//João Calado. “Vai haver mais famílias sobre-endividadas nos próximos tempos”

João Calado. “Vai haver mais famílias sobre-endividadas nos próximos tempos”

O crescimento dos contratos de crédito ao consumo poderá conduzir a um cenário de sobre-endividamento das famílias portuguesas no curto prazo, alerta o diretor do Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores (GOEC).

“Pela pressão do terem mais despesas de consumo, por causa da subida dos preços que já se está a verificar, as pessoas já estão a cortar no consumo. Há de haver um ponto em que já não conseguem cortar mais no consumo e, com a subida das prestações, pelo facto das taxas de juro terem subido, mas também por estarem a contratar mais créditos para satisfazer essas necessidades básicas que não conseguem satisfazer, com certeza vai haver mais famílias sobre-endividadas nos próximos tempos”, antecipa João Calado.

Em declarações à Renascença, este economista e docente do ISEG recomenda, por isso, que as famílias tenham “muito cuidado nessa decisão de contratar agora créditos para o consumo e ponderarem se não poderão adiar um pouco mais, não poderão fazer mais algum esforço para evitar situações mais graves, que vão ser muito piores de sobre-endividamento excessivo”.

Esta é uma recomendação que João Calado estende ao setor financeiro, ainda que numa perspetiva diferente.

Se às famílias se pede prudência nos comportamentos de consumo que podem levar a um descontrolo das suas dívidas, já à banca o apelo é para evite ceder à ganância dos lucros.

O coordenador do GOEC admite que, “neste momento, as instituições financeiras têm uma certa margem para tentarem aumentar a sua oferta de crédito. E estão a fazê-lo. Não quer dizer que estejam a ser imprudentes, mas, obviamente, concedendo mais crédito, obtêm mais lucros”.

Crédito ao consumo aumentou mais de 46% em cinco anos

Perante a vulnerabilidade das famílias mais desfavorecidas – que são, também, as mais expostas ao incumprimento das obrigações de crédito – João Calado defende que as instituições bancárias façam uma avaliação séria e transparente do perfil de risco dos seus clientes e “moderem a sua ambição de crescerem e de terem mais resultados, não colocando os seus clientes em situação de risco, concedendo créditos que depois não podem ser pagos”.

Bolha de dívida? “O risco está sobretudo do lado das famílias”

Coloca-se, por isso, a questão: o incumprimento das famílias pode trazer de volta o risco de uma bolha de dívida na banca?

“Não vislumbro neste momento uma situação tão grave que leve necessariamente ao rebentamento de uma bolha, como quando tivemos a Troika”, diz João Calado.

No entanto, insiste este especialista, “dada a subida das taxas de juro, dados os elevados níveis de taxa de inflação, as famílias devem ser prudentes e adiar, se possível, algumas decisões de consumo”.

Se bem que, “a minha expectativa é que a taxa de inflação já está a inverter a sua tendência. Eu acredito com essa descida, as taxas de juro vão apresentar também uma tendência de descida. Ainda assim, mesmo que se inverta esta tendência, a verdade é que elas vão continuar em níveis muito elevados em relação àquilo que estávamos habituados”, remata o coordenador do GOEC.

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