Quase dois terços das empresas portuguesas não antecipam a recuperação da atividade até ao final do ano, com 61% a esperarem reduções nas vendas e prestações de serviço que, em termos médios, deverão ainda rondar os 40% ao longo dos próximos quatro meses. Apesar disso, a resposta não passará na maior parte dos casos por cortar nos planos de investimento ou nos quadros de colaboradores, apontam os dados de um novo inquérito promovido pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP) divulgado esta segunda-feira.
O oitavo estudo da organização em parceria com o ISCTE para sentir o pulso empresarial sob impacto da pandemia ouviu desta vez 658 empresas, com maior representatividade dos sectores de indústria, energia, serviços e comércio. Tratou de inquirir sobre as expetativas para o futuro próximo, ou seja, para os meses que correm até ao final do ano.
Nos resultados, destaca-se a intenção por parte de 69% das empresas que responderam de manter o quadro de colaboradores, havendo ainda 10% que pretendem aumentá-lo. Um quinto, 21%, antecipa no entanto a redução do pessoal – a atingir, em termos médios, 27% dos quadros.
Já no que diz respeito aos planos de investimento, os dados divulgados pela CIP indicam que 44% dos negócios querem manter tudo como está, com outros 17% a referirem o objetivo de aumentar, aliás, o investimento (numa média de 34%). Há, porém, 39% das empresas que pretendem fazer um corte nos planos de investimento – em termos médios, atinge os 54%, ou seja, implica investir menos de metade do que planeavam.
Propostas para o Orçamento na quarta-feira
Para a CIP, os números deste último inquérito “Sinais Vitais” traduzem expetativas baseadas em “promessas”, segundo o vice-presidente Armindo Monteiro, que argumentou que as medidas apresentadas pela organização junto do governo “têm sido ou pouco acolhidas, ou acolhidas em partes muito pouco substanciais”. “Temos promessas de que vai haver esforço, mas quando as promessas não se materializam passa a haver uma esperança apenas fundada em miragens e, naturalmente, essa esperança também morre”.
“As expetativas têm de ser baseadas em algo mais tangível, e até ao momento isso não foi possível”, defendeu o responsável da organização que quarta-feira irá apresentar publicamente propostas ao governo para a elaboração do Orçamento do Estado de 2021.
A CIP quer também orientações claras sobre o que o governo pretende para a distribuição dos fundos europeus do próximo ano, e onde o investimento das empresas será determinará parte da resposta em termos de absorção efetiva dos valores, algo que será traduzido no Plano de Recuperação e Resiliência nacional que o governo deverá discutir já na quinta-feira em Conselho de Ministros. “Temos de saber onde vão ser aplicados, de que forma, em que timing e que vão chegar, quais são os objetivos prioritários, quais são os sectores que se pretende privilegiar”, afirmou o vice-presidente da CIP.
Além disso, a CIP retoma a contestação ao plano do governo de impor uma subida do salário mínimo em 2021, numa subida “com significado”, mas também com “equilíbrio” relativamente à situação das empresas afetadas pela pandemia, segundo insistia na última semana o ministro das Finanças, João Leão.
Para a confederação liderada por António Saraiva, qualquer proposta que o governo ponha na mesa será “um valor de compromisso”. “Sob o ponto de vista prático, sustentado em variáveis económicas, não é possível. Com uma economia a descer, com uma produtividade a descer, com o volume de negócios a descer, com encomendas a descer, já é um esforço grande manter postos de trabalho. Aumentar mais a remuneração do fator trabalho só pode ser entendido com factores extra racionalidade económica”, defendeu Armindo Monteiro.
12% mantêm trabalhadores com redução de horário
Para já, o inquérito da CIP mostra um dado positivo, com 84% das empresas de regresso à atividade plena. Mas 54% dos negócios continuaram a apontar quebras nas encomendas em agosto, com 31% a reporem a atividade anterior, e 15% a darem conta de um aumento no mês passado.
Também nas encomendas em carteira a 1 de setembro, 44% das empresas veem uma diminuição do volume, contra 25% que mantêm o nível na antecipação de vendas e 9% que reportam subidas. Para 22% dos negócios, contudo, a questão não se aplica, já que é praticamente apenas a indústria que consegue antecipar vendas futuras.
A avaliação das empresas aos apoios mobilizados pelo Estado continua também a ser tendencialmente mais negativa neste inquérito, com 42% a considerarem nada ou pouco adequadas as medidas tomadas até aqui.
Os dados apontam que nesta altura apenas 12% das empresas ouvidas no inquérito mantêm trabalhadores com horários reduzidos, na maioria dos casos com recurso ao sucessor do lay-off simplificado, o apoio extraordinário à retoma progressiva São 60% dos que ainda mantêm as medidas. Outros 37% permanecem com o lay-off simplificado, e 3% recorrem ainda ao lay-off previsto no Código do Trabalho.
Também o incentivo à normalização da atividade, com um valor de apoio de até 1270 euros para as empresas após o fim do lay-off, só foi pedido ainda por 17% das empresas inquiridas.
Já as linhas de crédito com garantias de Estado têm sido recurso para 42% das empresas, com três quartos daquelas que pediram a ajuda a confirmarem ter recebido financiamento. As restantes não obtiveram os empréstimos, segundo os dados da CIP.
Atualizado às 18h22
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