Famílias de grandes empresários, Estado chinês, Angola e influentes gestoras de ativos americanas. São os principais donos da bolsa portuguesa. Há 12 entidades que têm investimentos no PSI20 acima de mil milhões de euros. Controlam 40% do mercado acionista nacional.
As famílias Soares dos Santos e Amorim continuam a ter as posições mais valiosas. A posição de 56% da Sociedade Francisco Manuel dos Santos na Jerónimo Martins está avaliada em quase 4,6 mil milhões de euros. Já os investimentos de entidades relacionadas com a família Amorim na Galp e na Corticeira valem quase 4,1 mil milhões de euros.
Mas o estatuto de maiores investidores da bolsa portuguesa está ameaçado pela China. As empresas estatais de Pequim têm atualmente participações avaliadas em 3,9 mil milhões de euros na EDP e na REN. Caso a oferta pública de aquisição (OPA) sobre a EDP seja bem-sucedida, o Estado chinês aumentará significativamente o peso no mercado acionista português.
Basta que o patamar mínimo dessa operação seja atingido, a China Three Gorges ficar com mais de 50% da elétrica portuguesa, para o valor das posições controladas por Pequim na bolsa portuguesa aumentarem para 6,6 mil milhões de euros. Mas a oferta incide sobre a totalidade do capital e ainda pelos 20% da EDP Renováveis que não são detidos pela EDP, pelo que o saldo final pode ficar bem acima daquele valor.
Os investimentos chineses na bolsa portuguesa não se ficam por empresas estatais como a China Three Gorges, a CNIC (acionistas da EDP) e a State Grid na REN. Também um dos maiores conglomerados do país, a Fosun, tem apostado forte em Portugal. Detém 27% do BCP, um investimento que vale mais de mil milhões de euros, e 5,3% da REN, posição detida através da Fidelidade e que vale mais de 85 milhões.
China reforça. Angola avalia
No total, os investimentos chineses na bolsa portuguesa valem mais de cinco mil milhões de euros. O fosso para o segundo maior protagonista estrangeiro, entidades angolanas, é grande – estas participações valem pouco mais de 3,8 mil milhões de euros.
E, contrariamente à China, que pretende reforçar, têm existido dúvidas sobre a vontade de entidades angolanas manterem as posições em empresas portuguesas, devido aos processos de reestruturação que atravessam. O Jornal de Negócios noticiou recentemente que a Sonangol quereria vender uma das joias da coroa que detém em Portugal, a participação na Galp.
A empresa estatal angolana detém 55% da Esperaza Holding que, por sua vez, controla 45% da Amorim Energia, entidade que é a maior acionista da Galp da petrolífera portuguesa com uma participação de 33%. Só essa participação vale mais de 1,4 mil milhões de euros aos preços de mercado atuais.
Apesar das notícias de que a Sonangol pode estar vendedora na Galp, uma fonte da petrolífera angolana disse ao Expresso que esse investimento, “altamente valioso”, é para manter. E garantiu também que a aposta mais recente no BCP é para continuar. A petrolífera angolana detém 19,5% do banco liderado por Miguel Maya, uma participação com um valor de 737 milhões de euros.
Além da sua grande empresa estatal, Angola está também presente em Portugal através da empresária Isabel dos Santos. A filha do antigo presidente tem 45% da Esperaza Holding e controla 50% da Zopt, entidade que detém 52% da operadora NOS. A outra metade daquele veículo pertence à Sonaecom.
As posições na petrolífera e na empresa de telecomunicações têm um valor superior a 1,6 mil milhões, tornando-a na sexta maior investidora da bolsa portuguesa. Até novembro de 2017 Isabel dos Santos liderava a Sonangol. Mas o futuro da parceria com a empresa estatal angolana está em dúvida desde que a empresária foi exonerada daquele cargo por João Lourenço, que sucedeu a Eduardo dos Santos na presidência angolana.
As poderosas gestoras americanas
China e Angola são, depois das famílias de grandes empresários portugueses, as grandes donas da bolsa portuguesa. Mas no jogo de poderes nas maiores cotadas nacionais enfrentam o contrapeso de duas grandes entidades financeiras americanas. A BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, tem 1,35 mil milhões aplicados na bolsa portuguesa.
Num outro tabuleiro, o da dívida, a gestora liderada por Larry Fink tem feito críticas a Portugal. Anunciou boicotes a operações de financiamento recentes tanto do Estado como de bancos portugueses. Uma forma de protesto por ter perdido dinheiro com a decisão do Banco de Portugal de passar algumas obrigações do Novo Banco para o BES mau.
Mas mesmo prometendo boicotes, a BlackRock é uma das acionistas de referência do BCP. Tem 2,8% do banco, uma participação com um valor de 130 milhões de euros. Tem ainda posições acima de 2% na EDP, Galp, Jerónimo Martins e NOS.
Na elétrica, a maior gestora do mundo tem 5%. Vale 620 milhões de euros. Poderá ter um papel decisivo no sucesso ou insucesso da OPA chinesa à EDP. Tal como o Capital Group, que é outra das grandes gestoras de ativos americanas com presença forte no mercado nacional. Esta entidade tem quase 10% da empresa liderada por António Mexia, uma participação com um valor de mercado de mais de 1,2 mil milhões de euros.
Além da aposta na EDP, o Capital Group é ainda acionista de referência na REN. No total tem posições de 1,3 mil milhões de euros na bolsa nacional.
Portugueses em maioria
Apesar do interesse de investidores chineses, angolanos e americanos em Portugal, a grande maioria das posições de referência na bolsa portuguesas é detida por entidades nacionais. Além das famílias Soares dos Santos e Amorim, também Pedro Queiroz Pereira construiu um império no mercado nacional.
O industrial, que faleceu no passado sábado, deixa uma fortuna de mais de mil milhões de euros às três filhas, referente à posição de controlo na Semapa. Esta holding também é uma das grandes investidoras no PSI20. Detém quase 70% do capital da Navigator (ex-Portucel), num investimento avaliado em mais de 2,1 mil milhões de euros. Ainda entre os grandes investidores portugueses está a família Azevedo, com a posição na Sonae a valer também mais de mil milhões.
Também o Estado português ainda está na lista das maiores posições em bolsa. Isto apesar da venda de parte do capital da EDP e da REN durante o programa de resgate. Resta ainda uma posição de 7,48% na Galp, com um valor de mercado de mais de mil milhões de euros.
No total, os investidores portugueses detêm participações de mais de 23 mil milhões na bolsa portuguesa. Nos cálculos do Dinheiro Vivo entraram apenas os acionistas que detenham mais de 2% de uma determinada empresa, o que obriga a que essas aplicações sejam tornadas públicas.
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