O secretário-geral comunista desafiou hoje o Presidente da República a visitar a 44.ª Festa do “Avante!” e “ver para crer”, em vez de “dar uma mãozinha” ao PSD no rol de críticas ao evento devido à pandemia de covid-19.
“O Presidente da República deveria fazer aquilo que [já] fez e visitar a festa – não é novidade, como é sabido -, e ver para crer, em vez de fazer juízos de valor que eu considero precipitados”, afirmou Jerónimo de Sousa, de visita a duas exposições no espaço central do certame político-cultural anual dos comunistas, no Seixal, distrito de Setúbal.
Em setembro de 2015, meses antes de ser eleito chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa passeou pelo recinto das quintas da Atalaia e do Cabo da Marinha, protagonizando inclusive uma reportagem especial em que foi seguido a par e passo pela TVI.
“Talvez queira dar uma mãozinha ao seu partido, que tem encabeçado esta campanha violenta contra a Festa do ‘Avante!’. Não vou aqui abrir nenhuma guerra, mas gostaríamos de ver o Presidente a ver com os seus olhos e tirar as conclusões desta realidade que é a Festa do ‘Avante!’”, afirmou o líder comunista.
Na sexta-feira, o Presidente da República confessou-se “menos otimista” do que a Direção-Geral da Saúde e do que o PCP quanto à realização do evento, acrescentando tratar-se de um problema de “avaliação política”.
Sucessão no PCP por definir
O líder do PCP mantém o mistério sobre a sua continuidade ou não à frente dos destinos do partido, mas insiste que “não há tabu”, “a vida tem a sua dinâmica”. “Tem de haver decisões coletivas, opinião pessoal. Não tenha pressa que isto não será um problema no próximo congresso”, afirmou o secretário-geral comunista há 15 anos e que já leva 44 de festas do “Avante!”, aos 73 anos.
O XXI Congresso Nacional do PCP está marcado para decorrer entre 27 e 29 de novembro, no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures. “Há esta questão importantíssima da decisão do nosso coletivo partidário. Aquilo que posso adiantar é que, em qualquer circunstância, o meu partido pode sempre contar comigo até eu poder”, declarou ainda.
Jerónimo de Sousa, em entrevista à Lusa em março de 2019, admitiu pela primeira vez não se recandidatar à liderança do partido porque “é da lei da vida”, embora frisando não ir “calçar as pantufas” e mantendo-se como militante comunista.
Acordo escrito para nova geringonça “é dispensável”
O secretário-geral comunista considerou ainda que um acordo escrito com o governo minoritário socialista é “claramente dispensável”, ressalvando que o PCP aguarda pelo próximo Orçamento do Estado e está disponível para “dar a sua contribuição”. “Por nós o papel seria perfeitamente dispensável. Só aconteceu [em 2015] devido à insistência do então Presidente da República, que queria o papel, queria o papel, queria o papel, queria o papel”, argumentou o secretário-geral, referindo-se a Cavaco Silva.
Para o PCP, resta saber qual a proposta orçamental que o governo de António Costa irá levar a discussão na Assembleia da República, estando o partido disponível para “dar a sua contribuição”. “Venha a proposta e o PCP está disponível para dar a sua contribuição, numa perspetiva de rutura com o passado e de encontrar as oportunidades de investimento e de desenvolvimento do nosso país”, afirmou Jerónimo.
Questionado sobre as declarações do primeiro-ministro relativas a uma possível crise política caso não exista acordo com a esquerda parlamentar, o dirigente comunista considerou que “procurar uma posição de ameaça não ajuda em nada” e “não contribui para solução nenhuma”. “Creio que isso é uma posição pouco sustentável e era importante que o governo se disponibilizasse para encarar as respostas para o país, para os trabalhadores, para os reformados e pensionistas, para os pequenos e médios agricultores e empresários, esse é que deve ser o caminho”, sustentou.
Jerónimo de Sousa confessou ainda estar “preocupado” com matérias orçamentais, como o aumento “poucochinho” do salário mínimo nacional, insistindo na proposta comunista de 850 euros. O secretário-geral comunista revelou que “é perante os assuntos concretos” que o PCP tomará a sua posição, sublinhando que o partido não está “numa posição meramente reivindicativa, pelo contrário”.
Em julho, o primeiro-ministro lançou o desafio a BE, PCP, “Os Verdes” e PAN, no debate parlamentar sobre o estado da Nação, para entendimentos de longo prazo, à semelhança do sucedido em 2015, com as inéditas posições conjuntas com bloquistas, comunistas e ecologistas. Com Lusa
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