//Houve gestores que “não entenderam o que assinaram” na pior operação da CGD

Houve gestores que “não entenderam o que assinaram” na pior operação da CGD

A operação mais ruinosa da CGD foi assinada no final de 1999 e resultou em perdas de 340 milhões de euros. Para António de Sousa, que liderou a Caixa entre 2000 e 2004, a operação Boats Caravela “era muito complexa”. O antigo responsável considera que “vários dos membros do Conselho de Administração não entenderam bem o que estavam a assinar”.

Esse negócio, feito com o Credit Suisse, foi fechado no final de 1999 ainda durante a administração de João Salgueiro na CGD. Em resposta a questões do deputado do PS, João Paulo Correia, António de Sousa considerou, na II Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da CGD, que o seu antecessor no banco “não se apercebeu de qual era o risco da operação”. A Boats Caravela teve de ser provisionada a 100% e acabaria por resultar em perdas de 340 milhões de euros para o banco público.

João Paulo Correia apontou o dedo a António Vieira Monteiro, atual chairman do Santander Totta que em 1999 era vice-presidente do banco público, culpando-o por essa operação. O deputado considera que esse negócio apenas foi feito para “salvar os resultados” da CGD nesse ano. Mas António de Sousa disse não ter a certeza se teria sido Vieira Monteiro a promover a operação Boats Caravela.

O que era a Boats Caravela?

Na explicação de António de Sousa, na Boats Caravela a CGD assumiu um instrumento financeiro constituído por obrigações que “tinham dentro delas um conjunto de créditos sobre instituições estrangeiras”. A contraparte era o Credit Suisse e caso existissem perdas nesses créditos de entidades estrangeiras a CGD teria responsabilidade numa das partes. Em troca desse risco, o banco público recebeu uma taxa de juro inicial generosa, que lhe permitiu compensar perdas com outros títulos que ameaçavam o capital da sucursal em França e do seu banco em Espanha.

O problema é que “logo nos primeiros tempos se teve de assumir perdas” com esse instrumento, revelou António de Sousa. O antigo presidente da CGD concordou com a interpretação de Mariana Mortágua sobre esse negócio. A deputada do Bloco de Esquerda questionou se o problema era a CGD não ter controlo sobre os créditos em que assentavam as obrigações Boats Caravela.

Esse era “o maior risco”, respondeu António de Sousa. Explicou que “o tipo de créditos que estavam na tranche [pela qual a CGD era responsável] eram revistos de alguns em alguns meses e podiam ser alterados pela contraparte, o Credit Suisse”.

No contrato era estipulado, no entanto, que nessa tranche não poderiam ser incluídos créditos a entidades com rating diferente. Mas António de Sousa diz que o Credit Suisse “jogava por antecipação e nunca mudavam para melhor crédito mas para pior”, identificando as instituições em que o risco de crédito poderia vir a sofrer agravamentos.

E concluiu: “A operação era toda ela arriscada e se não fosse assim como é que tinham pago tanto à CGD para ficar com aquele risco?”

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