Chama-se Margherita mas prefere que lhe chamem Meg. O nome com todas as letras é usado em exclusivo pela versão zangada da mãe. Há cinco anos Meg trocou a Itália natal pelo Chile e depois o Chile pela Argentina. Em maio do ano passado, mais ao menos ao mesmo tempo em que entrava na lista dos 30 Under 30 da revista Forbes como uma das empreendedoras sociais mais prometedoras da Europa, Margherita Pagani aterrou em Portugal pela primeira vez. A estadia de quatro dias em Cascais, onde participou como oradora nas conferências Horasis, acabou por se transformar num visto de residência permanente.
“Foi amor à primeira vista. Quando disse a toda a gente que me ia mudar para Lisboa ninguém me levou a sério. Mas prometi a mim mesma que antes de maio de 2019 estaria a viver em Portugal. Mudei-me em dezembro do ano passado”, conta Meg ao Dinheiro Vivo, numa conversa à margem das conferências Horasis, nas quais a italiana volta a participar como oradora.
Minutos antes da conversa com o DV, Margherita tinha falado num painel sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, enquanto fundadora da Impacton. “É uma startup que funciona como um repositório de receitas, mas em vez de serem receitas de comida são receitas de impacto. Reunimos projetos que estão prontos a ser implementados em qualquer parte do mundo, e que possam ter um impacto positivo na resolução de um problema”, explica.
O projeto arrancou no final de 2017 e está sediado no Reino Unido, mas Meg está a trabalhar para trazer a Impacton para Lisboa. “Temos cinco pessoas a trabalhar a tempo inteiro e vamos lançar a plataforma nas próximas duas semanas. Estamos a considerar abrir um escritório e uma filial em Portugal. Fiquei muito impressionada com o ambiente para as startups que se vive aqui. Ainda há muito por fazer, mas sinto que os interesses públicos e privados estão muito alinhados, comparando com o que se passa no resto da Europa”.
Margherita não veio sozinha para Lisboa. Depois da edição de 2018 das conferências Horasis, Portugal não ganhou um mas dois empreendedores. Meg convenceu Marco a trocar a também a Argentina por um apartamento em Alfama. A caminho está agora a startup que ajudou a fundar em Buenos Aires, a SailGuru.
“É uma empresa que combina tecnologias como deep learning e IoT com navegação. O que fazemos é otimizar barcos à vela para tornar mais fácil a vida dos velejadores. O meu cofundador é arquiteto naval e eu trato da parte tecnológica. Na Argentina percebi que precisava de um ambiente diferente para crescer e Portugal é o sítio perfeito”, sublinha Marco Nigris.
Além das regatas semanais, Marco destaca “o talento dos recursos humanos e o ambiente de empreendedorismo” que se vive no país.
Nos próximos dois meses a SailGuru deverá instalar-se num espaço de co-work em Lisboa, para onde deverá mudar-se também a equipa que está a desenvolver a plataforma. Para já, continua à procura de investidores junto das incubadoras nacionais de startups. “Acredito que em poucos meses teremos investimento para levar a empresa para outro nível. Portugal está próximo do Mediterrâneo, onde decorre a Copa del Rey, uma regata importante, e vamos tentar fazer o lançamento da plataforma lá”. Antes, Marco será orador nas conferências Horasis, numa palestra sobre “o que é importante a ter em conta quanto damos poder às máquinas”.
Davos de portas abertas
A edição de 2019 das conferências Horasis junta em Cascais mais de 800 participantes que, juntos, valem mais do que o PIB de Portugal. Durante quatro dias, participam em debates que começam às 7h30 da manhã e só terminam perto da meia-noite. O futuro da globalização é o tema “chapéu” das discussões deste ano, mas assuntos como o Brexit ou a desigualdade nas empresas tecnológicas são omnipresentes e dão origem a trocas de palavras acaloradas.
Quem passar por estes dias no Centro de Congressos do Estoril terá grandes hipóteses de se cruzar com figuras como Durão Barroso, o presidente da Namíbia ou um ex-primeiro-ministro da Finlândia, já que os debates são abertos. É aí que reside uma das grandes diferenças das conferências Horasis em relação ao fórum de Davos, com o qual é tantas vezes comparado, não tivesse o fundador, Frank-Jürgen Richter, estado durante anos na organização do Fórum Económico Mundial.
Cristina Fonseca, uma das fundadoras da Talkdesk, participa assiduamente em ambos. Para a empreendedora, a conferência de Cascais é uma mais-valia para Portugal, no sentido em que contribui para “abrir a mente”.
“Não são apenas 800 pessoas que estão aqui reunidas, são 800 pessoas muito diversas. No painel onde falei havia representantes da Índia, da Rússia e da Suíça. O enriquecedor é esta diversidade, que nos abre perspetivas. O nosso ecossistema está um bocadinho fechado sobre si próprio. Claro que as pessoas viajam e vão a conferências, mas a competição que acabamos por ter é pequena. Este evento é interessante por isso, por trazer centenas de pessoas que pensam de maneira diferente. E resultam daqui algumas coisas concretas mas é um pouco como a Web Summit, ou seja, não é aqui que as coisas acontecem, mas acabam por acontecer organicamente”. Seja um negócio milionário entre duas empresas ou a decisão de ficar a viver em Alfama.
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