//“Governos devem investir na infraestrutura e não nos subsídios”

“Governos devem investir na infraestrutura e não nos subsídios”

Assumiu o cargo de CEO e administrador executivo da Mercedes-Benz Portugal (MBP) pouco antes de o agravamento da pandemia, em novembro, ter obrigado a um aperto nas restrições de mobilidade, acrescentando um novo desafio às funções. No entanto, Holger Marquardt garante que dificilmente podia ter chegado ao país em melhor momento da marca alemã. Adepto confesso da cultura lusa, reconhece que os constrangimentos de convivência impostos pela pandemia são um desafio, mas assegura que o rigor do trabalho em equipa num ambiente altamente digitalizado permitiu dar continuidade a uma estratégia que em Portugal tem dado ótimos frutos.

“Penso que dificilmente poderia ter chegado em melhor momento, graças ao sucesso da marca em Portugal no ano passado, sendo a terceira melhor no mercado com uma quota de 9,5%, líder nos veículos eletrificados (xEV) e atendendo ao grande valor da marca”, diz, aludindo ao facto de a Mercedes-Benz ter sido a marca que menos caiu entre as dez primeiras nos ligeiros de passageiros – face a 2019, teve uma quebra de 17% em comparação com a contração de 34% no mercado. Já para 2021, revela otimismo moderado, atendendo aos resultados do primeiro trimestre, no qual a quota de mercado foi de 10,6%.

“Alcançámos bastante no ano passado, mas nestes três primeiros meses a nossa quota foi ainda maior. Fomos capazes de lançar modelos eletrificados e somos líderes destacados nesse segmento, o que mostra que os nossos veículos, com elétricos e híbridos plug-in a gasolina e diesel, têm enorme procura e que estamos a corresponder a essa procura”, refere. E, embora se mantenha a incerteza quanto à evolução da pandemia, o alemão de 56 anos aponta para uma quota de mercado de 10% no fim do ano, graças ao reforço de opções eletrificadas, rejeitando, por outro lado, a ideia de que as marcas premium são menos afetadas pela crise.

“Penso que os clientes que gostam de ter os nossos carros ainda não sofreram os efeitos como os das marcas generalistas, mas não diria que também não possam ser afetados um dia porque [a crise] é uma espiral e a questão principal é se começa pelo topo ou pela base. Neste momento, vemos que surge mais na base, mas olhando para o futuro não vejo grandes aumentos no segmento premium ou no setor automóvel em geral”, considera.

Incontornáveis, os carros eletrificados têm uma representatividade cada vez maior nas vendas, mas Marquardt não é apologista dos subsídios para a aquisição de veículos novos 100% elétricos. Considera mais vantajoso o investimento na rede de carregamento.

“Pela nossa marca, fico satisfeito porque as vendas têm por base a procura e não grandes incentivos do governo. Na verdade, prefiro que os governos invistam na infraestrutura do que na venda dos automóveis. Sim, é claro, que se tivermos uma frota muito velha, [o incentivo] vai ajudar na pegada de CO2. Mas, se tivermos mais incentivos para os veículos e as pessoas não souberem onde carregá-los ou se existirem colapsos na rede porque muita gente está a carregar ao mesmo tempo, é melhor preparar a infraestrutura. Os carros estão lá e será um processo natural. O dinheiro dos governos deve ser investido na infraestrutura e não no apoio às vendas de veículos.”