A crescente tensão política entre Bruxelas e o governo de Giuseppe Conte e o anúncio de que o défice de Itália deverá atingir 2,4% do PIB e não os 2% esperados estão a assustar os mercados. Os investidores estão a desfazer-se de ativos italianos há quatro sessões consecutivas. Os juros da dívida soberana italiana a 10 anos subiram ao nível mais alto em quatro anos e meio e estão a aproximar-se dos da Grécia. Um risco para quem detém títulos de dívida soberana em carteira. Os principais bancos portugueses, por exemplo, detêm cerca de 1900 milhões de euros em dívida soberana de Itália. A banca portuguesa tem vindo a aumentar a sua exposição a países como Itália, segundo dados do Banco de Portugal. Mas o risco não fica por aqui. Se continuar a onda de vendas em torno de ativos italianos, também a dívida pública de países da periferia como Portugal e Espanha podem sofrer com o contágio. O mesmo se receia em relação às ações de empresas cotadas. E as Bolsas estão a cair.
“Não me parece que a exposição direta da banca portuguesa à dívida italiana preocupe por si só, embora possa haver surpresas”, disse Filipe Garcia, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiros. “Agora, há que ter em conta duas vias de contágio: uma é o setor a nível europeu, porque problemas maiores em Itália podem atingir alguns bancos e, por reflexo, todo o setor”, apontou. A outra via de contágio “é que Itália é um país latino, endividado e que cresce pouco”. O economista alerta que “é fácil de adivinhar quem seria afetado a seguir, em caso de problemas (mais) sérios em Itália”. “Da mesma forma, o regresso das especulações em torno da saída do euro, também iriam impactar Portugal”.
Itália é o país estrangeiro a que os bancos portugueses estão mais expostos, em termos de dívida pública. No final de 2017, a exposição a Itália era de 1,6% do ativo total da banca em Portugal, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal; em 2010, o peso de Itália no ativo da banca era de apenas 0,2%.
A Caixa Geral de Depósitos, segundo dados relativos a junho deste ano, tinha uma exposição de 993 milhões de euros a dívida italiana. É cerca de 9% da carteira total de dívida pública do banco público. No Banco BPI, Itália pesa 28% na carteira de títulos de dívida soberana de médio e longo prazo. O Novo Banco detém uma exposição de 117 milhões de euros. O BCP tem menos de 1% da sua carteira de títulos de dívida exposta a Itália, abaixo de 100 milhões de euros. O Santander Totta não tem dívida italiana em carteira. Contactados, os bancos escusaram-se a comentar a crise em Itália e os seus efeitos em Portugal. Mas o Dinheiro Vivo apurou que, no caso da CGD, “400 milhões de euros são Bilhetes do Tesouro (curto prazo) e o restante obrigações do Tesouro que estão numa carteira a vencimento, pelo que a sua valorização nas contas não é afetada pela volatilidade do mercado”.
Mamma Mia
No origem da onda de vendas que está afetar os ativos italianos está o posicionamento do governo italiano em relação ao Orçamento do país para 2019. Num braço de ferro com a Comissão Europeia, o governo de coligação da Liga com o Movimento Cinco Estrelas, um partido anti-sistema, mantêm firme a intenção de ter uma meta para o défice público de 2,4% do Produto Interno Bruto.
E o líder da política económica da Liga, Claudio Borghi, acordou o fantasma de uma saída do país da zona euro. O economista eurocéptico afirmou numa entrevista na rádio que Itália beneficiaria de condições económicas mais favoráveis se estivesse fora da zona euro. Borghi acabou por esclarecer em declarações posteriores a vários media que deixar o euro não está no programa do governo italiano. Declarações que não acalmaram a desconfiança dos investidores.
“Os juros das obrigações soberanas italianas a 10 anos estão apenas 0,9% abaixo das gregas: o valor mais próximo desde 2009”, afirmou Alberto Gallo, diretor de estratégia macro da Algebris Investments, num alerta na sua conta da rede social Twitter. E o prémio de risco da dívida soberana italiana não para de subir.
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