As máscaras tornaram-se um acessório obrigatório e escondem a expressão labial, de preferência, com sorrisos. Mas os olhos também podem sorrir e expressar aquilo a que o Diretor de Recursos Humanos do Hotel Intercontinental de Lisboa chamou de “felicidade laboral”.
E esse é o clique a que os gestores, enquanto líderes de equipas devem estar atentos, sublinhou hoje Vitor Silva, no painel sobre as “Novas Formas de Trabalho e Relações Laborais”, no Congresso da ADHP – Associação de Diretores de Hotéis de Portugal, que decorreu em Fátima nos últimos dois dias.
“O sorriso natural tem que ser acompanhado de um rasgar de olhos. Mas para tudo isso ser natural, sentido e não pensado, é preciso que a pessoa esteja preenchida com princípios de felicidade. Depois desse período em que as pessoas tiveram a vida em suspensão, estiveram confinadas, viveram situações dramáticas do ponto de vista familiar ou de perda de rendimentos ou empregos, a obrigação das empresas é fazer como os treinadores: depois de fazerem, à distância, a gestão de proximidade, os gestores devem promover o aquecimento”, explica em entrevista à Renascença.
“Aquecimento” que cria dinâmicas de “salário emocional”. Para este responsável de Recursos Humanos na hotelaria, uma área em que os sorrisos são tão importantes para gerar empatia com os clientes, é muito mais do que o simples salário, prende-se com as expetativas dos trabalhadores, segurança, envolvimento e a ideia clara que tem que ser uma relação em que as duas partes ganham (win-win).
“Antes o colaborador tinha que ser muito flexível, não ter vida pessoal, trabalhar por turnos, prestar um serviço de qualidade, ter competências, falar várias línguas, trabalhar das 7 da manhã até quando Deus quisesse”, não podia ter problemas pessoais e ter sempre um sorriso rasgado. E no fim, com um salário, que é uma desgraça. Hoje, além de nos preocuparmos com as expetativas dos nossos clientes, temos que estar alinhados com as expetativas dos nossos colaboradores, de os ver como indivíduos completos e de os valorizar a todos os níveis”, diz Vitor Silva.
Para o gestor, “é preciso que as pessoas tenham tempo para si quando precisam de tempo”, tem que haver retorno pelo seu envolvimento. E as empresas, se ainda não estão preparadas para esta mudança, já deviam estar. O sorriso tem que estar nos olhos e atrás da máscara”.
E por isso, conclui que “nesta altura do campeonato” mais do que falar em “salários mais altos” deve falar-se no “salário emocional”.
Falta de quadros qualificados aumenta vencimentos
A falta de quadros qualificados na fase pós-pandemia foi uma das questões que atravessou quase todas as intervenções no Congresso da ADHP. Sendo o turismo um dos mais afetados pela crise, muitos foram os quadros que tiveram e aproveitaram as ofertas de outros setores.
Sandrine Veríssimo, diretora regional da agência de recrutamento Hays revelou que logo a seguir ao primeiro confinamento, houve uma retração na procura de profissionais, mas no segundo, já este ano, foi diferente.
“As empresas readaptaram-se rapidamente. Houve mais procura e algumas competências foram postas à prova”. As tendências tendem para a procura de perfis na área digital, de comunicação e de direção de hotéis. “Muitos destes profissionais são procurados por várias empresas; já os perfis operacionais registaram uma redução da procura”, disse Sandrine Veríssimo.
No entanto, considera que “ainda há um caminho a fazer nas remunerações no setor da hotelaria e turismo”. Num mercado dinâmico, apesar da pandemia, o candidato pode escolher e por isso é importante que as empresas tenham capacidade de reter os seus melhores profissionais. “São ativos importantes e não um custo”, alerta a diretora desta empresa de recrutamento.
Livro Verde realça importância das competências
Depois de discutido com os parceiros sociais, o Livro Verde sobre o Futuro do Trabalho entre em discussão pública a partir de 2ª feira.
As novas formas de trabalho, como as plataformas ou o teletrabalho à distância, que se acentuou com a pandemia, a robótica, a digitalização, são vertentes abordadas no Livro Verde. “Mas também as competências, tão fundamentais para qualquer setor, mas para o turismo, em particular” frisou a Diretora Executiva, Ana Lima Neves.
“Esse poderá ser o principal contributo, para a atração e manutenção de talento, o que se revela uma vantagem competitiva. A formação profissional é muito importante, mas para a especialista, o turismo também pode beneficiar claramente de algumas novas formas de trabalho, como o teletrabalho. Ou o prestado pelos chamados “nómadas digitais”, que o governo quer atrair para Portugal.
No entanto, Ana Lima Neves chama a atenção que, sobretudo as gerações mais jovens, procuram um bom salário, mas igualmente outras condições de vida mais saudável e sustentável além de experiências gratificantes. O que também pode ser uma oportunidade para o Interior, se forem feitos os indispensáveis investimentos nas infraestruturas e conectividade.
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