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Com cerca de dois anos de vida, a mediadora imobiliária Zome – que nasceu da união entre duas empresas do setor imobiliário, no mercado há mais de duas décadas – faturou em 2021 mais de 22 milhões de euros. Tem planos para cruzar fronteiras e a ambição de continuar a crescer.
Com as eleições legislativas à porta, e desafiada a responder quais deveriam ser as prioridades em termos de habitação, a CEO, Patrícia Santos, não hesita em salientar a necessidade de todos os agentes do setor se unirem, até porque “não se pode esperar que seja a esfera privada a resolver um problema que é público” – e, por isso, responsabilidade dos governos. E se nem a pandemia travou o imobiliário, que deu sinais claros de resiliência, a expectável elevada procura deverá ser sinónimo de continuação de crescimento do setor, eventualmente com maior espaço à reabilitação nos grandes centros urbanos e com algum foco na descentralização.
Patrícia Santos admite que tanto 2020 como 2021 “foram anos desafiantes”, mas nada que atrapalhe muito quem tem duas décadas de experiência no mundo do imobiliário. “Desafios há sempre.”
Olhando em retrospetiva para o ano que acabou, a CEO da Zome não tem dúvidas de que o “saldo é bastante positivo”.
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“Conseguimos ser mais produtivos do que a concorrência quando vemos os dados que são anunciados”, aponta, acrescentando que a “produtividade dos nossos hubs, as típicas agências imobiliárias,” foi de mais “23% por agência do que a maior rede nacional”.
“Em termos de resultados, já temos dados ao fecho de novembro [faltando os números de dezembro] e tivemos 22,2 milhões de euros em faturação. E 5300 transações. Somos 22 hubs a nível nacional o que representa um incremento de 46,7%, relativamente ao ano anterior”, revela a responsável, em entrevista. Durante 2020 e 2021, a Zome não despediu ninguém e até reforçou quadros com a contratação de mais pessoas.
O plano para o próximo ano já está desenhado. Estando já presente no mercado espanhol, a mediadora imobiliária 100% portuguesa quer apostar na expansão internacional para lá da Península Ibérica. Assim, além de “reforçar a expansão nacional”, a empresa está “a concluir um trabalho com a Deloitte no que respeita à expansão internacional. Estamos em Espanha e queremos continuar a alargar a nossa presença na Europa”, e esse estudo vai indicar os próximos destinos.
Desafios do setor
É quase um problema crónico da sociedade portuguesa: falta de habitação a preços que a maioria das famílias possam pagar. No passado recente, tanto o governo como algumas autarquias têm implementado políticas que apostam, nomeadamente, no arrendamento a preços mais baixos do que os comummente praticados pelo mercado. E no entanto, o problema resiste a todos os esforços.
Ao contrário do que aconteceu com outros setores de atividade, o imobiliário deu sinais claros de resiliência durante estes quase dois anos de pandemia. Os piores receios, apontados no início, de que o setor poderia ser contagiado pela covid e sofrer uma travagem a fundo, não se confirmaram. Pelo contrário. Persiste uma elevada procura por casa e os preços continuam a subir, embora tenham abrandado um pouco o ritmo.
“Há vários desafios no mercado imobiliário residencial, nomeadamente aquele que é o grande desequilíbrio entre a procura e a oferta”, sublinha Patrícia Santos. “Os preços continuam a subir. O que observamos é que o valor médio da avaliação bancária de setembro de 2020 a setembro de 2021 – dados do INE – aumentou em 9,5%. O que conseguimos avaliar dos imóveis que vendemos foi um aumento de 5,5% no valor médio de venda. Os preços continuam a subir, embora cada vez menos, e este desequilíbrio entre a oferta e a procura é o que está a causar o problema, porque não há construção nova”, acrescenta.
Antes da pandemia, Portugal era já bastante apetecível para os estrangeiros, uma tendência que se manteve, tanto pela imagem de segurança – que já existia e que continuou – como por questões sanitárias. “A pandemia veio pôr mais a nu esta situação e a grande procura que tivemos foi por parte de estrangeiros. Além disso, com a pandemia, há atrasos na construção nova – tanto na conclusão dos prédios como nos processos de licenciamento em curso. E neste momento há uma falta enorme de produto”, nota a CEO da Zome.
