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Ao fim de uma década desafiante em que conduziu o Lloyds de uma crise profunda ao topo da banca do Reino Unido (maior banco doméstico da Grã-Bretanha), António Horta-Osório toca Londres por Zurique, preparando-se para embarcar em novos voos, agora no Credit Suisse. O nome do banqueiro será levado aos acionistas na assembleia geral do grupo, dia 30 de abril.
“António Horta-Osório vai suceder a Urs Rohner, que ao fim de 12 anos deixa a instituição em 2021, conforme anunciado”, anuncia o grupo financeiro suíço, que destaca o percurso de mais de três décadas na banca internacional, e as conquistas do banqueiro português de 56 anos. “Tendo em conta o impressionante rol de conquistas de António Horta Osório, estou certo de que será capaz de dar contribuições extremamente válidas para o êxito do nosso banco”, frisa mesmo o atual chairman do Credit, destacando as competências do português em gestão de fundos e banca de investimento global.
Para chegar ao nome de Horta-Osório, a instituição financeira suíça sublinha que analisou atentamente vários perfis possíveis para suceder a Urs Rohner, concluindo por fim que o banqueiro português era o melhor. “Num processo intensivo com foco internacional, passámos por diversas personalidades muito qualificadas mas decidimos recomendar à administração que proponha António Horta-Osório como novo chairman”, descreve o Credit.
“Estou encantado com a proposta para ser presidente do conselho de administração do grupo Credit Suisse e muito entusiasmado por poder trabalhar de perto com a administração e a equipa de gestão, de forma a construirmos sobre os muitos pontos fortes do grupo”, afirmou Horta-Osório, em reação à sua nomeação. “É um momento de grandes oportunidades para o grupo, as suas pessoas, os seus clientes e os acionistas”, concluiu o banqueiro português que já anunciara a saída do Lloyds no próximo verão.
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Leia aqui: Horta-Osório, o homem do leme que resgatou o Lloyds do naufrágio
Banqueiro defende apoios fortes mas pontuais em tempos de crise
Quando anunciou a saída do Lloyds, com efeitos a junho de 2021, Horta-Osório justificou-se com a crença de que “as pessoas não devem perpetuar-se nos cargos”. O banqueiro fechava assim um ciclo de dez anos, tendo assumido o cargo de CEO em março de 2011, a convite do governo inglês e do então ministro das Finanças, George Osborne, para liderar o turnaround da instituição.
“É com um misto de emoções que anuncio a minha intenção de deixar o Lloyds Banking Group em junho do próximo ano. Foi um enorme privilégio ter contado com o apoio de uma equipa extraordinária, tanto no conselho de administração como no conselho executivo, com a qual vou continuar a contar até terminarmos a implementação do nosso plano estratégico, contribuindo para transformar o grupo no banco do futuro”, declarou então Horta-Osório.
Liderança e acionistas não pouparam elogios aos seus dez anos à frente do Lloyds, em que conseguiu regressar a lucros apenas quatro anos depois de assumir a instituição em grandes dificuldades, o que obrigara à entrada do Estado, que assumiu uma fatia de 39% do capital. Em fevereiro de 2015, o Lloyds anunciava lucros pela primeira vez em sete anos, pagando dividendos aos acionistas, incluindo o Estado. Em 2017, o banco voltaria à esfera privada, com lucros para o Estado inglês.
Leia também: “É justo que renunciemos a todos os prémios de 2020”
Na hora de assumir novos desafios, Horta-Osório mantém ainda as funções não executivas que ocupa atualmente em Portugal, na Fundação Champalimaud e na Sociedade Francisco Manuel dos Santos. E continuará a dar contributos para a economia portuguesa, nomeadamente partilhando a sua visão.
Presente na Money Conference, iniciativa do Dinheiro Vivo que teve lugar há duas semanas, o banqueiro português defendeu que “as medidas que os governos tomaram, conjuntamente com autoridades de supervisão e com os bancos, incluindo o lay-off, as moratórias e as garantias, foram absolutamente críticas para manter a capacidade produtiva das empresas disponível para poder arrancar quando a economia retomasse”, mas esses apoios “não devem perpetuar-se” para não agravarem o défice. E alertou para desafios que o país tem de enfrentar: “o inevitável aumento do malparado na banca, o endividamento total da economia e o envelhecimento da população”. (Leia aqui toda a intervenção de Horta-Osório na Money Conference)
Sucessão no Lloyds leva outro português ao topo no HSBC
Para o lugar do português, no Lloyds, foi conhecido ontem que caberia a Charlie Nunn assumir a liderança, num momento de grandes desafios – que não se esgotam no impacto da crise pandémica, que se traduziu numa queda dos lucros de 64,4% até setembro, mas passam também pelo brexit e pelos efeitos da política monetária ultra expansionista do Banco de Inglaterra. Nunn, até agora responsável pela banca privada e gestão de fortunas do HSBC, vai receber um salário anual de 1,125 milhões de libras (1,25 milhões de euros) e um prémio fixo de 1,05 milhões de libras (1,16 milhões no Lloyds, anunciou o banco britânico, citado pela Reuters.
Para o seu lugar no HSBC entra mais um português: Nuno Matos, cuja carreira passou pelo Banco de Portugal e pelo Santander, antes de liderar o braço do HSBC Europa.
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