Menos ingleses. No ano passado, a instabilidade político-social vivida no Reino Unido foi decisiva para a quebra do número de turistas britânicos de visita a Portugal. A queda de 5,76% não surpreende, só que desta vez não vem sozinha. No ano passado, alemães, holandeses, franceses e italianos também cortaram as suas visitas a Portugal, mostra a atividade turística divulgada ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
“O Algarve e o País, em geral, estão a perder competitividade para outros destinos turísticos por dois tipos de razões: o regresso da normalidade de destinos turísticos concorrentes, como a Turquia, Egito ou Tunísia e por uma segunda razão de ordem económica, que é a desvalorização da libra face ao euro, e das moedas destes países que estão a regressar à normalidade e que os torna mais competitivos em relação a nós”, explica ao Dinheiro Vivo Elidérico Viegas, presidente da AHETA, a associação que representa os hoteleiros do Algarve.
A quebra da procura pelos mercados tradicionais foi decisiva para que o número de estrangeiros em Portugal praticamente estagnasse em 2018 (+0,4%) e o turismo travasse a fundo depois de três anos de forte crescimento.
A suportar o setor estiveram os norte-americanos e os brasileiros. Embalado pelo stopover da TAP, que convida os estrangeiros a ficarem no país sem pagar mais pela viagem, Portugal viu chegarem em 2018 mais 138 mil norte-americanos. Foi um aumento de 20% face ao ano anterior que compensou o travão dos mercados europeus. Além disso, os brasileiros continuaram e chegar em força. Foram mais 74 500, um aumento de 8,6%.
Também houve mais portugueses a viajar (+3,9%), ajudando o turismo a voltar a romper o recorde do ano anterior. Feitas as contas, Portugal recebeu 21 milhões de hóspedes, mais 1,7% do que em 2017. Os proveitos totais, por sua vez, somaram 3,6 mil milhões, mais 6%, liderados pela região Norte. Mas as estadias estão mais curtas e isso refletiu-se nas dormidas registadas no ano passado, que praticamente estagnaram, com os estrangeiros a travarem (-2%) e os portugueses a evitarem maiores quedas.
É hora de realinhar prioridades, diz Elidérico Viegas. “O discurso do melhor ano de sempre continua. O problema é que a procura não foi consolidada, não se fizeram investimentos estruturantes, não houve uma valorização e requalificação de zonas turísticas degradadas”.
O governo e Turismo de Portugal têm feito uma aposta na diversificação dos destinos turísticos e na qualificação da oferta. A propósito do Dia Mundial do Turismo, Ana Mendes Godinho, com a tutela desta área, lembrou que o objetivo é “crescer cada vez mais em valor, atingindo os mercados que gastam mais e também levar a que quem vem a Portugal deixe cá mais valor, em todo o território, e levar cada vez mais a riqueza que o Turismo está a gerar a todo o território”.
O abrandamento da atividade turística refletiu-se na prestação das exportações e, consequentemente, no crescimento do PIB. A economia portuguesa avançou apenas 2,1% no ano passado, 0,2 pontos abaixo das previsões de Mário Centeno.
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