Patrícia Santos identifica ainda um desafio adicional: há um desfasamento entre o que é a oferta do parque habitacional e a capacidade económica real dos portugueses.
Estratégia para habitação
Para o dia 30 de janeiro estão marcadas eleições legislativas antecipadas. Desafiada a definir qual deveria ser a prioridade em termos de habitação que o próximo governo deveria assumir, Patrícia Santos não tem dúvidas: conhecer as necessidades e juntar todos os atores na mesma mesa, porque o problema não pode encontrar uma solução unilateralmente.
“O mais importante é percebermos aquilo que é a procura. Neste momento, há um desfasamento entre o que as famílias procuram e a oferta habitacional que existe. É extremamente importante haver esse entendimento de que produto é necessário colocar no mercado. E, depois, encontrar soluções financeiras que vão ao encontro da capacidade financeira das famílias. Quando olhamos para esse aspeto, percebemos que tem havido uma evolução grande naquilo que tem sido o tipo de procura no crédito à habitação. Historicamente, Portugal é um país que sempre recorreu muito a taxas variáveis ao contrário do que é a tendência em outros países da Europa. Vemos que 2019 e 2020 foram anos em que já começou a aumentar – face ao que era marginal – o crédito em taxa fixa. Tudo isto só funciona se todos os setores trabalharem de mão dada”, defende.
Vítor Pereira, membro da Comissão Executiva do Bankinter, que lidera as áreas de Produtos, CRM, Marketing e Canais Digitais, reconhece que, no caso desta entidade bancária, a “taxa fixa tem vindo a ser cada vez mais uma opção” dos clientes que procuram crédito para comprar casa. E justifica essa opção com um maior leque de soluções disponibilizadas, mas “sobretudo pela valorização do fator estabilidade que a mesma proporciona. Sendo o encargo com a habitação uma das mais relevantes despesas no orçamento das famílias, a eliminação do risco de subida das prestações, pela volatilidade em alta das taxas de juro, é claramente uma vantagem e sobretudo uma segurança de longo prazo”.
A líder da Zome sinaliza ainda que a falta de habitação não é “um problema que os construtores vão resolver sozinhos; ou que o governo resolva sozinho. É um tema que tem de levar à mesa toda a cadeia, a debater como é que, do início ao fim da linha, se consegue encontrar uma solução sustentável para o problema do parque habitacional português e a capacidade económica” das famílias.
Imobiliário em 2022
Com os centros urbanos sob pressão, com pouca possibilidade para construção nova no coração de cidades como Lisboa e Porto, a reabilitação pode ser uma das tendências de 2022, bem como a descentralização.
“A nossa expectativa para este novo ano é que o mercado continue a crescer. No que diz respeito à mediação imobiliária, prevemos a continuidade do crescimento, precisamente pelo que tem sido a continuidade da procura”, assinala Patrícia Santos. “O que temos observado é que se começa a descentralizar a procura. Os grandes centros urbanos estão pressionados pela falta de oferta e o que começamos a sentir é que as pessoas começam a procurar nos arredores dos grandes centros. Temos sentido aumentos nas periferias do Porto, de Braga e de Lisboa”, concretiza a responsável.
Além da pressão existente nas cidades, poderá haver outro fator desencadeado pela pandemia que está a levar as pessoas a sair dos grandes centros. O teletrabalho entrou no mundo das empresas quase como uma obrigação logo no início da pandemia, quando não existiam nem medicamentos nem vacinas para travar a propagação da covid. A pouco e pouco foi-se entranhado e há várias empresas – em setores de atividade mais ligados, por exemplo, aos serviços e tecnologia – que já deliberaram que o trabalho remoto é para manter, seja totalmente seja a tempo parcial.
“Sinto também que, em 2022, a reabilitação poderá ser uma solução. E temos vindo a observar um aumento nesse campo. Mas isto depois prende-se com a questão da celeridade com que as licenças vão sair. Mas em termos de pedidos, temos observado um crescimento quer de pedidos de licença para construção quer para reabilitação”, acrescenta.
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