A guerra de palavras entre Roma e Bruxelas sobre a proposta orçamental de Itália sobe de tom. E o confronto assusta os investidores no mercado de dívida. A taxa das obrigações italianas a dez anos ultrapassou esta segunda-feira a fasquia de 3,5%, o valor mais elevado desde 2014. A bolsa de Milão desce mais de 2,4%.
O governo italiano propôs, nos planos orçamentais entregues a Bruxelas, um défice de 2,4% para o próximo ano. A resposta dada pelo comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, e pelo vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, numa carta conjunta, é que as metas indicadas por Itália são um desvio significativo do caminho de convergência e uma “preocupação séria”.
A reação dos líderes dos partidos que compõem o governo italiano não se fez esperar. Os líderes do Movimento 5 Estrelas e da Liga, vice-primeiros-ministros do governo, mostram-se irredutíveis. Di Maio vaticinou que as eleições europeias do próximo ano serão um “terramoto” anti-austeridade.
Já Matteo Salvini, líder da Liga, disse estar “contra os inimigos da Europa: Juncker e Moscovici”. Defendeu, citado pelas agências internacionais, que “as políticas de austeridade dos últimos anos aumentaram a dívida italiana e empobreceram o país”. Salvini esteve reunido com Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, para delinearem estratégias para as eleições europeias de 29 de maio.
“A subida das tensões entre a UE e Itália sobre o plano orçamental provocou um tom de aversão ao risco no mercado”, observam os analistas da consultora CreditSights, numa nota a investidores a que o Dinheiro Vivo teve acesso. Além da preocupação sobre as más relações entre Roma e Bruxelas, os analistas e bancos de investimento temem que além das metas do défice de Itália serem altas assentam também em projeções irrealistas.
Os economistas do Deutsche Bank salientaram que existem “elementos questionáveis do plano em que os mercados devem focar a sua atenção nas próximas semanas e meses”. O banco alemão defende que as previsões de crescimento no documento orçamental “aparentam ser demasiado otimistas”.
Também o Capital Economics antevê que os investidores não darão descanso à dívida italiana. “A posição do governo até agora sugere que é improvável que altere os seus planos de forma a levar a uma descida significativa nos seus custos de financiamento”, refere esta entidade de análise numa nota a investidores a que o Dinheiro Vivo teve acesso.
Os especialistas do Capital Economics avisam que o mais provável é que “as taxas da dívida italiana subam ainda mais no próximo ano à medida que as estimativas de crescimento provem estar incorretas e forcem um défice mais elevado que o antecipado pelo governo”.
Salvini respondeu aos alertas vindos do mercado. O vice-primeiro-ministro disse que “os que pensam especular com a economia italiana estão a gastar tempo e dinheiro porque não vamos recuar”.
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