Em 2012 as autoridades do Gana arrestaram um navio da marinha argentina que tinha atracado no país africano. Os militares sul-americanos ainda empunharam as armas aos oficiais de justiça ganeses. Mas isso não impediu que a fragata Libertad fosse apreendida durante algumas semanas. Esse incidente diplomático foi originado por um pedido de arresto solicitado por um fundo liderado por Paul Singer. O objetivo era recuperar um valor considerável de dinheiro em obrigações argentinas que tinham sido compradas já em situação de incumprimento.
Este é um dos muitos episódios que levaram a Bloomberg a considerar Paul Singer como “o investidor mais temido do mundo”. A aposta mais recente do gestor´é a EDP. O presidente da ATM – Associação de Investidores, Octávio Viana, diz ao Dinheiro Vivo que “a entrada da Elliot no capital da EDP é um fator muito positivo. Garantidamente é a melhor notícia que qualquer investidor minoritário pode ter em termos de participações sociais”.
Tendo em conta o modus operandi nos investimentos mais recentes do gestor, adivinham-se estratégias ativistas que visem maximizar os lucros desse investimento. A Elliot Management, o fundo de Singer, tem-se especializado em fazer subir os preços em situações de ofertas públicas de aquisição, tem forçado a venda de ativos, promovido fusões ou exigido alterações na administração.
Ida a jogo na OPA?
Paul Singer construiu uma posição relevante na elétrica portuguesa a 10 de outubro, o dia em que o antigo segundo maior acionista deixou de ter ações da EDP, altura em que as ações negociavam em 3,05 euros, 2,8% abaixo dos 3,14 euros propostos pela CTG. O gestor, que ganhou a alcunha de “abutre da Argentina”, detém 2,29% da cotada que está a ser alvo de uma OPA da China Three Gorges. Na data em que a participação foi anunciada valia cerca de 260 milhões de euros. Aos preços atuais essa posição vale 255,7 milhões.
Singer tem estado ativo em cotadas europeias que foram ou que teriam potencial para serem alvo de ofertas de compra. Constrói posição nessas empresas para depois pressionar uma subida do preço na OPA. É considerado o mestre desta estratégia. No ano passado conseguiu subidas de até 25% do preço em empresas alvo de OPA, caso da compra da japonesa Hitachi Kokusai pelo fundo KKR. E está a lançar cada vez mais campanhas deste tipo. Questionada pelo Dinheiro Vivo sobre se o objetivo do investimento na EDP seria esse, fonte oficial da Elliot Management não quis comentar.
Mas Octávio Viana realça que o objetivo de Singer pode não ser tão simples como a pressão para uma subida de preço na OPA: “o objetivo pode ser muito mais profundo que isso. Podem estar interessados em sinergias noutras geografias ou mesmo noutras empresas, como os parques eólicos da EDP nos EUA. Não se deve olhar para a atuação da Elliot apenas por aquilo que aparenta”.
E quando Paul Singer define uma meta dificilmente não a cumpre. “Nunca vi a Elliot perder e atinge sempre os seus objetivos. Em Portugal estão juridicamente muito bem assessorados em matéria societária e de valores mobiliários”, diz Octávio Viana.
Não é a primeira vez que Paul Singer sobrevoa o mercado português. Em 2014, após ser noticiado o investimento ruinoso da Portugal Telecom (atual Pharol) na Rioforte, a Elliot Management começou a apostar na queda das ações da operadora. Dois anos depois, os fundos de Singer viriam a mostrar interesse em investir na Oi, já depois da operadora brasileira estar em processo de recuperação judicial.
Singer investiu também na Oak Finance, um veículo montado pelo Goldman Sachs para financiar o BES pouco tempo antes da resolução. Tem, em conjunto com outros investidores, contestado judicialmente a decisão do Banco de Portugal de que aquele financiamento era responsabilidade do “BES mau” e não do Novo Banco.
Pressão nas administrações
Nas estratégias ativistas que utiliza para maximizar o lucro, Paul Singer tende também a colocar pressão nas administrações das empresas. Na italiana TIM, por exemplo, forçou a substituição de vários administradores. A Bloomberg diz mesmo que o gestor é uma fonte de receios para qualquer CEO. Octávio Viana considera, no entanto, que “para a administração [da EDP] deve ser um motivo de orgulho ter um acionista como a Elliot”. Mas ressalva que “também deve preocupar-se em ter uma boa corporate governance e respeitar os minoritários”.
António Mexia desvalorizou a entrada deste acionista. Em declarações aos jornalistas, à margem da assinatura de um financiamento do BEI, o líder da elétrica disse que “os acionistas são sempre livres de entrar e de sair” e que “cada um faz o seu papel”. Salientou que a missão da administração era “defender de forma muito clara os interesses da empresa, dos seus acionistas, dos seus trabalhadores, e dos nossos clientes”.
Casos em que Paul Singer se intrometeu em OPA
Hitachi Kokusai
A Elliot construiu uma participação de cerca de 5% na nipónica Hitachi Kokusai após a tentativa de compra da empresa por parte da KKR ter falhado. O fundo de Paul Singer promoveu nova oferta que foi concluída com um preço 25% acima da oferta original.
Arcam EBM
A General Eletric já tinha visto negócios falharem devido a Paul Singer. E para ser bem-sucedida na compra da Arcam EBM, uma empresa que produz implantes ortopédicos e material para a indústria aeroespacial, não teve outro remédio que aumentar o preço em 20%. Isto depois de a Elliot ter comprado 10% da Arcam.
NXP
A americana Qualcomm, a maior fabricante de chips para telemóveis, queria comprar a rival holandesa NXP por 38 mil milhões de dólares. Elliot entrou no capital da empresa alvo da OPA e pressionou para uma subida de preço. A Qualcomm aumentou a parada para 44 mil milhões de dólares. Mas o negócio seria travado pelo regulador chinês.
Com Bárbara Silva
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