//Inteligência Artificial. “Ser humano não vai ficar fora de moda”

Inteligência Artificial. “Ser humano não vai ficar fora de moda”

Cassie Kozyrkov já foi, em tempos, uma das vozes mais interventivas na Google. Hoje em dia, oferece os seus serviços de “optimização de decisões” a líderes mundiais e foi nessa condição que veio, esta quarta-feira, à Web Summit falar sobre o futuro do trabalho. A cientista de dados subiu ao palco principal do certame para acalmar os mais assustados com fenómenos como o ChatGPT: Não, os robots não nos vão roubar emprego – são apenas uma mera “ferramenta usada por humanos” e a inteligência artificial não tem a capacidade de “pensar por nós”.

Munida dos velhinhos – mas eficazes – Powerpoint, Cassie começou por recordar à multidão que a Inteligência Artificial (IA) não é uma novidade. Antigamente, no entanto, era “discriminativa”, ou seja, servia para “rotular coisas”. Agora, é “generativa” e cria “exemplos plausíveis”… mas “comete erros”.

Por isso, o papel humano neste processo, diz Cassie, não está em perigo. “É sempre preciso o escrutínio de um humano que olhe, por exemplo, para imagens geradas e escolha uma”, diz, entendendo que a IA apenas “encurta o tempo entre pensar e executar”. “O pensamento é sempre cem por cento humano em todas as etapas do processo”, confirma.

Confuso? Cassie usa Marcel Duchamp e o seu célebre estilo “ready-made” para relembrar que, antes do artista, um urinol era apenas um urinol… foi a criatividade do francês que fez arte. “A quem daríamos crédito, neste caso? Ao Duchamp ou à empresa que fez o objeto? A arte é do artista humano. Não é maravilhoso ele ter tido a oportunidade de completar a sua visão mais rapidamente, em vez de ficar ‘preso’ ao que consegue fazer?”, questiona.

Fascinada com a oportunidade, Kozyrkov fala numa “revolução generativa” a acontecer enquanto a IA for “crua” – é uma “oportunidade sem par para se ser criativo”, entende, especialmente porque vivemos uma “era da democratização dos sistemas”: todos temos acesso às primeiras ferramentas da mesma forma e podemos usá-las como quisermos. “Não há desculpas para não se experimentar”, desafia.

Testar e confirmar são, por isso, fundamentais – e pode mesmo estar aí a chave do emprego do futuro… Cassie dá exemplos: podemos pedir ao ChatGPT que nos escreva um poema em inglês mas, se não percebermos inglês, podemos estar a declamar frases sem sentido. “Podes pedir que te escreva em código mas, se não perceberes de código, como vais saber se está correto?”, indaga.

O problema está à vista e tem um nome: confiança, coisa que não abona neste admirável novo mundo, explica a cientista. Como é que a IA poderá mudar isso? “É preciso testar, monitorizar, manter”, refere. Assim, conjeturamos um futuro promissor para profissões que incluam “tomar decisões”, ser criativo, comunicar, desenhar, resolver problemas e colaborar. Vamos sempre, adianta, precisar de especialistas nas mais diversas áreas que possam corroborar o que a IA emitiu, que percebam o contexto e a situação, que verifiquem o que está certo e errado. E em grande número, uma vez que estamos, agora, a tentar “construir arranha-céus”: “Vamos ter de aprender a trabalhar juntos”.

“Há todo um futuro para construir e vamos precisar dos melhores de nós para o fazer. Ser humano não vai ficar fora de moda”, assegura.

Quanto mais material for gerado com recurso a IA, mais pessoas vamos precisar para o verificar. “O futuro é dos engenheiros, porque são pessoas a quem atiramos um problema, olham para as ferramentas que têm disponíveis e arranjam uma solução interessante”, vaticina.

“Não dá para substituir os especialistas… Quem vai confirmar que as coisas estão certas? Tomar decisões, perceber o porquê continuam a ser importantes”. Mais: tornam-se ainda mais relevantes. “Estas coisas vão continuar a ser cem por cento humanas, aconteça o que acontecer”, assegura.

Desta forma, Cassie acredita que a função mais importante continuará a ser de um humano: pensar. O executar pode ficar para o “robot”…

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