A indústria automóvel em Portugal corre “risco de declínio”, alerta um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), apresentado esta terça-feira, em Lisboa.
O setor, com um peso importante no PIB e nas exportações nacionais, está assente em “supressão salarial” e está dependente de material importado e de motores de combustão, indica o documento.
“O setor automóvel português é caracterizado por um controlo de custos através da supressão salarial, de baixo investimento na subida na cadeia de valor, da dependência de produção de motores de combustão interna, e de um conteúdo relativamente elevado de elementos importados nas exportações, o que suscita preocupações quanto ao facto de o setor estar aprisionado num segmento da cadeia de abastecimento de baixo valor acrescentado”, refere a OIT.
O investimento direto estrangeiro foi determinante para a instalação de fábricas de automóveis em Portugal, mas esse dinheiro foi “atraído pelos baixos custos e pela disponibilidade de mão-de-obra qualificada”, sustenta.
OIT alerta para crise de desigualdades
Na apresentação do relatório, o diretor-geral da Organização Internacional para o Trabalho alertou para os perigos de as sucessivas crises provocarem desigualdades laborais crescentes.
Guy Ryder falava esta terça-feira na abertura da conferência de apresentação de um estudo sobre o futuro do trabalho no setor automóvel, onde esta crise também foi visível, e apontou os principais alvos destas desigualdades: mulheres jovens e trabalhadores informais.
“Penso que o que estamos a assistir hoje é a uma crise de desigualdades. A pandemia já tinha mostrado disparidades pré-existentes de uma natureza dramática e isto também é verdade na Europa. As crises aumentam as desigualdades: mulheres trabalhadoras, jovens trabalhadores , informais, precários, todos eles estavam em desvantagem e ficaram pior. Isto é verdade também para o setor automóvel. A menos que façamos alguma coisa para parar isto, esta crescente desigualdade irá aumentar no futuro e isto é um perigo”, alerta o diretor-geral da OIT.
Guy Ryder apontou o perigo futuro das crescentes desigualdades laborais e como solução o diálogo entre o eixo Estado -empregadores – trabalhadores.
“Podemos organizar o trabalho de maneira diferente. Estados e governos podem intervir de uma maneira e a uma escala que ninguém podia imaginar. Os empregadores e os trabalhadores podem encontrar soluções em conjunto através do diálogo”, sublinha.
A apresentação do estudo decorreu no Museu da Eletricidade, em Lisboa, e contava inicialmente com a presença do primeiro-ministro, entretanto cancelada devido à deslocação de António Costa a Haia, ainda esta tarde.
Em substituição do primeiro-ministro nesta conferência esteve o secretário de Estado da Economia, João Neves, que defendeu uma valorização dos salários que possa acompanhar a mudança da alteração das competências que está associada às mudanças do modelo económico.
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