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Quase um terço dos empresários do setor do turismo acredita que retoma só chegará no verão de 2022, avança um inquérito feito pela AHP – Associação da Hotelaria de Portugal divulgado esta quarta-feira.
Depois de um ano muito duro para o setor do turismo por causa da Covid-19, em que a hotelaria perdeu mais de 70% das suas receitas, é ainda com algum ceticismo que os empresários encaram a retoma. Este ano, se for, é muito tímida; mais consistente, só no verão do próximo ano.
Com muitas incertezas e sempre dependendo do evoluir da pandemia, da vacinação, da retoma do transporte aéreo e claro, das medidas de apoio às empresas e à manutenção do emprego. São algumas das conclusões do inquérito feito pela AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, a que responderam mais de 500 associados.
30% dos hotéis não deverão abrir até ao fim de 2021
Os mais corajosos, entre os que têm as unidades hoteleiras encerradas, preveem reabrir já neste mês de março. Mas são menos de 15% do total dos inquiridos pela AHP. A confiança vai aumentando até junho, atingindo os 65%, percentagem que se mantém até ao fim do ano.
Para Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP, esta situação “é muito perturbadora”: significa que mais de 30% não sabe se abre, não tem perspetivas ou não vai mesmo reabrir até ao fim do ano. Ainda assim, a percentagem daqueles que declaram encerrar definitivamente é muito residual: não chega a 0,5%.
“Muito, muito preocupante, é a região de Lisboa”. Os hotéis só pensam começar a reabrir em maio e a percentagem de aberturas cresce até julho, mas sem atingir os 60% e assim se mantém até ao fim do ano.
Lisboa e também o Porto são destinos que vivem (também) do turismo de negócios, com hotéis de preços mais elevados e que antes da pandemia, tinham grande procura.
E essa é uma das grandes incógnitas para o futuro: o que vai acontecer com o turismo de negócios e eventos, que valia 11% da receita do turismo, a nível mundial. Que impacto vai ter nas grandes cidades? Para Cristina Siza Vieira, essa é uma “incógnita brutal” para o turismo urbano.
Retoma a passo de caracol
Os mais de 500 associados que responderam ao inquérito da AHP mostram-se muito cautelosos em relação à altura em que se começará a ver alguma recuperação. Só 1% acha que ainda pode acontecer no segundo semestre deste ano, mas de forma muito tímida: “as reservas são de uma timidez confrangedora, variam entre os 23% para julho, a 25%, para setembro. E são reservas reembolsáveis, por isso, ainda temos um grande trabalho a fazer”, diz a responsável da AHP.
Mas 30% dos inquiridos consideram que só no verão de 2022 é que se poderá assistir a alguma recuperação; 37%, só em 2023 e um quarto dos inquiridos só acredita na retoma em 2024, ou seja, daqui a três anos.
A recuperação depende muito da evolução da pandemia e do processo de vacinação, nomeadamente das condições que a União Europeia vai impor para as viagens. Cristina Siza Vieira tem boas expetativas em relação ao “Passaporte Sanitário”, mas, para já, a associação considera que se devia apostar na testagem maciça para permitir as deslocações.
“É importante que haja garantias e salvaguardas e segurança para viajar e este certificado pode tranquilizar quem recebe, quem viaja e também as autoridades dos diferentes países.”
Outra condição importante para a chegada dos turistas é a retoma do transporte aéreo.
Na opinião da dirigente da AHP, Portugal precisa de três planos: de vacinação, de desconfinamento e de promoção do país.
Entretanto, as empresas do turismo continuam a precisar de apoio, tanto financeiro como para a manutenção de postos de trabalho. Cristina Siza Vieira frisa que é preciso reforçar o Programa Apoiar e são necessárias linhas específicas para o setor.
Lembra que a hotelaria – porque teoricamente não foi obrigada a fechar – continua a ter de suportar a Taxa Social Única (TSU) dos seus trabalhadores, para além de todas as despesas fixas, “porque os ativos, mesmo parados, significam uma despesa muito elevada com a sua manutenção”.
O Governo já anunciou que está a preparar medidas de apoio ao turismo e a presidente executiva da Associação de Hotelaria espera que não demorem, que “não se deixe cair a porta de entrada do turismo em Portugal, que é a hotelaria”.
2020 com quebras superiores a 70% nas receitas
Janeiro e fevereiro foram bons meses para o turismo nacional, dando seguimento ao crescimento registado em 2019, mas a Covid-19 deitou tudo por terra. No balanço de março a dezembro, a Associação de Hotelaria registou uma ocupação total de 26%, ou seja, caiu 43% em relação ao ano anterior. Os Açores, Madeira, Norte e sobretudo Lisboa, foram as regiões onde a queda foi mais significativa.
O Alentejo foi o que menos sofreu e a região que, aliás, registou a melhor performance de 2020 em todos os indicadores, desde a ocupação aos preços praticados, que ultrapassaram os 110 euros, em média.
A nível nacional, o preço médio por quarto durante o período em que as unidades se mantiveram abertas, fixou-se nos 86 euros. Ou seja, “não estivemos em saldos”, diz Cristina Siza Vieira. Mas se todo o ano fosse contabilizado, o preço médio desceria drasticamente para 22 euros/quarto.
A quebra nas receitas totais foi de 73%, ou seja, uma perda de 3.270 milhões de euros face a 2019. Quase metade das reservas foram canceladas.
O mercado nacional foi o principal da hotelaria portuguesa, seguido do espanhol e do francês. Só depois aparecem os mercados britânico e alemão que ainda assim, foram os mercados estrangeiros com maior expressão no Algarve e Madeira.
Noventa e seis por cento dos inquiridos recorreram ao lay-off simplificado para a manutenção do emprego e 75%, ao apoio à retoma progressiva. Segundo Cristina Siza Vieira, há por isso, poucos despedimentos coletivos. Mas admite que os contratos a termo não foram renovados.
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