O Porto de Leixões, infraestrutura essencial para o comércio externo da região norte, poderá perder competitividade caso não arranque com celeridade a obra do terminal de fundos para receber navios com calados a -14 metros. “A nossa economia está a ser sacrificada por falta de capacidade” da principal infraestrutura portuária do norte, além de que “já perdemos três linhas e houve dois armadores chineses que não se conseguiu captar” por incapacidade em receber navios de grandes dimensões, alerta Jaime Vieira dos Santos, presidente da Comunidade Portuária de Leixões.
E as críticas continuam: “Em contentores, Leixões é o grande porto exportador do país. Os 18 dos municípios portugueses com maior carga exportadora estão aqui no norte e é daqui que saem contentores para 182 países no mundo. Vamos ter um problema tremendo com as nossas exportações se houver constrangimentos em Leixões. Ao mínimo abanão logístico as indústrias podem ficar numa situação difícil.” Vieira dos Santos reforça com o exemplo da Maersk, o maior armador que faz escala em Leixões, que já tem navios a operar com sérias dificuldades de movimentação e há inclusive embarcações que, pela sua dimensão, já não passam a ponte de Leixões.
Para o responsável, é preciso responder com rapidez e eficácia a esta urgência, e isso passa por obras no cais sul de Leixões, local onde seria necessário uma intervenção de aprofundamento para 15 metros e assegurar espaço no terminal de parqueamento para a operação. Nas suas contas, a empreitada rondaria os 50 milhões de euros e poderia estar concluída em dois anos. Este projeto não segue a linha defendida pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, que tem advogado a construção de um novo terminal de fundos. Os custos “podem quadruplicar” em relação aos valores de investimento no cais, sublinha Vieira dos Santos.
E se a questão do investimento, que deverá ser realizado com dinheiros públicos e privados, parece não ser o cerne do problema, a dificuldade em passar das ideias à prática tem levantado polémica entre as entidades envolvidas na vida do Porto de Leixões. “Há mais de sete anos que andamos a discutir, as reuniões são fantásticas, mas temos é de dar resposta a um problema que vem do passado e prepararmo-nos para a próxima década”, frisa o presidente da comunidade. Na passada semana, Ana Paula Vitorino fez saber que o novo terminal (que permitirá receber navios de cinco mil toneladas) estará concluído em 2023, antecipando em um ano o estabelecido no plano estratégico para Leixões.
Segundo Guilhermina Rego, presidente da APDL – Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, o terminal de fundos será construído na zona sul do porto, junto ao terminal de passageiros. O local escolhido levanta sérias dúvidas a Vieira dos Santos. “Tratando-se de um concessão e desconhecendo a forma como vai concertar-se o novo terminal com o ro-ro [entrada e saída de mercadoria e/ou contentores pelos seus próprios meios] que lá opera também, e ainda como vai harmonizar-se com o porto de pesca, olho com apreensão a localização”, diz. O responsável acrescenta a equação futuro.
Se hoje é essencial dar condições de atracagem a navios de maiores dimensões, essa necessidade poderá estar ultrapassada daqui a uma década ou pouco mais. O comércio eletrónico e a alteração do paradigma da produção a nível mundial poderão implicar uma desmaritimização dos portos a favor de maior maior resposta logística em terra. “Quando o mercado está em transformação, a prudência é o mínimo exigido”, “podemos voltar aos navios mais pequenos, onde a escala já não é importante, mas a frequência”.
A APDL quer lançar neste ano os concursos para o prolongamento do quebramar em 300 metros e aprofundamento da bacia de retenção, essenciais para a entrada de navios de maiores dimensões no porto, mas precisa de mais um aval da Associação Portuguesa do Ambiente. Em curso estão as obras de ampliação e modernização do terminal de contentores sul, projeto orçado em 43,6 milhões de euros, e que deverão estar concluídas em 2020.
Deixe um comentário