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A manifestação “Casa para Viver”, pelo direito à habitação que decorreu esta tarde em Lisboa ficou marcada confrontos entre a polícia e manifestantes na zona do Martim Moniz, em Lisboa, ao final desta tarde. Duas jovens foram detidas pela polícia, que efetuou uma carga sobre os manifestantes.
A carga policial seguiu-se a um momento em que se registaram insultos e objetos arremessados à polícia, que viu ainda várias viaturas vandalizadas.
Na origem dos confrontos estará a detenção das duas jovens, que alegadamente terão grafitado o interior de um estabelecimento. Pouco depois das 21 horas as jovens foram libertadas, na companhia das respetivas advogadas, segundo a RTP.
Vários ativistas no local queixaram-se que as autoridades reagiram de forma violenta e desproporcional, em declarações reproduzidas por vários canais de televisão.
Em comunicado já na noite de sábado, o Comando Metropolitano da Polícia de Segurança Pública de Lisboa (COMETLIS) defendeu a abordagem dos agentes, referindo que os polícias “foram cercados e atacados, através de agressões físicas”.
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Polícia agindo com truculência no Martim Moniz contra o povo que está se manifestando pelo direito à habitação em Portugal pic.twitter.com/cU8Btm12w5
– Hedflow (@Hedflow) April 1, 2023
A PSP responsabiliza as duas jovens detidas por provocarem “danos em diversos estabelecimentos comerciais, pintando as respetivas paredes e montras”.
“Os danos referidos foram presenciados por polícias que acompanhavam a manifestação. Junto à Praça do Martim Moniz, as duas manifestantes, autoras dos danos, foram abordadas para se proceder às respetivas identificações”, explica a polícia.
Nessa altura, “os polícias que procediam à abordagem foram cercados e atacados, através de agressões físicas, com contacto direto, do arremesso de pedras e de garrafas de vidro, pelo que optaram por entrar num supermercado ali existente, para se protegerem e protegerem as duas manifestantes abordadas”, pode ler-se na nota.
Um dos polícias ficou ferido na cara e outro com “dores nos membros, atingidos por garrafas”. Duas motas e duas viaturas policiais sofreram estragos.
Na praça onde acabou o protesto, a polícia e os manifestantes envolveram-se em confrontos, com os agentes de autoridade a usarem bastões e gás pimenta para dispersar a multidão, após a detenção das jovens (uma portuguesa e uma italiana). Várias pessoas e ativistas denunciaram a órgãos de comunicação no local que as autoridades reagiram de forma violenta, com a manifestação a revelar-se pacifica e sem incidentes até então
“Emergência social”
Milhares de pessoas saíram este sábado às ruas de Lisboa, Porto e de outras cidades de Portugal em protesto contra o aumento das rendas e dos preços das casas, pedindo soluções de habitação.
“Há uma grande crise habitacional”, disse Rita Silva, do grupo habitacional Habita, no protesto de Lisboa, citada pela agência Reuters. “Esta é uma emergência social.”
Presente no protesto, o ilustrador Diogo Guerra, de 35 anos, ouve diariamente histórias de pessoas que lutam para ter acesso à habitação. “Pessoas que… trabalham e estão desabrigadas, as pessoas são despejadas porque as suas casas são transformadas em acomodações de curto prazo (para turistas)”, disse à reportagem da agência Reuters, que lembra que as rendas em Lisboa subiram 65% desde 2015 e os preços de venda dispararam 137% nesse período.
“Com o meu salário, que é superior à média salarial em Lisboa, não consigo alugar um apartamento porque é muito caro”, referiu à Reuters Núncio Renzi, um comercial italiano residente na capital.
A agência lembra que salários baixos e rendas altas fazem de Lisboa a terceira cidade menos viável do mundo para se viver, de acordo com um estudo da corretora de seguros CIA Landlords.
Face à crise habitacional, agravada pela inflação, o governo aprovou um pacote de medidas para a Habitação que, entre outras coisas, acabou com o esquema dos Vistos Gold, quer implementar o arrendamento forçado de casas não habitadas e condicionou novas licenças de alojamento local.
Para os manifestantes que este sábado saíram à rua, as medidas anunciadas “não chegam”.
O diploma tem ainda de passar por Marcelo Rebelo de Sousa, que já avisou que não exclui vetar a lei ou enviá-la para o Tribunal Constitucional.
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