Paes Mamede explica que o Estado já regula muitos aspetos da vida interna das empresas. “Não vejo nenhum problema de princípio que impeça que se possa regular também aquilo que são as discrepâncias salariais”, defende.
Ou é para todos ou não é para nenhum
A tese não é comprada por Luís Aguiar-Conraria. O economista defende que a medida ou se aplica a todos, ou então pode gerar situações absurdas.
Dá um exemplo prático: “Imaginemos que temos um teto salarial na Sonae. Querem pagar cinco milhões de euros por ano, mas que apenas é legal pagar um milhão de euros. Então, a Sonae pode fingir que tem uma equipa de futebol que joga nas regionais do Porto, e paga ao CEO quatro milhões de euros”.
O diretor do Departamento de Economia e professor catedrático na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho repete que a discussão lhe parece “um pouco absurda”, se só se aplicar a gestores de topo das empresas.
“Se queremos falar de limites salariais para todas as profissões tudo bem, para uma só profissão parece-me inconstitucional”, concretiza.
“Não há nada de particularmente absurdo na ideia de que deve haver equilíbrio salarial dentro das empresas”, Ricardo Paes Mamede
Em França, no fim de semana passado, o Presidente francês, Emmanuel Macron, considerou “chocante e excessivo” o valor “astronómico” do salário do presidente executivo do grupo automóvel Stellantis, o português Carlos Tavares, e afirmou-se a favor de “tetos” de remuneração ao nível da União Europeia.
“Devemos liderar o combate [ao nível] europeu para que tenhamos uma remuneração que não possa ser abusiva”, disse Emmanuel Macron, que é candidato à reeleição no cargo, na segunda volta das eleições presidenciais em 24 de abril.
Em declarações à rádio France Info, o Presidente francês defendeu que é preciso avançar no estabelecimento de “tetos” de remuneração salarial, através de uma governança ao nível da Europa “que torne as coisas aceitáveis, caso contrário, a sociedade, em algum momento, explode”.
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