O financiamento de uma fábrica petroquímica em Sines foi um dos créditos mais ruinosos da Caixa Geral de Depósitos. Mas o presidente do banco público entre janeiro de 2008 e julho de 2011 defendeu essa operação. “A Caixa Geral de Depósitos registou perdas, mas o país beneficiou. O que é que interessa mais”?”, questionou esta sexta-feira na II Comissão Parlamentar de Inquérito à recapitalização e gestão do banco público.
O banco público financiou a La Seda com a expectativa que o grupo catalão construísse uma fábrica de matéria-prima para a indústria de plásticos e, mais tarde, montou também operações para financiar a construção dessa infraestrutura. O grupo catalão acabaria falido e a CGD terá assumido, no final de 2015, perdas de mais de 200 milhões de euros, segundo uma análise preliminar feita pela EY. Financiou ainda acionistas da La Seda e participou em aumentos de capital dessa cotada catalã em investimentos que terão superado os 500 milhões de euros.
Culpa das perdas foi da crise
No entanto, Faria de Oliveira defende que “a racionalidade do projeto é evidente”. Após registar as perdas, a CGD vendeu no final de 2017 a fábrica da Artlant à empresa tailandesa Indorama Ventures. “Vamos ter uma participação nas exportações portuguesas, 400 postos de trabalho diretos e indiretos e um contributo significativo para a economia nacional”, defendeu.
O antigo presidente da CGD atribuiu o falhanço nesse projeto à crise internacional, aos problemas que aparecerem na gestão e entre acionistas da La Seda e da correção nos mercados internacionais da matéria-prima que iria ser produzida na fábrica, o ácido tereftálico purificado (PTA). “Foi o período mais crítico da maior crise financeira dos últimos 100 anos. Correu mal porque a crise demorou muito mais tempo” que o expectável.
CGD instada a apoiar La Seda
Faria de Oliveira sublinhou que o projeto da Artlant em Sines foi classificado como de interesse nacional. “Era um compromisso do Estado português assumido ao ter a classificação de empreendimento de PIN”, disse o antigo responsável do banco. Sublinho que o estatuto do gestor público define que se deve assegurar as orientações definidas pelo Estado. E revelou que “a CGD foi mais do que uma vez instada a participar neste empreendimento”.
No entanto, não respondeu diretamente às questões da deputada do CDS, Cecília Meireles, sobre quem no governo de José Sócrates o instou a apoiar o projeto da Artlant. “Foi definido numa reunião no ministério da Economia”, disse. Essa reunião ocorreu em 2010 com Vieira da Silva e confirmou a decisão indicada por Manuel Pinho, que liderou o ministério entre 2005 e 2009. No entanto, Faria de Oliveira disse que não lhe foi dada “nenhuma ordem” por parte de Vieira da Silva.
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