Fundada há 24 anos, a Malo Clinic está presente em 66 cidades e 22 países. O grupo, fundado por Paulo Maló, distribuiu sorrisos pelos quatro cantos do mundo com sucesso. Mas, apesar de facturar 30 milhões por ano, acumulou 70 milhões de euros em dívidas. O maior credor, o Novo Banco, acabou por executar as ações da empresa quando entrou em incumprimento.
Para resolver o problema, Maló recorreu ao fundo de capital de risco “Atena Equity Partners”, especializado em recuperação de empresas, a quem vendeu as ações do grupo por quatro milhões. Foi este fundo que, em agosto, aderiu ao Processo Especial de Revitalização (PER), através do qual conseguiu um acordo extrajudicial vantajoso para a empresa, mas com custos para o Estado.
Contribuintes perdem 30 milhões
Contas feitas, directa e indirectamente, o Estado perde cerca de 30 milhões para manter aberta a rede de clínicas dentárias da Malo e os postos de trabalho.
No âmbito do processo de revitalização, fica acordado um perdão superior a 40 milhões de euros, ou seja, mais de metade da dívida.
Entre os 19 credores, destaque para o Novo Banco, com quase 80% dos créditos, que aceitou perdoar mais de metade, 25 milhões. Em resposta ao Jornal de Negócios, fonte oficial do Novo Banco recusou comentar “casos concretos”, mas diz que “o Novo Banco tenta com o seu voto apoiar, quando possível, soluções que preservem os postos de trabalho e a atividade de empresas em processo de recuperação.”
Aos credores comuns foram impostas perdas de 90%. É o caso da CGD, que irá recuperar 10% de 6,9 milhões. À Segurança Social o grupo Malo deve 1,7 milhões.
Entre os credores comuns estão ainda nomes como a SAD do Sporting, a Câmara Municipal de Loulé, a Sociedade de Advogados PLMJ ou o Guimarães Shoping.
O grupo tem agora dez anos, que incluem dois de carência, para pagar a dívida, reduzida agora a 27 milhões de euros.
Além do perdão de dívida, o PER inclui ainda o encerramento de clínicas, não só no estrangeiro, onde estão identificados os problemas, mas também em Portugal. Serão fechadas as clínicas de Sintra, Guimarães e Loulé, que passam a ser servidas por Lisboa, Porto e Faro ou Portimão, respetivamente.
Maló Afastado da empresa
A Malo Clinic vai deixar de contar com o fundador, Paulo Maló. É um corte umbilical e definitivo.
Em agosto, quando foi anunciado o PER, só estava previsto o afastamento de Maló da administração, mas não da actividade clínica. Mas, agora, o afastamento do fundador do grupo é definitivo.
A empresa já comunicou aos trabalhadores o afastamento de Paulo Maló, segundo confirmou fonte oficial ao “Expresso”, “o Dr. Paulo Maló não prosseguirá qualquer função no grupo”.
Paulo Maló já não exercia funções em Portugal nos últimos anos, apenas nas clínicas internacionais. Um comité de médicos já tinha assumido a responsabilidade das clínicas nacionais.
Novo Banco e CGD vão atrás da fortuna de Maló
À semelhança do que aconteceu no caso Berardo, os bancos decidiram executar o património pessoal do fundador do grupo Malo.
O médico e empresário deu avales pessoais para cobrir os financiamentos às empresas, o que permite agora ao Novo Banco e à CGD avançarem com a execução do património pessoal. Uma medida que já está em curso, segundo o Jornal de Negócios.
Segundo a listagem provisória do administrador judicial, existem créditos no valor de 54,9 milhões de euros, suportados por vários tipos de garantias, e 15,6 milhões de créditos comuns.
Maló queria ser credor… mas ainda vai receber pelas patentes
Paulo Maló, que deixou as clínicas com uma dívida de mais de 70 milhões, chegou a reclamar um crédito de 2,6 milhões, no âmbito do Processo Especial de Revitalização do grupo, mas o crédito não foi reconhecido. No entanto, o médico dentista tem ainda direito a receber pelos tratamentos que desenvolveu e patenteou.
Em causa estão tratamentos, ao nível da implantação dentária, o All-on-four e o CAD CAM. O fundo Atena Equity Partners, que adquiriu o grupo, está a negociar o pagamento destes direitos, segundo o “Correio da Manhã”.
20 milhões em Visa e Mastercard não reconhecidos
O administrador de insolvência não chumbou apenas os créditos de Paulo Maló, a Unicre, gestora da rede Visa e Mastercard, também não foi reconhecida como credora das Clínicas Malo.
A Unicre reclamou um crédito comum de 20,8 milhões. No entanto, o administrador de insolvência considerou que o valor não foi justificado. Além disso, os pagamentos através de cartão resultam de um contrato, entre a clínica e o utilizador individual do cartão.
Neste momento as Clínicas Malo estão sob administração judicial, para executar o processo especial de revitalização. É necessário negociar com todos os credores ao mesmo tempo, com o objectivo de recuperar a empresa.
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