acrescenta, “houve uma corrida grande ao talento durante a pandemia, com uma expectativa de crescimento continuado como tinha acontecido no passado, crescimento esse que não está a verificar-se e que agora está a cortar o excesso”, salienta o sócio da BCG.
Para o responsável, existem “ajustamentos de performance e de excessos de contratação que agora estão a ter lugar”.
Já sobre se este número de pessoas que estão a ser despedidas permite compensar as necessidades de mercado em talento na área tecnológica, José Ferreira diz que não.
“Globalmente não compensam, mas este movimento, na minha perspetiva, é uma ótima oportunidade para empresas mais tradicionais, para capturarem algum talento que está a ser despedido”, refere.
No entanto, sublinha, a maior parte dos despedimentos é “centrado nos Estados Unidos e, portanto, nem sempre as empresas na Europa têm acesso a esse talento”.
Além disso, face a esta onda de despedimentos, muitas das pessoas que estariam a pensar mudar para as tecnológicas podem já ter perdido a vontade — dada a volatilidade –, o que “pode ser interessante para a retenção de talento para empresas mais tradicionais”.
Dito isto, “não são estes números que vão colmatar as necessidades de médio prazo de talento”, remata.
Questionado sobre a continuação da vaga de despedimentos, “tudo vai depender da economia, se vai entrar em recessão económica ou não” para perceber se continua o ajuste, acrescenta.
No caso de Portugal, recorda que algumas ‘startups’ já fizeram reajustes, ainda durante o ano passado. Isto porque os investidores estão mais exigentes e os “caminhos de não rentabilidade hoje em dia são mais difíceis de suportar”.
Algumas organizações começaram “a fazer alguns ajustamentos quase por uma questão higiénica para se prepararem para a incerteza”, mas se o ambiente económico melhorar “substancialmente também diria que rapidamente vão começar a contratar pessoas para suportar o crescimento”.
O mercado europeu, sublinha, “é muito mais lento a ajustar” do que os Estados Unidos.
Portugal, apesar de não ser imune a esta vaga, “não tem grande peso no setor tecnológico” e o “ecossistema de ‘startups é interessante, mas mais pequeno”, refere.
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