Mais de oito em cada 10 portugueses concordam com a criação de limites ao endividamento que permitam conter os encargos para as próximas gerações, conclui um estudo encomendado pela Fundação Gulbenkian.
Os dados fazem parte de um projecto de investigação sobre justiça intergeracional divulgado esta quarta-feira, em Lisboa.
Mais de metade dos portugueses considera que os decisores políticos não estão a fazer o suficiente pelas gerações futuras. O inquérito teve trabalho de campo da consultora GFK e foi executado no segundo semestre de 2018.
“Se, por um lado, os cidadãos portugueses têm uma preocupação grande com as gerações futuras, por outro lado, reconhecem que os decisores políticos não estão a fazer o que é preciso e manifestam algumas preocupações”, afirma o director do programa Gulbenkian Sustentabilidade, Luís Xavier, em declarações à Renascença.
“Por exemplo, 85% da população considera que a Segurança Social não vai dar às gerações futuras os mesmos benefícios que dá hoje às gerações que se estão a reformar. Os cidadãos consideram que é preciso tomar medidas para defender o bem-estar das gerações futuras. Mais de 80% dos cidadãos concordam com um limite ao endividamento público, a dívida que vai ser paga pelas gerações futuras devia ter um limite”, sublinha.
Apesar de estarem preocupados com as próximas gerações, Luís Xavier assinala que não estão dispostos a fazer sacrifícios.
“Apesar de 77,4% dos inquiridos considerarem que cada geração deve transferir mais recursos do que aqueles que recebeu da geração anterior, quando questionados sobre a possibilidade de enfrentarem mais impostos para que se tenha um meio ambiente sustentável para as gerações futuras, menos de um terço concorda”, conclui o estudo.
A medida que parece ter maior apoio passa pelo encerramento de indústrias poluentes, “mesmo que isso implique menos emprego”.
A maioria dos inquiridos considera que “as gerações futuras devem aprender a viver com menos recursos”.
De acordo com o director do programa Gulbenkian Sustentabilidade, os políticos reconhecem que se faz pouco pelas gerações futuras, mas queixam-se da “falta de estudos concretos” para agir e também da “falta de incentivos políticos”, ou seja, dado que o votante mediano tem mais de 50 anos, existe uma pressão grande para governar para as próximas eleições”.
A Gulbenkian vai lançar uma plataforma para avaliar os programas partidários e as leis do ponto de vista da justiça intergeracional.
Para além de ajudar a identificar desequilíbrios intergeracionais em diversas áreas de política pública que tocam na vida das pessoas, como habitação, mercado de trabalho e impostos, o nosso objetivo é ajudar a impedir desequilíbrios no futuro e avaliar os impactos a longo prazo das políticas públicas, das leis, dos orçamentos do Estado e até dos programas eleitorais dos partidos”, explica Luis Xavier.
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