O prémio Leading Together distingue as empresas do PSI-20 que mais fazem pelo equilíbrio de género na liderança. A Sonae Capital, vencedora em 2019, ficou, este ano, em 2º lugar. A Galp surge em 3º
Com 30% de mulheres no conselho de administração e 50% na liderança executiva, a Sonae SGPS é a empresa do PSI-20 que mais tem feito pela promoção da igualdade de género nas posições de liderança e foi, este terça-feira, distinguida com o prémio Leading Together. Em segundo lugar no ranking que avalia a promoção de lideranças equilibradas no principal índice bolsista nacional está a Sonae Capital, a vencedora do galardão em 2019, na primeira edição desta iniciativa, sendo que o terceiro lugar é ocupado pela Galp.
A Ibersol, sem qualquer elemento feminino quer a nível executivo quer no conselho de administração, é a que ocupa o último lugar do ranking, seguida pela EDP Renováveis, pela Navigator e pela Mota-Engil, empresas que não têm qualquer mulher na liderança executiva e em que estas representam, apenas, 20, 21 e 24% dos lugares do conselho de administração, respetivamente.
Em Portugal, de um total de 76 administradores executivos das empresas do PSI-20, apenas oito são mulheres. Mas a situação tem melhorado: o ano passado eram seis mulheres em 78 administradores executivos, sendo que, nos últimos cinco anos, só cinco empresas tiveram sempre uma mulher, pelo menos, como administradora executiva.
Lançada pela Associação de Alumni do INSEAD, em parceria com a consultora Mckinsey e a Nova Shool of Business and Economics, a iniciativa Leading Together pretende, como o nome o indica, promover lideranças equilibradas, em termos de género, nas posições de topo das empresas. Liderada por Catarina Soares e Joana Freitas, o projeto nasceu em Portugal, em 2019, mas com o objetivo de se expandir internacionalmente, já que a “diversidade de género traz benefícios para as organizações, incluindo níveis de criatividade mais elevados, maior satisfação dos clientes, melhor retorno ao investimento e melhoria do desempenho”.
O vencedor da segunda edição do Prémio Leading Together foi anunciado no final do webinar sobre o preconceito inconsciente, “um dos maiores travões da diversidade”, e que juntou, numa mesa redonda virtual, os CEO da Sonae SGPS, Cláudia Azevedo, dos CTT, João Bento, e da SIBS, Madalena Tomé. Contou, ainda, com uma intervenção de Isabel Ucha, CEO da Euronext Lisbon, que analisou as temáticas do equilíbrio de género na corporate governance e nos mercados. Cláudia Azevedo lembrou que o grupo anunciou, o ano passado, a implementação de um plano para a igualdade de género, plano esse que deveria ter arrancado em março, com uma série de iniciativas, mas que foi prejudicado pela pandemia. Vai, agora, começar em julho. “Queremos sobretudo ouvir as pessoas. Quero perceber o que está em causa, porque é que temos 60% de mulheres à ‘entrada da Sonae, e porque é que se perde 10% das mulheres por escalão”, explicou.
Das muitas medidas já implementadas, destaque para a retirada de referências no anúncios de recrutamento a qualquer coisa que possa desencorajar as mulheres de se candidatarem, mesmo sem conhecerem os termos globais da oferta – era o que acontecia, por exemplo, quando a referência à disponibilidade ao fim de semana retirava mulheres de se candidatarem aos cargos de chefia das lojas, por acharem que tinham que estar disponíveis em todos os fins de semana -, ou para a obrigatoriedade de incluir, a partir de um determinado nível hierárquico, de um currículo feminino no processo de candidatura ou promoção interna. “O recrutamento na Sonae será sempre decidido por mérito, mas ter uma mulher na fase final é ter a certeza que haverá, pelo menos, uma mulher para ouvir”, defendeu Cláudia Azevedo, para quem “empresas com mais mulheres são melhores empresas”. E, por isso, a prioridade não é, apenas, recrutar as mulheres, é, também, “retê-las e acarinhá-las”, identificado e lutando contra todas as formas de preconceitos. “Que as mulheres também têm, não são exclusivos dos homens”, diz.
Com 24% de mulheres nas primeiras linhas de gestão, os CTT têm a ambição estratégica de chegar à igualdade de género, com João Bento a assumir-se um defensor das quotas nas estruturas dirigentes. “Não é suficiente sermos cuidadosos no recrutamento e no tratamento de forma igual, temos mesmo que forçar a situação. As quotas são feias, mas são a solução menos má para atingirmos a diversidade, tão positiva para as organizações”, defende.
Para este responsável, o aspeto mais importante, após o estabelecimento de uma meta, de uma ambição, “é levá-la a sério”, tirando partido das quotas, mas é, também, criar condições de flexibilidade que permitam ajudar a criar uma verdadeira “igualdade de oportunidades”. E, por isso, nos CTT, das 2500 pessoas que estiveram a trabalhar em teletrabalho durante o estado de emergência, só metade regressaram aos escritórios. O objetivo da empresa é estabilizar o teletrabalho nos 25%, em regime de rotação, de modo a dar mais flexibilidade aos funcionários na gestão da sua jornada de trabalho.
Já Isabel Ucha garante que a diversidade em geral e a de género em particular são hoje “elemento crítico” para uma “prática de governo de gestão de recursos eficaz, eficiente e sustentável”, e que a Euronext, uma empresa com um grande peso tecnológico e financeiro, “dois mundos onde a igualdade de género não tem um bom histórico”, tem vindo a realizar “enormes progressos” a esse nível, contando já com um terço de mulheres nos seus órgãos sociais. Mas o progresso está, também, a dar no mercado de capitais, diz: “Aqui também há sinais positivos e de esperança, porque os investidores estão cada vez mais exigentes em relação aos critérios de sustentabilidade na construção dos seus portefólios e os critérios da diversidade de género fazem parte dos indicadores sociais para que olham com muita atenção, forçando esta evolução de forma muito intensa”.
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