//Guias intérpretes veem em 2021 “um ano perdido” e pedem que os apoios continuem

Guias intérpretes veem em 2021 “um ano perdido” e pedem que os apoios continuem

O calendário marcava 13 de março de 2020 e este dia estará na memória de muitos guias-intérpretes e correios de turismo. Os cancelamentos devido à pandemia começaram a cair em catadupa a partir desse dia. Desde então, o trabalho tem sido praticamente nenhum, as poupanças já se evaporaram. Por isso, pedem que os apoios se prolonguem porque a crise do turismo pode começar a inverter-se neste ano. Mas para os guias-intérpretes e correios de turismo 2021 está “perdido”.

Mais de um ano depois de a pandemia ter chegado com estrondo à Europa, os primeiros passos na direção da retoma gradual desta atividade económica estão a ser dados à boleia da vacinação. Os destinos de sol e praia, para já, continuam a ser dos que suscitam mais apetite em Portugal nomeadamente por britânicos. Ainda assim, e a confirmar-se a tendência registada em 2020, espaços mais isolados que permitam um maior distanciamento também vão ser requisitados. Mas o chamado turismo organizado, como eventos, conferências e até excursões internacionais, deverá continuar a ser penalizado. Os guias-intérpretes – que trabalham sobretudo com estrangeiros que visitam o território – e correios de turismo, que tipicamente trabalham nas viagens de grupo de nacionais para o estrangeiro, temem um agudizar da crise que têm vivido.

Cristina Leal, presidente da Associação Portuguesa dos Guias-Intérpretes e Correios de Turismo (AGIC), estima que em Portugal existam cerca de 1200 guias certificados, embora nem todos nesta associação. Em comum, têm o facto de quase todos serem trabalhadores independentes, tendo-se candidatado aos apoios públicos disponibilizados. O Apoio Extraordinário à Redução da Atividade Económica, que esteve ativo entre março e agosto do ano passado, funcionou bem, considera Cristina Leal. Mas o mesmo não aconteceu com o Apoio Extraordinário à Proteção Social a Trabalhadores. E depois do início do ano, estes profissionais aderiram ao Apoio Extraordinário à Redução da Atividade Económica que, termina no final de junho.

Contas feitas, Cristina Leal estima que os guias-intérpretes e correios de turismo, entre março do ano passado e junho, “se tudo correu bem”, contaram com 12 meses de apoio a uma média de cerca de 438 euros por mês. “Deu para pagar as nossas contribuições e para o resto houve pessoas que tiveram de vender património”, desabafou. Ainda assim, pedem a continuação deste apoio até ao final do primeiro trimestre de 2022, quando esperam que o turismo organizado retome, sob pena de esta profissão perder recursos humanos qualificados.

“2021 está perdido; não vai ser diferente de 2020”, diz acrescentando que lançaram um inquérito aos associados para perceber como estavam os agendamentos para junho, julho e agosto “e 89% deles responderam que não há agendamentos. Os grandes eventos, congressos, viagens culturais, necessitam de mais confiança dos mercados”. Sendo que, dos “20% que responderam que têm alguns agendamentos, são guias que criaram o seu próprio emprego”.

Perante este cenário, muitos arregaçaram as mangas e foram à procura de outra coisa, socorrendo-se da capacidade e competência que têm para falar línguas estrangeiras e para o diálogo. “Cerca de 24%, segundo este inquérito, estão a trabalhar noutros ramos de atividade. Call centres e imobiliário” sobretudo, explica. E quando o turismo der a volta, vestem a pele novamente de guias-intérpretes? “Também perguntámos isso no inquérito: 60% dos 24% que estão a trabalhar fora da atividade dizem que sim, que vão voltar. Mas há uma margem – não é um grande número – que diz “talvez””.