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Ao contrário do que sucedeu nos últimos dois anos, o governo não irá em 2022 fazer ajustamentos além da base remuneratória única para atenuar o efeito de compressão nos salários das carreiras gerais da função pública devido à subida do salário mínimo, que deverá passar a 705 euros.
A indicação foi dada nesta quarta-feira pela ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, após o início de nova ronda negocial com os sindicatos da função pública ocorrida depois do chumbo da proposta de Orçamento do Estado para 2022 e perante a precipitação de eleições legislativas para 30 de janeiro, com o governo a preparar-se para governar em duodécimos no arranque do próximo ano.
“Aquilo que o governo entende este ano é que, fruto do contexto político que se vive, deveremos fazer apenas as atualizações. São atualizações em linha com a inflação para que não haja perda de poder de compra por parte dos trabalhadores da Administração Pública”, indicou a ministra, reiterando o compromisso de atualização em 0,9% na generalidade dos salários públicos no próximo ano, assim como o ajustamento da base remuneratória da função pública, para que fique alinhada com o novo salário mínimo.
Já, para além disso, ficam para já afastados ajustamentos salariais na posição remuneratória imediatamente acima do salário mínimo, que deverá fica a uma distância de apenas quatro euros deste. “Tudo aquilo que sejam alterações de natureza excecional ou estrutural, entendemos que no atual contexto que não as devemos fazer”, afirmou Alexandra Leitão.
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Está em causa a quinta posição da tabela remuneratória única, cujo salário deverá ser atualizado de 703 para 709 euros e ficar, assim, a apenas quatro euros do valor de salário mínimo. Este irá ainda ser negociado na próxima semana em Concertação Social, mas o governo já fez saber por várias vezes que o plano é que este seja fixado em 705 euros no próximo ano.
Caso se confirme, será de apenas quatro euros a diferença de salário entre um assistentes operacional com dez anos de serviço face a outro acabado de entrar na carreira, ou entre os salários de entrada de assistentes técnicos e assistentes operacionais, sendo que os sindicatos saíram da reunião de hoje com o governo a manifestar a expetativa de que haverá margem orçamental, mesmo numa governação em duodécimos, para repor proporcionalidade remuneratória entre os dois níveis salariais (é isso que prevê, de resto, a Lei Geral de Trabalho em Funções Públicas).
Para segunda-feira está marcada nova reunião negocial e, embora afastando para já as mudanças pretendidas, a ministra Alexandra Leitão disse também que esta não constituirá “um pró-forma”. Em outubro, nas negociações anteriores à apresentação do Orçamento do Estado para o próximo ano, a ministra começou por afastar uma atualização transversal de salários em 2022, acabando na reunião seguinte por confirmá-la.
De resto, caem entretanto vários compromissos negociais assumidos para o primeiro trimestre do próximo ano. Entre estes, a discussão da revisão da tabela remuneratória única, justamente, para reposição de proporcionalidade entre níveis remuneratórios, da reformulação do sistema de avaliação e de progressões da função pública, ou ainda a subida em 50 euros do salário de entrada de técnicos superiores, com valorização acrescida para doutorados.
Segundo Alexandra Leitão, será um caderno de encargos para repescar num cenário pós-eleitoral que devolva a governação ao PS. “Temos preocupações e objetivos que, em parte, vão muito ao encontro daquelas que são também preocupações das estruturas sindicais. Assim que houver condições, e caso venha a haver, a elas voltaremos – em termos que, depois, definiremos em negociação com as estruturas sindicais”.
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