//Livrarias. “Continuamos a engordar os maiores”, diz livreiro de Seia

Livrarias. “Continuamos a engordar os maiores”, diz livreiro de Seia

No concelho de Seia, há meia dúzia de livrarias, mas a de Paulo Caetano é a única dedicada às obras de inspiração cristã. Aos 50 anos, é funcionário público e dois filhos. A esposa é a única funcionária a tempo inteiro da livraria que, agora, está vazia de gente, mas cheia de livros.

São 250 obras distribuídas por 60 metros quadrados, que enchem as estantes da livraria Galeria Paz de Espírito, que também vende artigos religiosos, escolares e administrativos, e foi fundada a 1 de fevereiro de 2008.

“Nós podíamos estar abertos para vender canetas e fotocópias, mas isso não cobria as despesas mensais, que rondam os 800, 900 euros”, diz o proprietário.

Apoios deste confinamento são “injustos”

Paulo garante não ter direito a apoios do Estado. “Perante as regras que o Governo definiu e nós analisámos juntamente com o contabilista, como são empresas em nome individual, entra o rendimento do agregado familiar, o que é injusto, porque havendo um salário na família não cobre as despesas familiares e também as da empresa”.

“As regras não foram corretas. Se, na primeira vaga, recebemos algum apoio da Segurança Social, agora, mediante estas novas regras, não vamos receber apoios”, contesta.

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“A esposa é que está à frente. Um salário para quatro pessoas e ainda pagar as dívidas da empresa, não é possível e na primeira vaga recorremos aos empréstimos da Covid e estamos a liquidá-los”, explica.

“Ao menos, o Estado podia dizer: não damos apoios, mas não pagam a Segurança Social”, refere, enaltecendo o apoio autárquico: “a Câmara está a dar um apoio para as rendas e já é uma ajuda, no sentido de motivar”.

“A engordar os maiores”

Editor e livreiro, Paulo Caetano, sócio gerente, lamenta continuar de portas fechadas.

“Continuamos a engordar os maiores. Considero injusto os pequenos negócios continuarem a ser os mais afetados, porque não temos uma estrutura que aguente estar fechado há um mês. Estando fechados, continuamos a pagar a Segurança Social, temos de cumprir com as nossas obrigações”, diz, apontando o dedo à “força do lobby das grandes superfícies sobre o pequeno comércio”.

“Acho que, quer o Governo quer o Presidente da República estiveram mal. Foi a pressão dos grandes supermercados, porque vai-se comprar fruta, pode-se comprar um livro, não estamos contra, mas permitam-nos estar ao nível da igualdade das grandes superfícies. Isso é democracia, fazer o que é igual para todos”, conclui.

Esta semana, a venda de livros voltou a ser permitida em supermercados, mas as livrarias continuam de portas fechadas.

“Dos fracos não reza a História”

Por enquanto, a livraria Paz de Espírito continua encerrada, ainda que os pedidos de reabertura sejam recorrentes, até porque a livraria já não é só uma livraria. “Há duas horas, ligou-me uma senhora, porque somos um agente ‘payshop’, queria pagar as contas de água e luz”, conta Paulo Caetano.

Perante um cenário de dificuldades, o sócio gerente recusa cruzar os braços. “Passa-nos tudo pela cabeça, mas temos de ser mais fortes. Acreditamos que dos fracos não reza a História. Nós, no Interior, estamos mais habituados, queremos resolver algum problema, temos sempre de sair para Coimbra, Lisboa ou Porto; estamos habituados a não resignar e ir à procura de soluções”, argumenta o livreiro e editor.

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Na opinião de Paulo Caetano, “a felicidade das pessoas só é possível com um desenvolvimento integral”, onde estão incluídos os livros e as conferências que dinamizam.

“Promovemos as jornadas do conhecimento, com oradores e conferencistas como o Tolentino Mendonça. Queremos que, aqui no Interior, haja um espaço onde as pessoas se sintam bem e possam comprar um livro ou algo para recordar, queremos marcar a vida das pessoas”, defende, em declarações à Renascença.

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