Depois de oito anos de austeridade, a Grécia diz formalmente adeus ao resgate e ao programa financeiro imposto pelos credores. O país teve três programas de ajustamento ao longo de quatro governos.
A partir desta segunda-feira, Atenas volta a estar por si só na gestão das contas públicas e independente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Vai, no entanto, continuar debaixo de uma apertada monitorização por parte da Comissão Europeia, dado que assinou compromissos para os próximos 30 anos e o peso da dívida na economia ainda é muito elevado, ultrapassando os 180% do PIB.
Durante os oito anos em que esteve sob resgate, a Grécia recebeu 260 mil milhões de euros.
No sábado, o diretor do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), Klaus Regling, congratulou-se com a recuperação da autonomia da Grécia e afirmou que o país será “uma história de êxito”, tal como foram Portugal, Espanha, Irlanda e Chipre. “Refiro-me sempre a estes países como as nossas quatro histórias de sucesso”, afirmou.
Klaus Regling sublinhou depois a importância de a Grécia continuar as reformas realizadas e concretizar os compromissos firmados com as instituições credoras.
A Grécia foi o país europeu mais atingido pela crise económica e financeira, o primeiro e último a pedir assistência financeira e o único “reincidente”.
O fim do terceiro programa de assistência financeira à Grécia assinala também o fim do ciclo de resgates a países do euro iniciado em 2010 e que abrangeu também Portugal (2011-2014), Irlanda, Espanha e Chipre.
Oito anos no limbo
O último resgate grego foi lançado em agosto de 2015, mas o histórico da crise na Zona Euro recua, pelo menos, a 2010 – altura em que ocorre a primeira cimeira extraordinária de líderes da UE para discutir o “problema grego”, à luz das revelações sobre a verdadeira situação económica do país, que as autoridades gregas haviam ocultado e manipulado – o défice público era, afinal, na altura, de 12,5%, mais do dobro do valor anunciado.
Em maio desse ano, e ultrapassadas as reticências iniciais da Alemanha, é aprovado o primeiro resgate para a Grécia, no valor de 110 mil milhões de euros, naquele que seria o início de uma série de resgates a países da Zona Euro, com participação também do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Um ano depois, em maio de 2011, Portugal pede ajuda.
Em março de 2012, é aprovado um segundo resgate à Grécia, no valor de 130 mil milhões de euros, mas Atenas tarda em conseguir o “ajustamento” das suas contas públicas, e a crise mais profunda tem lugar em 2015, quando o partido de extrema-esquerda Syriza de Alexis Tsipras sobe ao poder e enfrenta os credores, ficando famoso o confronto entre os então ministros das Finanças grego, Yanis Varoufakis, e alemão, Wolfgang Schäuble.
Numa altura em que Portugal já tinha concluído o seu programa de assistência, Bruxelas conhece então dos momentos mais agitados da sua história, com uma “maratona” de cimeiras extraordinárias com os ministros das Finanças, durante as quais chegou a pairar a ameaça de uma “expulsão” da Grécia da zona euro.
Finalmente, em agosto de 2015, e já com Varoufakis afastado do Governo de Tsipras, é alcançado um acordo entre Atenas e os seus credores para um terceiro e derradeiro programa de assistência (num montante máximo de 86 mil milhões de euros), que chega então agora ao fim, com uma “saída limpa” da Grécia – ainda que com vigilância reforçada.
Em julho último, Mário Centeno, presidente do Eurogrupo desde janeiro, advertiu Atenas que deve prosseguir imperiosamente uma “política orçamental prudente” e reformas estruturais, recordando que haverá lugar a uma “vigilância pós-programa reforçada”.
Esta vigilância reforçada – como missões de três em três meses – não significa, todavia, que a Grécia continue de alguma forma sob programa, acrescentou: “Deixem-se ser claro: ‘fora do programa’ para a Grécia significa ‘fora do programa’”, disse, acrescentando que “a Grécia deve participar no euro como qualquer outro país”.
Centena fala de “um dia especial para a Grécia”
O presidente do Eurogrupo e também ministro das Finanças português diz que esta segunda-feira é o dia em que “a Grécia regressa ao normal”, dando as boas vindas ao país que enfrenta, a partir de hoje, “uma nova realidade”.
Mário Centeno diz que hoje é “um dia especial” para a Grécia. A saída do seu terceiro programa de assistência marca “uma nova realidade”, em que os gregos voltam a ter o controlo.
“Hoje, [a Grécia] retomou o crescimento económico. Estão a ser criados novos empregos, há um superávit fiscal e comercial e a economia foi reformada e modernizada”, refere.
O ministro das Finanças português lembrou, ainda, que o país liderado por Prokópis Pavlópoulos voltou a ter o controlo, tomando agora as suas próprias decisões, mas alerta que “com o controlo vem a responsabilidade”.
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