O nome de João Ermida para novo chairman da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) não caiu nas boas graças da Associação Mutualista, dona do banco. António Tomás Correia, reeleito neste mês de dezembro para a liderança da Associação, reuniu-se na quinta-feira, dia 20, com João Ermida e Carlos Tavares, presidente executivo da CEMG, apurou o Dinheiro Vivo. No encontro, Tomás Correia terá exposto as dúvidas sobre a escolha de João Ermida para presidir à CEMG.
A Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) não comenta o tema. Mas o Dinheiro Vivo sabe que a dona da CEMG prefere um gestor com um perfil diferente do de João Ermida, que foi tesoureiro global do Santander e também diretor da sala de mercados do BPI, em 2004.
O Banco de Portugal autorizou que Carlos Tavares acumulasse as funções de presidente executivo e chairman na CEMG até ao dia 21 de janeiro. Até lá, tem de ser encontrada uma solução para a liderança do banco. Tavares avançou com o nome de João Ermida mas a Associação Mutualista terá outros planos e não pretende subscrever a proposta do CEO da CEMG.
Em causa estarão dúvidas sobre se João Ermida preenche todas as condições para passar no teste de avaliação de adequação ao cargo por parte do supervisor bancário.
Segundo noticiou o Jornal Económico, a 2 de novembro, o nome de Ermida já tinha sido sugerido para o cargo de CEO da CEMG por Carlos Tavares. Mas o Banco de Portugal não colheu a sugestão. Na solução de gestão proposta por Carlos Tavares, o chairman da CEMG ficaria com poderes reforçados. Já o Correio da Manhã avançou na sua edição de 14 de dezembro que o supervisor bancário tem dúvidas sobre o nome de João Ermida para a função de chairman da CEMG.
O gestor terá primeiro de receber o aval do Conselho Geral da AMMG. Os membros eleitos nas mais recentes eleições só toma posse a 3 de janeiro.
Mas as dúvidas serão muitas e João Ermida poderá não passar no Conselho Geral da maior mutualista do país, que pode preferir uma solução interna.
Experiência adequada?
João Ermida e Carlos Tavares estiveram juntos no Santander. Natural do Porto, Ermida foi ainda administrador do Banco Privado Português (BPP), em 2009, quando o banco estava já em liquidação, e a sua carreira tem passado pela consultoria em investimento.
Entre as dúvidas relativas à sua adequação ao cargo de chairman está o facto de o lugar exigir dez anos de experiência prática relevante recente. Essa experiência deve incluir uma proporção significativa de cargos de gestão de topo, segundo o guia para as avaliações de adequação e idoneidade do Banco Central Europeu.
João Ermida conta no seu currículo recente com o cargo de presidente do grupo financeiro Sartorial, fundado a partir da sua corretora OK2Deal, em 2010. É na Sartorial que se tornou sócio de António Godinho, como noticiou o i no dia 18 de dezembro. Godinho foi candidato à liderança da Mutualista nas duas últimas eleições. Ficou em segundo lugar em ambos os processos eleitorais. Godinho entrou para a administração da Sartorial. O negócio não correu pelo melhor. Em 2015, a Sartorial viu-lhe ser revogada a licença para o exercício da sua atividade de corretagem
Prazo apertado
Certo é que uma solução terá de ser encontrada até 21 de janeiro. O Banco de Portugal não vai permitir que Tavares continue a acumular as duas funções, como acontece desde o início do seu mandato, em março, quando veio substituir José Félix Morgado na liderança da CEMG. A autorização temporária do supervisor surgiu depois de o Banco de Portugal ter chumbado o nome de Nuno Mota Pinto para CEO. O gestor ficou como administrador executivo no banco.
Antes de João Ermida, Carlos Tavares sugeriu o nome de Álvaro Nascimento para o lugar de chairman da CEMG. O nome não reuniu consenso na Associação Mutualista. O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos acabou por ser escolhido para a administração da Sonae MC, que alargou o número de administradores na assembleia geral realizada em outubro.
Carlos Tavares tem vindo a rodear-se de gestores da sua confiança. É o caso de Leandro Silva, seu ex-chefe de gabinete no Ministério da Economia. Leandro da Silva passou pelo Banco Nacional Ultramarino, instituição a que Carlos Tavares presidiu. Tavares também chamou Carlos Alves para liderar a área de risco da CEMG. Alves foi membro do conselho diretivo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o regulador do mercado de capitais do qual Tavares foi presidente. Ambos têm ainda em comum a passagem pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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