
Em Portugal, há um “lobby importante” que quer que Portugal volte ao carvão”. A denúncia fez-se ouvir no debate durante a Conferência 25 anos de Energia para o Futuro que juntou dois antigos ministros e um antigo secretário de Estado da Energia.
Artur Trindade, secretário de Estado da Energia durante o Governo liderado por Pedro Passos Coelho, recordou o tempo da “troika” revelando que havia um capítulo sobre energia escrito por “não sei quem”, mas que “tinha obviamente uma agenda anti-renovável, anti descarbonização e pró-energias fósseis”.
“Queria fazer recuar o progresso que tinha Portugal tinha obtido na área da energia”, acrescenta.
Artur Trindade revela que impedir esse passo atrás foi das tarefas que lhe deu mais trabalho. “Esse recuo foi preparado por pessoas que querem que Portugal recue nas renováveis, querem que Portugal volte ao carvão”, reforçou, identificando que há “um lobby importante na sociedade portuguesa e nos media portugueses que tentaram usar esse instrumento da troika” para esse fim.
O antigo secretário de Estado defendeu ainda uma maior intervenção do setor privado, garantindo que “não vamos conseguir fazer a transição energética sem dinheiro privado”.
Ao lado de Artur Trindade estava João Pedro Matos Fernandes, antigo ministro do Ambiente e da Ação Climática. Numa retrospetiva de políticas públicas no setor, Matos Fernandes considera que o “leilão da eólica”, durante a governação de José Sócrates é um “grande momento da transformação da energia”.
Na sua intervenção, Matos Fernandes defendeu ainda que Portugal tem “a ventura de gerar 100% a eletricidade que consome e, por isso, deve eletrificar cada vez mais os consumos”.
Artur Trindade e Matos Fernandes apontaram ainda um excesso de regulamentação da União Europeia nestas matérias, considerando até que se vive um momento dificil.
“Há obviamente constrangimentos que têm a ver, por exemplo, com o licenciamento de novos projetos. Temos, de facto um processo complexo, sendo que a minha experiência me diz que aqueles que passam a vida a demonstrar-me que lá na Europa é muito mais fácil que em Portugal não têm razão”, assegura.
A terceira participante neste painel foi Assunção Cristas, antiga ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território. A antiga governante defende que são necessárias regras, mas reconhece que um excesso de regulamentação não é positivo.
“Ainda é possível fazer mais nesta parte da desburocratização e a simplificação, mas também é verdade que não se pode fazer tudo simplesmente sem regra. Isso não é possível e daria péssimos resultados”, argumenta.
Assunção Cristas identifica como sendo o grande desafio esse equilíbrio entre “o cumprimento das regras que vão no bom sentido e fazê-lo de maneira ágil”.
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