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A Linha de Leixões poderá voltar a ter comboios de passageiros nos próximos anos. Para que isso aconteça, contudo, a linha de cintura do Grande Porto terá de ser duplicada. Este é o entendimento do presidente da CP, Nuno Freitas, e do secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado.
Em entrevista ao Dinheiro Vivo, a CP revela ainda que quer fazer viagens diurnas para Madrid, em vez do comboio-hotel.
A ligação ferroviária entre Contumil e Leixões contou com um serviço de passageiros entre 2009 e 2011. No entanto, os comboios da CP só circularam dois anos nesse troço porque faltou fazer a ligação com três linhas do Metro do Porto (vermelha, verde e amarela). Além disso, ficou por construir a estação ferroviária de Leixões, a cerca de 200 metros do terminal do metro de Senhor de Matosinhos.
“Esta infraestrutura tem potencial, sem dúvida, mas precisa de ser adaptada à geografia atual dos transportes no Grande Porto”, refere o presidente da CP.
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Do lado do governo, Jorge Delgado concorda com a posição da transportadora e entende que, “provavelmente, a linha de Leixões terá de ser duplicada” para voltar a funcionar. O que “não invalida que haja um plano transitório para reabrir em via única”.
A linha de Leixões “pode ter o mesmo potencial” que a linha de Cintura de Lisboa, que liga Braço de Prata a Alcântara-Terra, segundo o presidente da CP. Nuno Freitas entende também que é necessário construir uma estação no polo universitário da Asprela e que pode captar os comboios com destino a São Bento, mesmo junto aos Aliados.
Em tempos líder do Metro do Porto, Jorge Delgado recorda que “quem mora em Vila do Conde ou na Póvoa de Varzim, só tem duas opções para ir para a Asprela: ou vai de carro ou tem de apanhar a linha do metro verde ou vermelha até Campanhã, onde passa para a linha amarela”.
Com um interface entre o metro e a linha de Cintura em Leixões, “esta viagem demoraria menos de metade do tempo”.
O regresso da linha de Cintura também traz vantagens para quem se desloca de Gaia. “Basta um terminal na Asprela para que os estudantes passem a usar o comboio para chegar à universidade ou ao hospital. Além disso, os comboios vindos da Linha do Norte deixam de perder tanto tempo a inverter marcha em Campanhã”, assinala Nuno Freitas.
A aposta no serviço de passageiros na linha de Leixões será um dos temas do lançamento do Plano Ferroviário Nacional, que será discutido ao longo de 2021.
De dia para Espanha
Mais depressa, Portugal voltará a ter comboios para Madrid. Pelo menos, esse é o desejo da CP, que está a negociar, há nove meses, com a congénere espanhola Renfe o regresso do comboio-hotel Lusitânia, entre Lisboa e Madrid, e do Sud Expresso, entre Lisboa e Hendaye (França).
Sem interesse da Renfe em voltar a ter comboios noturnos, a transportadora portuguesa pôs em cima da mesa a circulação de um comboio diurno entre as capitais de Portugal e Espanha. Apesar de a viagem completa demorar cerca de 8 horas e 30 minutos, “pode atrair passageiros que queiram deslocar-se entre Guarda e Madrid ou entre Salamanca e Lisboa, graças aos bilhetes mais baratos”, acredita Nuno Freitas.
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O presidente da CP também chegou a sugerir que houvesse um subsídio do Estado para que os comboios internacionais não provoquem prejuízos à transportadora. Mas como este serviço não consta do contrato com o Estado, “pode ser considerada uma ajuda pública”, violando as regras europeias da concorrência, receia Jorge Delgado.
Anualmente, segundo Nuno Freitas, o comboio-hotel tem registado um prejuízo próximo dos seis milhões de euros. “Seis anos desta operação davam para reabrir o troço Pocinho-Barca d”Alva”, nota o líder da CP.
Douro até à fronteira
O percurso mais próximo de Espanha da linha do Douro está encerrado desde 1988, depois de os comboios terem deixado de circular em 1985 entre Salamanca e a fronteira. Espanha não tem manifestado vontade de reabrir esse troço. Em Portugal, Nuno Freitas reafirma a importância da linha ferroviária que percorre aquela região, que é património mundial da Unesco.
“O Douro é uma das poucas marcas mundiais que Portugal tem. Não são os tuk-tuks que nos diferenciam.” Reabrir aquele troço, sem eletrificação, custaria 43 milhões de euros, segundo um estudo da Infraestruturas de Portugal, “com a Comissão Europeia a poder financiar quase tudo”.
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Esse seria o único investimento necessário, garante Nuno Freitas. “São mais 45 minutos de viagem e, no limite, só precisamos de acrescentar uma locomotiva a diesel para ajudar na rotação. Do lado da CP, é um investimento residual.” Com cada vez mais hotéis e quintas de cinco estrelas, “reabrir a linha do Douro até à fronteira seria diferenciador para atrairmos turistas com dinheiro”.
Jorge Delgado reconhece que “tem de se avaliar” o cenário de reabertura. “Seria muito mais fácil reabrir a linha com a ajuda do lado espanhol”, nota o secretário de Estado das Infraestruturas. Dentro do governo de António Costa, a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, já manifestou também a vontade de reabrir esse troço à circulação para ajudar a captar mais visitantes para a região.
Limpeza da dívida
O ano que agora começa também ficará marcado pela reestruturação da dívida histórica da CP, de 2,1 mil milhões de euros. “Está previsto que a dívida da CP seja reduzida no primeiro trimestre de 2021”, refere Jorge Delgado, que pretende cumprir o que está estabelecido no contrato de serviço público com o Estado.
“Grande parte da dívida” da empresa é ao próprio Estado, através do IGCP, no montante de 1,6 mil milhões de euros. A este corte de 76% poderá acrescentar-se ainda a redução da dívida junto dos privados, no montante de 500 milhões de euros.
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“Vamos tentar que seja o valor máximo possível, dependendo das condições de financiamento dos vários bancos”, assinala o secretário de Estado das Infraestruturas. O processo está a ser conduzido pelas Finanças, que também tutelam a transportadora desde os anos da troika.
Com o saneamento da dívida, “é possível que a CP reúna as condições” para ganhar autonomia junto do Estado, diz Nuno Freitas. “Isso é fundamental, porque uma empresa desta dimensão e complexidade tem de estar constantemente a pedir autorizações de despesas para vários anos.”
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