O banqueiro António Horta Osório considera que não existem, atualmente, sinais de que se esteja à beira de uma nova crise, mas recomenda prudência e tomada de medidas que tornem Portugal mais forte para essa eventualidade.
Questionado pelas recentes declarações de economistas como Nouriel Roubini que, numa coluna de opinião do “Financial Times”, disse prever uma próxima crise financeira e recessão global em 2020, ou do ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) Jean-Claude Trichet – que alertou para o risco do aumento das dívidas públicas e privadas em todo o mundo e do recurso à alavancagem nos mercados financeiros como antes da crise financeira -, o presidente executivo do Lloyds Bank mostrou-se mais otimista.
“É um facto que, como esses economistas dizem, as crises financeiras são cíclicas, de tantos em tantos anos, normalmente, existe algum tipo de recessão ou algum tipo de crise. Isso é normal nos ciclos económicos. Eu não vejo indicadores que mostrem que estamos à beira de ter uma nova crise, seja económica, seja financeira. O que não quer dizer que não devamos ser prudentes”, disse em declarações à agência Lusa, em Lisboa, onde esteve para dar uma palestra sobre previsões económicas na Cimeira do Turismo.
“Devemos ser prudentes e nunca embandeirar em arco. E, apesar do crescimento mundial, que está a aumentar e deve ser cerca de 4% este ano – o que é muito relevante -, devemos ser muito prudentes e tomar as medidas agora que tornem Portugal mais forte para quando, eventualmente, haja uma recessão ou uma crise. E isso significa vivermos dentro das nossas possibilidades, continuarmos a exportar bastante como temos vindo a fazer – e onde o Turismo tem vindo a ter poder crítico – e a não gastar mais do que aquilo que podemos”, acrescentou.
Para o responsável, a ajudar a afastar os receios mais pessimistas estão as perspetivas de crescimento mundial que, neste momento, “são bastante favoráveis”, reforçou.
Já relativamente às preocupações que alguns responsáveis revelam com o ainda endividamento das famílias que, como mostram os dados do Banco de Portugal, têm recorrido mais ao crédito, o que fez já com que o presidente do regulador bancário, Carlos Costa, tenha admitido pôr um travão à banca nos créditos à habitação, por exemplo, Horta Osório também desdramatiza, mas aplaude a atitude prudente.
“Acho que o Banco de Portugal tem vindo a ter exatamente uma atitude prudente, o que só lhe fica bem como regulador, fazer os avisos para os bancos serem prudentes e não terem uma atitude complacente. O crédito às famílias baixou muito após a crise, as famílias fizeram um ajustamento muito significativo e muito penoso e, neste momento, o crédito às famílias é muito mais baixo, é cerca de 20% mais baixo em percentagem do PIB do que era há 12 anos atrás. Recomeçou as crescer, o que é positivo, mas não deve crescer muito mais do que PIB [Produto Interno Bruto] nominal, que é cerca de 4%-5% ao ano. Portanto, acho que os avisos do Banco de Portugal estão dentro de uma política de ser prudente, são bem-vindos porque mais vale prevenir do que remediar e a função do regulador é exatamente fazer isso”, afirmou o banqueiro.
O potencial do “país da moda”
Sobre o Turismo, um dos setores que mais tem contribuindo para o crescimento da economia em Portugal, Horta Osório lembra que “deve ser, como tem vindo a ser, acarinhado pelas autoridades”.
“Este ano vamos ter mais de 13 milhões de turistas em Portugal, o que significa o dobro daquilo que tínhamos há 12 anos. O peso do Turismo no PIB praticamente dobrou nestes últimos 12 anos, sendo, neste momento, praticamente 9% da totalidade do que produzimos em Portugal por ano. Portanto são números muito importantes por ano”, disse.
O banqueiro considera, contudo, que aquele que é um dos setores mais importantes da economia tem espaço para crescer. “Temos visto a oferta hoteleira a aumentar, o país é um país pacífico, os portugueses acolhem bem os estrangeiros, temos todas as condições para Portugal continuar a ser o ‘país da moda’ em termos de Turismo, o que só beneficia o país”, acrescentou.
“Quando a crise financeira aconteceu tínhamos um défice da balança corrente muito importante, cerca de 10% do PIB, hoje em dia temos as contas externas equilibradas, o número de turistas dobrou, o mercado está a funcionar bem nesse aspeto, e penso que é importante o Governo ter em atenção em não prejudicar a situação e sempre que tome medidas ter em atenção que o Turismo é um setor empresarial e que, pelo emprego que cria, pelas receitas que traz, deve ser acarinhado”, concluiu.
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